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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PMs da Rota começam a usar na próxima semana câmeras portáteis na farda

Reprodução de vídeo mostra Everton da Costa Campos ajoelhado ao lado da viatura da Rota - Reprodução
Reprodução de vídeo mostra Everton da Costa Campos ajoelhado ao lado da viatura da Rota Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

21/05/2021 04h04

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Uma imagem mostra o ajudante geral Everton da Costa Campos, 41, ajoelhado ao lado de uma viatura da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), unidade de elite da Polícia Militar, na rua Simão Borges, Vila Maria, zona norte da capital, por volta de 18h40 do dia 7 de abril deste ano.

Minutos depois Everton foi levado para o Hospital José Storopolli, também na Vila Maria, e morreu durante cirurgia. Peritos do IML (Instituto Médico Legal) constataram que ele levou cinco tiros: um no antebraço direito e outro no esquerdo; mão esquerda; cotovelo esquerdo e no peito.

Policiais militares da Rota envolvidos na ocorrência alegam que Everton e Douglas Nestor de França, 41, ocupavam um carro com drogas e armas, resistiram à prisão e foram baleados em troca de tiros. Parentes dos dois homens afirmam que ambos não estavam armados e foram assassinados.

Dúvidas em relação à legalidade de ações policiais da Rota, como essa da Vila Maria, podem estar com os dias contados. A partir da próxima semana, homens da tropa mais letal da Polícia Militar do Estado de São Paulo começarão a usar câmeras portáteis na farda, segundo previsões da corporação.

O equipamento adquirido pelo governo de João Doria (PSDB) permite a gravação automática e ininterrupta do turno de 12 horas de cada policial militar. O programa dispensa a necessidade de acionamento manual das câmeras e também deve evitar a perda de imagens.

A partir do momento em que a câmera é colocada na farda, o sistema começa a gravar. A expectativa do governo de São Paulo é a de que os aparelhos proporcionarão maior transparência às ações dos policiais militares. O objetivo da PM é justamente reduzir a letalidade policial.

Além da Rota, policiais militares de outros 14 batalhões também passarão a usar os aparelhos. Segundo a PM, a meta é ter no ano que vem 10 mil câmeras em unidades da Capital e Grande São Paulo. Até 2023, todos os grandes municípios do Estado deverão receber os equipamentos.

Policiais civis que investigam os chamados casos de resistências seguidas de morte, a grande maioria envolvendo policiais militares, acreditam que a letalidade policial diminuirá significativamente com o uso dos novos aparelhos.

"Não são raros os casos de PMs que alegam troca de tiros, mas que na realidade simulam a chamada resistência seguida de morte, colocam armas e drogas em veículos de suspeitos e alteram a cena do crime. Com as câmeras na farda isso tende a acabar", afirmou um investigador que pediu anonimato.

Centro de operações da PM acompanha em tempo real imagens capturadas por câmera acoplada em uniforme de policiais   - Rubens Cavallari/Folhapress - Rubens Cavallari/Folhapress
Centro de operações da PM acompanha em tempo real imagens capturadas por câmera acoplada em uniforme de policiais
Imagem: Rubens Cavallari/Folhapress

O tenente-coronel aposentado da PM, Adilson Paes de Souza, 56, doutor em Psicologia pela USP (Universidade de São Paulo), disse que a iniciativa é boa e que a medida pode sim contribuir para a diminuição da letalidade policial.

"É claro que o projeto é muito bom. Mas com ressalvas: É preciso ter certeza de que o policial não terá controle sobre as gravações; É importante também saber quem será o responsável pelo armazenamento das imagens, se elas não serão editadas ou cortadas e se a imprensa e a sociedade civil terão acesso às gravações", argumentou.

Souza é autor da tese de doutorado "O policial que mata: Um estudo sobre a letalidade praticada por policiais militares no Estado de São Paulo". Na opinião do tenente-coronel, o controle do novo equipamento não pode ficar apenas nas mãos da PM. "Essa tarefa tem de ser compartilhada com outros setores da sociedade", ressaltou.