Josmar Jozino

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Presídio federal de Brasília vira bomba relógio do PCC após racha na facção

A Penitenciária Federal de Brasília virou uma espécie de bomba relógio do PCC (Primeiro Comando da Capital), que se explodir pode deixar baixas na liderança da facção criminosa. Presos da cúpula da organização recolhidos no presídio viraram rivais e trocaram ameaças mútuas de morte.

A unidade prisional abriga o líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, e os agora inimigos Roberto Soriano, o Tiriça; Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka; e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.

A reportagem procurou a Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), responsável pela administração da Penitenciária Federal de Brasília para saber se alguma medida foi tomada para garantir a integridade dos presos, mas o órgão ainda não deu retorno.

Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), Tiriça, Vida Loka e Andinho decidiram expulsar Marcola do PCC e ainda o decretaram à morte. Em contrapartida, criminosos ligados a Marcola também anunciam a exclusão dos três da facção e ordenaram a morte deles.

Pessoas ligadas aos prisioneiros disseram à reportagem que estão preocupadas com a segurança da penitenciária e temerosas de que os quatro envolvidos no conflito possam sair juntos para o banho de sol no presídio e que o episódio acabe em tragédia.

O temor dessas pessoas em relação à segurança das unidades federais aumentou depois que dois presos do CV (Comando Vermelho) conseguiram escapar, no último dia 12, da Penitenciária de Mossoró, mesmo isolados em celas individuais há cinco meses.

Racha histórico

O racha histórico entre os presos da cúpula do grupo confinados em Brasília teve início em junho de 2022, quando Marcola, tido como o número 1 do PCC, disse a um policial penal quando estava na Penitenciária de Porto Velho (RO), em uma conversa informal, que Tiriça era psicopata.

O diálogo foi gravado e o áudio acabou usado por promotores de Justiça no júri que condenou Tiriça a 31 anos e seis meses pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) Paraná, morta a tiros em maio de 2017 na cidade paranaense de Cascavel.

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Inconformado com a condenação e com o vazamento do áudio no tribunal, Tiriça chamou Marcola de delator. Vida Loka e Andinho, que chegaram a trocar socos no pátio do banho de sol da Penitenciária Federal de Brasília em meados do ano passado, ficaram do lado de Tiriça.

No "salve" (comunicado) divulgado aos faccionados no último dia 15, a "sintonia final" do PCC explicou que o áudio do diálogo de Marcola com o agente penal foi analisado e a conclusão é a de que foi apenas uma conversa de um criminoso com um policial e que o líder máximo do PCC não fez nada errado.

Nas ruas e no sistema prisional do estado de São Paulo, onde o PCC nasceu e se expandiu, a versão que prevaleceu foi a da "sintonia final", inocentando Marcola da acusação de delator.

Na avaliação da "sintonia final", Tiriça, Vida Loka e Andinho foram considerados culpados porque infringiram os artigos 6 e 9 do estatuto do PCC, que proíbem a calúnia e a traição. O documento diz que o preço para os faccionados que desrespeitam essas regras é a morte.

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