PEC contra jornada 6x1 deixou bolsonarismo zonzo e PT atônito
Houve um tempo em que o normal no Brasil era a semana inglesa: cinco dias de trabalho, com folga no sábado à tarde, além do domingo. Hoje, seis dias de ralação e um de folga tornou-se luxo de celetista. Nesse contexto, a semana brasiliense de três dias faz de deputados e senadores aberrações sistêmicas.
Surrado nas urnas, o PSOL encontrou uma pauta antissistema para bombar nas redes sociais. Trocou a agenda identitária por uma PEC impregnada de vida real. Propõe a jornada de quatro dias de trabalho, com três de descanso. A proposta deixou o bolsonarismo zonzo e o petismo atônito.
O ministro petista do Trabalho, Luiz Marinho, comentou a novidade com o mesmo viés sindical que travou o debate sobre a formalização dos trabalhadores de aplicativos. Disse que a escala dos que ainda trabalham dentro do quadrado da CLT é coisa para ser resolvida em convenções e acordos coletivos entre patrões e sindicatos.
Enfeitiçado pelo próprio feitiço, o deputado Nikolas Ferreira queixou-se num vídeo do "ataque coordenado" que sofreu nas redes. Fustigado a se manifestar, chamou a PEC de "bizarrice". Pela primeira vez, o garoto prodígio do bolsonarismo soou como legítimo representante do sistema.
"Também fico puto com a diferença do salário de um deputado, de um senador, para um trabalhador", disse Nikolas, antes de perguntar: "Concorda que eu não tenho culpa do salário de um deputado?".
Em matéria de redução de jornada, o Congresso é pioneiro. Reúne-se de terças a quintas, depois volta para as suas bases, onde fica de sextas a segundas. Antes, dizia-se que parlamentares precisavam visitar seus estados. Mas as redes sociais deram aos congressistas o único privilégio que eles ainda não tinham, o da ubiquidade. Podem estar em Brasília e nos seus estados ao mesmo tempo. Velhas desculpas ficaram gastas.
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