Governo teme pacto de Trump e Bolsonaro para 2026; dossiê alertou Lula
A decisão do Palácio do Planalto de soltar rapidamente uma mensagem ao presidente eleito Donald Trump foi tomada para se evitar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse acusado de não querer reconhecer uma relação com o republicano. A nota, assim, tenta neutralizar a narrativa bolsonarista que, nos últimos dias, vinha usando a preferência de Lula por Kamala Harris para acusar o presidente.
Mas, no Palácio do Planalto, o temor principal é de que a vitória de Trump "ressuscite", pelo menos na narrativa, o projeto de resgatar a candidatura de Jair Bolsonaro para 2026. Ele foi condenado e está inelegível. Para autoridades em Brasília, mesmo que não haja como modificar a situação do ex-presidente, a pressão promete desgastar tanto o sistema eleitoral brasileiro, alimentar a base mais radical do bolsonarismo e abalar a relação entre Brasília e Washington.
Três membros do alto escalão do governo Lula ainda apontam que a vitória de Trump poderia ampliar a pressão para desqualificar os atos de 8 de janeiro de 2023, na Praça dos Três Poderes.
No começo de setembro, uma delegação do governo Lula viajou até Washington DC para conversar tanto com interlocutores democratas como republicanos. A ideia era entender quais poderiam ser os cenários ao país. O resultado da viagem foi o envio ao Palácio do Planalto de um relatório com alertas claros sobre os riscos de uma eventual vitória de Trump.
A conclusão era de que o impacto da vitória do republicano seria profundo para a política externa nacional.
Coube ao chanceler Mauro Vieira entregar o dossiê com essas informações ao presidente Lula, inclusive com detalhes sobre o que cada eventual ministro de um governo republicano poderia significar para os interesses nacionais.
O que ficou claro era que, mesmo numa relação comercial madura e com bilhões em investimentos em jogo, os riscos eram elevados.
Eduardo Bolsonaro está nos EUA
Nesta semana, Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, acompanhou a apuração na eleição americana ao lado da família de Trump, um sinal interpretado na diplomacia brasileira como um indício de que poderão existir dois trilhos na relação bilateral: um deles entre as instituições de Estado; mas outro, tão ou mais forte, entre o bolsonarismo e os conselheiros de Trump.
A preocupação é que isso se transforme em uma operação para criar uma pressão sobre as instituições brasileiras, inclusive com ameaças veladas ou mesmo explícitas.
A partir do dia 11 de novembro, uma delegação de parlamentares bolsonaristas planeja uma visita aos EUA, com o objetivo de articular com a ala mais radical do partido republicano uma pressão sobre as instituições brasileiras.
O UOL obteve confirmações de que a notícia da viagem da missão já chegou a membros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O temor no Palácio do Planalto, conforme a reportagem revelou com exclusividade na semana passada, é de que uma vitória de Trump transforme a Casa Branca numa espécie de centro nevrálgico de operações de fortalecimento de grupos de extrema direita pela América Latina, inclusive no Brasil.
Neste final de semana o UOL ainda revelou com ex-conselheiros de Trump chegaram a desenhar um projeto no qual falam abertamente da necessidade de usar recursos da ajuda ao desenvolvimento dos EUA para financiar grupos contrários aos movimentos de esquerda na América Latina.
A viagem deve envolver parlamentares como Marcel Van Harten e Bia Kicis, além de uma meia dúzia de outros membros da base bolsonarista.
A retórica, já amplificada por figuras como Elon Musk, teria como objetivo minar a credibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) e justificar os ataques às instituições brasileiras, como os ocorridos em 8 de janeiro de 2023.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberHá poucos meses, um grupo de parlamentares republicanos nos Estados Unidos - incluindo a deputada Maria Elvira Salazar, o senador Rick Scot e o deputado Christopher H. Smith - enviou uma carta ao Secretário de Estado Antony Blinken solicitando a revogação de vistos e a negação de entrada aos ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes.
Além disso, essa ofensiva é reforçada pela introdução do projeto de lei No Funding or Enforcement of Censorship Abroad Act, que busca cortar o financiamento de iniciativas que combatem a desinformação e limitar a cooperação entre agências americanas e brasileiras.
Membros do governo alertam que esses atos demonstram uma tentativa de deslegitimar o trabalho das instituições democráticas brasileiras.
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