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Josmar Jozino

Policial é preso acusado de alertar PCC sobre operações e receber propina

Cela do Complexo da Papuda, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress
Cela do Complexo da Papuda, em Brasília Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

21/12/2020 13h07Atualizada em 21/12/2020 13h12

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A Justiça decretou na quinta-feira (17) a prisão preventiva de um policial civil de 49 anos, de Taboão da Serra, Grande São Paulo, acusado de receber propina do PCC (Primeiro Comando da Capital) para em troca, passar com antecedência à facção informações sobre futuras operações policiais contra a organização criminosa.

Além de decretar a prisão preventiva do policial civil, a Justiça também aceitou a denúncia oferecida pelo MPE (Ministério Público Estadual) contra ele e outras 14 pessoas investigadas sob a acusação dos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, receptação, corrupções ativa e passiva.

Dos 15 acusados, 12 são advogados, sendo que 8 estão presos desde o mês passado. Segundo o MPE, os defensores integram a célula jurídica nacional do PCC e foram contratados para atuar nos interesses dos líderes da facção criminosa recolhidos nos presídios federais de Brasília (DF), Mossoró (RN), Porto Velho (RO), Catanduvas (PR) e Campo Grande (MS).

Investigações do MPE apontam que o policial civil preso "estabeleceu relação promíscua com o PCC, desde agosto do ano passado, quando começou a passar à facção informações sobre diligências policiais, frustrando assim o resultado das operações".

O MPE apurou, por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, que o diálogo do policial civil era com uma advogada —também presa— acusada de contratar colegas de profissão para integrar o "escritório", a célula jurídica nacional da facção.

Em um dos diálogos interceptados, o policial civil alerta a advogada: "Estamos indo lá para intimar a mulher do Toti. Dá um toque nela lá, se tiver alguém na casa, por favor, para ela sair correndo, para não achar ninguém lá. Ajuda nós...Acho que daqui a meia hora estamos lá".

O policial civil já teve problemas com a Justiça em meados dos anos 2000. Segundo a Polícia Federal, ele era sócio de uma firma de segurança que fazia escutas telefônicas ilegais para atuar em investigações paralelas de crimes de roubo e sequestro envolvendo os clientes da empresa.

O MPE descobriu que a propina paga para o policial civil era feita pela coordenadoria nacional do braço jurídico do PCC, liderada por um presidiário da alta cúpula do grupo. Ainda segundo o MPE, os advogados também eram pagos pela mesma célula e recebiam valores mensais de R$ 6 mil a R$ 8 mil.

Planilhas apreendidas com o gerente do braço jurídico da facção, também preso no mês passado em São Paulo, mostram que o PCC mantinha 47 advogados em 24 estados brasileiros e no Distrito Federal e pagou para os defensores R$ 5,7 milhões no período de outubro de 2018 a setembro de 2020.

Os depósitos eram realizados para o todo o território nacional nos caixas de autoatendimento em agências bancárias de Itaquera e Guaianases, na zona leste de São Paulo. As operações eram fracionadas e os nomes dos depositantes eram falsos para dissimular a origem e a propriedade dos recursos.

Segundo o MPE, em outubro de 2018, os gastos mensais com os advogados ligados ao PCC no Brasil eram de R$ 199 mil. Em julho de 2019, quando a liderança máxima do PCC já havia sido removida para presídios federais, o valor atingiu R$ 240 mil. Em julho de 2020 subiu para R$ 253 mil.

A Justiça também autorizou o sequestro de valores disponíveis nas contas bancárias de seis advogadas que foram presas no mês passado. O MPE apurou que elas atendiam a liderança do PCC nos presídios federais de Brasília, Porto Velho e Mossoró.

Para o MPE, os advogados presos "eram contratados pela facção criminosa e não pelos faccionados, e atuavam como pombos-correios do PCC". Já os defensores dos advogados afirmam que as acusações não têm fundamento e que todos os réus sempre agiram com ética, dentro da legalidade e no exercício pleno da advocacia". O UOL não conseguiu contato com o defensor do policial civil preso.

O presidiário acusado pelo MPE de ser o líder do braço jurídico nacional do PCC é um dos 15 denunciados à Justiça e está recolhido desde o ano passado na Penitenciária Federal de Brasília. Ele foi condenado a 30 anos de prisão sob a acusação de ter integrado outra célula semelhante em São Paulo, conhecida como "sintonia dos gravatas".

O processo contra o policial civil de Taboão da Serra e as outras 14 pessoas denunciadas pelo MPE por envolvimento com a maior facção criminosa do País corre em segredo de justiça e, por esse motivo, o UOL não divulgou os nomes dos réus.