Josmar Jozino

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Reportagem

Alvo do MP, dono da Transwolff foi transferido para presídio do PCC em SP

Luiz Carlos Efigênio Pacheco, 54, o Pandora, dono da Transwolff e réu em um processo pelos crimes de apropriação indébita, extorsão e lavagem de dinheiro, está preso desde 30 de abril no maior reduto de presos do PCC (Primeiro Comando da Capital) no sistema carcerário paulista.

Pandora foi transferido da Penitenciária de Iperó para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde cumprem pena os grandes narcotraficantes e assaltantes de banco do país, integrantes das quadrilhas do "novo cangaço" e "domínios de cidade", todos ligados ao PCC.

Fontes do sistema prisional revelaram que Pandora trava batalhas judiciais em busca da substituição da prisão preventiva pela domiciliar humanitária, em caráter de urgência, por ser portador de problemas cardíacos e necessitar dar continuidade ao tratamento médico. Todos os pedidos foram negados.

Roberto Vasco Teixeira Leite, advogado de Luiz Carlos Efigênio Pacheco, informou, por meio de nota, que o cliente nunca fez parte do Primeiro Comando da Capital e nunca fará. Segundo o defensor, a prisão é indevida e Pacheco é uma vítima política.

O advogado disse ainda que há no processo outras provas que mostram que Pandora não pertence a nenhuma facção criminosa. Na opinião de Roberto Vasco Teixeira Leite, o MP e a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária estão fazendo de tudo para dificultar a defesa do cliente com consequentes manobras, transferindo-o num curto espaço de tempo.

O dono da Transwolff foi preso no mês passado com um representante da empresa, também ligado ao PCC, e um contador. Além dos três, outras sete pessoas —três sócios, um ex-sócio, um contador e dois advogados— foram denunciados à Justiça pelo MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo).

Segundo a denúncia, em janeiro de 2019, os investigados ocultaram por meio de outra empresa o aporte de R$ 54 milhões sob a forma de integralização do capital da Transwolff. O MP-SP sustenta que os valores foram provenientes do tráfico de drogas do PCC.

Ordens do líder da facção

Desde 2006, o MP-SP vem investigando o suposto envolvimento de Pandora com o PCC, como informou esta coluna em 29 de junho de 2022. Ele foi acusado à época de receber ordens do preso Antônio José Muller Júnior, 58, o Granada, homem da cúpula da facção criminosa.

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Granada —hoje recolhido na Penitenciária Federal de Brasília junto com a liderança máxima do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola— estava preso na ocasião na Penitenciária de Araraquara (SP). O MP-SP apurou que ele havia determinado o resgate de um detento na Cadeia Pública de Santo André.

O alvo era irmão de um companheiro de cela de Granada. As investigações policiais apontaram Pandora como suspeito de ter financiado o resgate junto com um dirigente do clube de futebol Água Santa e sócio da A2, empresa do sistema de transporte de ônibus de São Paulo. Mas nada disso foi provado pela Polícia Civil e o processo acabou arquivado pela Justiça.

Em nota enviada à reportagem, a A2 e o Água Santa afirmam que "o dirigente do clube e da empresa exerce suas atividades de maneira ilibada e que sua citação no referido inquérito foi formalmente e devidamente esclarecida de forma que o processo foi arquivado pelo Poder Judiciário".

Granada era diretor da Transmetro. A empresa, posteriormente, tornou-se Cooperpam G2 e depois a Cooperpam (Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos de São Paulo), da qual Pandora ocupou por vários anos a presidência e a direção executiva.

Em 2008, a diretoria da empresa passou a ser integrada pelo quadro social da Transwolff. Segundo o MP-SP, desde então os denunciados se associaram por meio do grupo Cooperpam e se apropriaram das cotas e dos bens móveis e imóveis dos cooperados.

A denúncia diz que "os cooperados sofreram ameaças e, para não perder as permissões no transporte público, foram obrigados a migrar para a Transwolff e a atender às exigências dos investigados, inclusive pagando uma taxa semanal de R$ 625 em 2015, que depois aumentou para R$ 2.500".

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A Promotoria de Justiça diz que "o aporte de R$ 54 milhões foi convertido em ativos lícitos e utilizados na atividade econômica da Transwolff para aumentar o capital social, habilitá-la e capacitá-la para a licitação da prestação do serviço de transporte público urbano na cidade de São Paulo".

Os cooperados, segundo aponta o MP-SP, "foram extorquidos, induzidos a erros e ficaram sujeitos a pagamentos e descontos abusivos, sem qualquer prestação de contas, sob a falsa alegação de que seriam sócios da Transwolff e manteriam seus contratos de trabalho por 15 anos".

A denúncia apontou ainda que os "cooperados foram vítimas de fraudes e extorsões perpetradas por prepostos da Transwolff, a mando de seus sócios —agora réus— que os levaram a aceitar as condições vis de trabalho e a assinar documentos que os levaram à apropriação indébita de seus bens".

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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