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Josmar Jozino

Ligação de mulher misteriosa à polícia botou André do Rap na cadeia em 2019

André do Rap estava preso desde 2019 quando foi solto por habeas corpus concedido pelo STF e desapareceu - REPRODUÇÃO
André do Rap estava preso desde 2019 quando foi solto por habeas corpus concedido pelo STF e desapareceu Imagem: REPRODUÇÃO

Colunista do UOL

27/11/2020 04h03Atualizada em 27/11/2020 10h55

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As revelações feitas por denúncia anônima, de uma mulher, ajudaram o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil de São Paulo a prender o narcotraficante André Oliveira Macedo, o André do Rap, em setembro do ano passado em Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro. A informação consta no inquérito que os próprios acusados tiveram acesso.

Era 23 de abril de 2019. A desconhecida telefonou para a Delegacia de Extorsões do DHPP. Foi o delegado Vagner Alves da Cunha quem atendeu à ligação. A mulher primeiro implorou para não ser identificada, pois tinha medo de morrer. O policial deu sua palavra e a tranquilizou. Ela passou a dizer que André do Rap tinha ligações com a máfia italiana Ndrangheta.

Contou ainda que os mafiosos Nicola Assisi e Patrick Assisi, pai e filho, ambos da Ndrangueta, tinham se instalado havia alguns anos em São Paulo para fugir da Justiça italiana e "branquear valores obtidos a partir da prática de seus delitos, em especial crimes de extorsão". Segundo ela, os dois criminosos foragidos eram considerados "troféus" pela polícia da Itália.

A informante disse ainda que André do Rap havia firmado um pacto entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) com os dois mafiosos para remessas de grandes quantidades de drogas para a Europa. Ela forneceu nomes de duas brasileiras envolvidas com Patrick Assisi.

O telefonema anônimo ao delegado não foi muito longo. O policial, a princípio considerou os dados fornecidos pela mulher como "fantasiosos".

A certeza veio em 8 de julho de 2019, quando a PF (Polícia Federal) deflagrou a Operação Barão Invisível e prendeu os Assisi na cobertura de um edifício em Praia Grande (SP). O delegado agora não tinha dúvidas de que a as informações repassadas eram verídicas.

Denúncia levou polícia a André do Rap em Angra

Um mês depois, a mesma voz feminina soava ao telefone da polícia. Dessa vez ela forneceu o endereço de uma casa à beira-mar onde André do Rap estava escondido, em Angra dos Reis.

Ela também deu detalhes de onde se encontrava ancorado o iate de 60 pés batizado de God's Hand (Mão de Deus), usado pelo narcotraficante. E por fim revelou os nomes das pessoas que compravam bens e lavavam dinheiro para André do Rap.

Policiais do DHPP foram ao endereço em 15 de setembro de 2019. Além de André do Rap, foram presos dois homens da quadrilha dele. Os três têm passagens pela Polícia Federal e foram condenados por narcotráfico na Operação Oversea, deflagrada em 2014.

Além do iate, foram apreendidos 32 aparelhos de telefone celular, computadores, duas motos aquáticas e dois helicópteros. Segundo o DHPP, André do Rap pagou R$ 7,2 milhões por uma das aeronaves.

Traficante mantinha pilotos e marinheiros entre funcionários

Na mansão, o narcotraficante tinha à disposição dois pilotos. André do Rap costumava usar a aeronave para se deslocar até um shopping nas imediações do condomínio Barra Golden Green, na Barra da Tijuca, Rio.

Ele também contava com os serviços de um marinheiro. Gostava de reunir os amigos na mansão para passear a bordo do iate e depois almoçar na churrascaria Picanha Grill, em Angra dos Reis. Investigadores apuraram que era André do Rap quem sempre pagava a conta.

O DHPP acredita que ele é dono de três casas no município. Um inquérito sobre lavagem de dinheiro foi aberto para apurar quem são os "laranjas" utilizados pelo narcotraficante na aquisição dos imóveis, embarcações e outros bens.

Todas as pessoas citadas pela denunciante anônima — boa parte donos de empresas —, estão sob investigação. As perícias realizadas nos aparelhos de telefone celular apreendidos ligam alguns nomes revelados pela colaboradora misteriosa ao narcotraficante.

Criminoso foi solto pelo STF em habeas corpus polêmico

Do Rap e outros dois investigados cadastraram os celulares em nome de pessoas que sequer conhecem ou têm vínculo, para dificultar a identificação. Segundo apurou o DHPP, um dos telefones estava cadastrado em nome do apresentador de TV Rodrigo Faro.

Outro investigado tem antecedentes criminais, integra o PCC e já foi preso por roubos a bancos e tráfico.

André do Rap foi solto em outubro deste ano graças a habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele saiu pela porta da frente da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.

Horas depois, o STF cassou o HC. Ele já estava sumido. A defesa dele diz que as denúncias contra o cliente são ineptas e que vai provar sua inocência oportunamente. Uma das esperanças do DHPP para recapturar o foragido é receber novas informações da mulher não identificada.