Josmar Jozino

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Chefe do PCC assassinado colecionava livros sobre máfia e crime organizado

Cristiano Lopes Costa, 41, o Meia Folha, homem forte do PCC (Primeiro Comando da Capital), assassinado a tiros na noite de terça-feira (12), no Guarujá (SP), mantinha em seu apartamento de luxo uma biblioteca recheada de livros sobre o crime organizado.

Meia Folha gostava de ler obras sobre mafiosos italianos, cartéis de droga colombianos, rota da cocaína no Brasil e títulos relacionados ao surgimento e expansão das maiores facções criminosas do país: o PCC, nascido em São Paulo, e o CV (Comando Vermelho), do Rio de Janeiro.

A coleção literária foi encontrada por policiais da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Santos, em 6 de setembro de 2019, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em um apartamento de luxo no Guarujá, relacionado a Meia Folha.

Na ocasião, os investigadores também localizaram um cofre escondido em um quarto, mas não conseguiram abri-lo porque não tinham a senha. No imóvel, estavam a ex-mulher de Meia Folha e dois filhos do casal. Ele chegou depois, com seu advogado, e acompanhou as buscas. No cofre, havia R$ 51 mil.

O mandado de busca e apreensão foi expedido pela 2ª Vara Criminal do Guarujá, a pedido da DIG, após receber uma denúncia apócrifa informando que aquele imóvel ligado a Meia Folha era usado para armazenar drogas e armas. Mas nada de ilícito foi encontrado no local.

Apartamento luxuoso

Os agentes fotografaram todos os cômodos do apartamento, desde a biblioteca até as garrafas de bebidas importadas, como vinhos e uísques. Na sala ampla, havia ao menos três jogos de sofá, móveis modernos e quadros pendurados na parede.

Segundo a Polícia Civil, Meia Folha era um dos homens mais fortes do PCC na Baixada Santista. A polícia não descarta a hipótese de ele ter sido morto por causa do racha histórico na facção criminosa. Uma possível briga com políticos da região também é investigada.

Além do tráfico de drogas, diz a polícia, Meia Folha também tinha negócios com prefeituras locais nas áreas de educação e saúde. Agentes disseram que ele era ligado ao narcotraficante André Oliveira Macedo, o André Du Rap, foragido da Justiça desde outubro de 2020.

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Outro comparsa de Meia Folha foi Albiazer Maciel de Lima, 44, o Mela Eixo, rei do roubo de carga, morto em 14 de junho de 2021 na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Mela Eixo era amigo de Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, líder máximo do PCC, e cumpriu pena com ele.

Essa é a segunda morte de integrante do PCC supostamente atribuída ao racha na facção criminosa. Donizete Apolinário da Silva, 55, o Prata, apontado como chefe da célula "FM", responsável pelo tráfico de drogas do PCC, foi assassinado no último dia 25, em Mauá, na Grande São Paulo.

A mulher dele, de 29 anos, grávida, e a enteada de 10 anos, ficaram feridas. Os disparos foram feitos por ocupantes de um Peugeot, modelo SW 207, de cor preta. Os atiradores fugiram. Câmeras de segurança da região registraram o momento do ataque.

Para o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), o assassinato de Prata marcou o início da guerra no PCC, envolvendo Marcola e seus novos rivais da cúpula do grupo.

De acordo com o MP-SP, os inimigos são os presos Roberto Soriano, 50, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, 49, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, 45. A morte de Prata já é tratada como um reflexo do conflito nas ruas de São Paulo.

O racha veio a público no dia 15 de fevereiro, quando um salve (recado) circulou em grupos de WhatsApp de integrantes do PCC, comunicando a exclusão e o "decreto" (morte) de Tiriça, Vida Loka, e Andinho.

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O comunicado diz que o motivo da exclusão dos três é traição. Isso porque Marcola teria sido acusado pelo trio de ter chamado Tiriça de psicopata. A fala de Marcola foi gravada em agosto de 2023, por meio de áudio de uma conversa dele com um policial penal, durante o banho de sol de um presídio federal.

O áudio foi usado no júri que, em 25 de agosto, condenou Tiriça a mais 31 anos de prisão pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo. A vítima trabalhava na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) e foi assassinada a tiros na cidade vizinha de Cascavel, em maio de 2017.

O "salve" explica que a gravação foi analisada pela "sintonia final" (cúpula) do PCC, que concluiu que não houve delação de Marcola, mas sim "um papo reto de criminoso com a polícia". Diz ainda que policiais penais gravaram a conversa para jogar os líderes do PCC uns contra os outros.

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