No Titanic de Bolsonaro, afunda a orquestra das Forças Armadas
O naufrágio do Titanic tornou-se, com o tempo, a melhor metáfora para o ponto final de qualquer enredo trágico. Bolsonaro, como o maestro da célebre embarcação, deve ter sido o primeiro a notar que um script que evolui do patriotismo épico para um reles caso de roubo de joias é o roteiro de um desastre. A imagem mais fascinante é a dos militares deslizando pelo salão como músicos fieis de uma orquestra a caminho do fundo.
Nesta sexta-feira, ao arrastar para o epicentro do escândalo o pai do tenente-coronel Mauro Cid, a Polícia Federal mostrou que a água invadiu os trombones. Lourena Cid, o genitor do ex-ajudante de ordens do capitão, migrou da condição de general de mostruário para a de contrabandista de joias. Um muambeiro quatro estrelas.
A tradicional família militar agora divide a ribalta com Frederick Wasseff. O criminalista de estimação dos Bolsonaro se comporta como um bêbado que atribui o desnível acentuado do convés à qualidade do champanhe. Com as caldeiras explodindo, os militares tocam sem desafinar. As Forças Armadas não emitem nem uma nota fora do tom. Os oficiais enrolados não se animam a incluir no fundo musical a partitura de uma delação.
É como se Bolsonaro, com água pelo nariz, ordenasse à sua orquestra: "Toquem com brio!" Expurgado do Poder, o inelegível já não pode mandar cortar o salário dos músicos. Mas a orquestra das Forças Armadas continua a postos. Os militares parecem enxergar virtude na depravação. Mostram-se dispostos a executar a partitura do capitão até o último glub-glub. A essa altura, já não há mais botes salva-vidas à disposição.
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