Caos eleitoral venezuelano é o mesmo que Bolsonaro tentou no Brasil
O que estamos assistindo na Venezuela é o caos eleitoral que Jair Bolsonaro tentou mas não conseguiu produzir no Brasil. Bolsonaro et caterva pretendiam intervir à força para prender o ministro Alexandre de Moraes e trocar a Justiça eleitoral por um bando de apaniguados. É o que previa a chamada "minuta do golpe" encontrada na casa do então ministro da Justiça de Bolsonaro.
À semelhanças da bagunça vista na eleição Venezuelana do último domingo, os nomeados por Bolsonaro para coordenar a votação seriam os únicos responsáveis por anunciar o resultado do pleito. E poderiam fazê-lo sem provas materiais se quisessem. É o que está acontecendo na Venezuela. As semelhanças continuam.
As urnas eletrônicas venezuelanas imprimem o recibo do voto de cada eleitor com o nome de em qual candidato ele votou. O votante pode depositar o recibo numa urna. Tudo muito parecido com o que Jair Bolsonaro queria. Esses recibos não apareceram até agora. Ninguém sabe se vão aparecer. Mas a bagunça é maior.
Os boletins de urna que, como no caso das urnas brasileiras, são gerados ao final da votação em cada seção eleitoral e enviados à central de totalização não apareceram até agora. Eles são a prova material de quantos votos cada candidato recebeu em cada urna. É o que os presidentes do Brasil, Estados Unidos e Colômbia estão cobrando que sejam publicados, sem sucesso.
Três dias após o encerramento da votação, o Conselho Eleitoral Nacional da Venezuela não apresentou nem sequer o número total de votos recebidos pelos candidatos em 100% das urnas. Seu site está fora do ar desde a eleição (supostamente por causa de um ataque hacker).
Os únicos números divulgados pelo Conselho dizem respeito a apenas 80% das urnas. Mas nenhuma prova, nenhum boletim foi divulgado para dar suporte a esse anúncio.
Para piorar, os números absolutos divulgados para a votação de Maduro, 5.150.092 votos, têm uma coincidência preocupante, que sugere terem sido "calculados" a partir da taxa de 51,20% dos votos válidos divulgada pelo Conselho - e não o contrário, como teria que ser.
A chance de a dízima periódica resultante da divisão dos votos de Maduro pelo total de votos em candidatos ser a mais próxima do arredondamento encontrado, como foi, é de 0,0001%.
Tudo isso se soma a uma série de problemas graves que ocorreram antes e durante a votação.
Contrariando a lei, fiscais dos partidos de oposição ao presidente Nicolás Maduro não conseguiram entrar em todas as seções de votação, e, mesmo os que conseguiram foram colocados para fora antes de a eleição terminar, em vários lugares, segundo a oposição.
Antes disso, candidatos de oposição foram presos ou impedidos de terem seus nomes na urna.
Se isso tivesse acontecido no Brasil, se Bolsonaro tivesse conseguido transformar a minuta em decreto do golpe, poderíamos considerar o Brasil uma democracia?
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