Josmar Jozino

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Reportagem

Quem é Tacitus, que diz ter aberto live para ver a morte de delator do PCC

A Polícia Federal e a Polícia Civil de São Paulo tentam identificar quem é a pessoa que se apresenta como "Tacitus" e envia e-mails para diversas autoridades sobre o caso do empresário Antônio Vinícius Gritzbach, assassinado no final do ano passado no aeroporto internacional de Guarulhos.

Tacitus inclusive enviou e-mails para dizer que criou uma live para acompanhar ao vivo o assassinato de Gritzbach.

Para o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), Tacitus é uma fraude. Mas para a Polícia Civil, Tacitus existe, integra ou é simpatizante do PCC (Primeiro Comando da Capital), além de ser inimigo declarado de Gritzbach.

Em dezenas de e-mails enviados a desembargadores, juízes, procuradores de Justiça, promotores, policiais civis e federais, defensores públicos e jornalistas, Tacitus se apresenta como "vítima" de Gritzbach. O empresário teria ajudado dois investigadores de polícia a roubarem R$ 6 milhões de duas casas-cofre que pertenceriam a Tacitus.

Tacitus enviou mensagens para Gritzbach

Antes do homicídio, Tacitus mandou mensagens para Gritzbach, ameaçando matá-lo, caso não recebesse o dinheiro de volta. A última delas foi enviada em 1º de outubro de 2024. O empresário respondeu com xingamentos e palavrões. A reportagem teve acesso ao conteúdo.

No mês seguinte, 8 de novembro, Gritzbach foi fuzilado no aeroporto. No mesmo dia do assassinato, Tacitus enviou e-mails a autoridades com foto do corpo do empresário no terminal 2. E escreveu na legenda: "agradeço a todos pela colaboração". Na mesma mensagem, afirmou que criou uma live para acompanhar ao vivo o assassinato do rival.

No dia seguinte ao crime, Tacitus mandou e-mail à delegada Ivalda Aleixo, diretora do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), responsável pela investigação da morte de Gritzbach. E alertou: "Resolva logo esse caso. Ele será repassado para os federais".

Operação da PF foi batizada de Tacitus

A mensagem para a diretora do DHPP não soou como fraude. Tacitus acertou em cheio. A PF e o MP-SP deflagraram, em 17 de dezembro, a Operação Tacitus, batizada com o apelido dele, e prenderam cinco policiais civis, um advogado e dois empresários delatados por Gritzbach por corrupção e envolvimento com o PCC.

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Um dos presos na operação foi o delegado Fábio Baena Martin, acusado por Gritzbach de ter exigido dele R$ 40 milhões para livrá-lo de um inquérito de duplo homicídio, quando atuava no DHPP. A exigência teria sido feita por Baena em conjunto com o investigador Eduardo Monteiro, também detido na Operação Tacitus.

Em 14 de novembro de 2024, ou seja, 33 dias antes da prisão do delegado Baena, ele recebeu de Tacitus um e-mail com o seguinte título: "PCC - Polícia Civil Corporativista". E informou a Baena que o delegado e equipe seriam presos por corrupção, expulsos da Polícia Civil, e teriam os bens bloqueados.

Mais uma vez Tacitus acertou. Os policiais foram presos. Em outro e-mail para Baena, em 2 de dezembro, Tacitus critica o delegado por ter chefiado os dois investigadores acusados pelo roubo de R$ 6 milhões de duas casas-cofres do próprio Tacitus. Os policiais foram presos em outra operação da PF.

Delegado pode saber a identidade

Baena responde ao e-mail e diz que "nunca colocou a mão no dinheiro dele nem de ninguém". O delegado dá a entender na mensagem que sabe quem é Tacitus, pois confirma na resposta que lhe pediu para ir conversar com ele pessoalmente em uma delegacia onde estava lotado à época.

Em outro e-mail enviado em 20 de dezembro de 2024 a um parente de Gritzbach e a uma pessoa ligada ao empresário, Tacitus revela que monitora seus alvos e, em dois anos, desembolsou R$ 700 mil com compra de informações e com monitoramentos.

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Tacitus continua mandando e-mails

Em e-mail enviado na última sexta-feira (3) às autoridades do Poder Judiciário, Tacitus alegou ter pessoas que informam a ele tudo o que precisa saber, inclusive sobre o Ministério Público do Estado de São Paulo.

Como exemplo, citou que conseguiu em 15 minutos os endereços dos e-mails de 11 autoridades do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Procuradoria Geral de Justiça, Corregedoria Nacional do Ministério Público e Secretaria Nacional de Segurança Pública. Ele garante ter mandado mensagens para todos.

No mesmo e-mail, Tacitus diz aos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) de São Paulo que eles estão acostumados a lidar com a velha geração [faccionados] da empresa [PCC], que em sua maioria, segundo ele, "nem tinha o ensino fundamental".

Vocês [Gaeco] agora estão lidando com uma liderança [do PCC] que jamais souberam que existia, até que o roubo da minha casa-cofre me forçou a aparecer e lidar diretamente com a questão. Quando derem entrevistas falem apenas a verdade.
Tacitus, em e-mail enviado a autoridades em 3 de janeiro de 2025

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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