Nos EUA, militares rejeitariam ameaça de golpe de Bolsonaro contra Supremo
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Imagine o que aconteceria nos Estados Unidos se o presidente Donald Trump chamasse o chefe do estado-maior das Forças Armadas, o general da ativa Mark Miller, e alguns secretários de estado a fim de dizer que pretende mandar um cabo e um soldado para derrubar os nove ministros da Suprema Corte.
Contrariado com a decisão que permite ao Ministério Público de Nova York investigar sua vida patrimonial, Trump diria: "Vou intervir!".
Provavelmente, o general Miller responderia que o presidente não pode fazer isso, porque é um crime contra a Constituição, os EUA não são uma república de bananas e os militares se subordinam à ordem democrática.
Em Washington, quando a imprensa publicasse os bastidores do encontro, o Congresso americano certamente tomaria medidas para investigar a ameaça de golpe
No Brasil, a tentativa de quartelada aconteceu na manhã de 22 de maio no Palácio do Planalto, como revelou Monica Gugliano na revista Piauí. Temendo a possibilidade de ter o telefone apreendido por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, Bolsonaro discutiu com auxiliares como daria um golpe de Estado para derrubar os 11 ministros do STF e indicar substitutos.
Na reunião no Palácio do Planalto, a reação de três ministros militares foi apoiar o golpismo, uma marca das Forças Armadas que se recusam a fazer o ajuste de contas com a História a respeito de 1964. Pelo contrário, os militares dobraram a aposta ao endossar o governo de um aventureiro inapto para o poder.
O golpismo é a essência ideológica de Bolsonaro, que, em toda a sua carreira, atacou as instituições, buscou enfraquecer a democracia e demonizar as minorias enquanto ele e os filhos enriqueciam na política tradicional.
Na reunião de 22 de maio, o "mais moderado" foi o ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional, o general da reserva Augusto Heleno.
"Não é o momento para isso", disse Heleno.
Vamos deixar claro: Heleno não foi nada moderado.
Ele é um golpista que, naquele momento, foi tomado por algum senso de realidade. Avaliou as condições objetivas para tentar dar um golpe e viu que a quartelada poderia ser um tiro pela culatra.
Os demais militares que participaram do encontro, como Braga Neto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos, também expuseram seu golpismo. Ramos apoiou explicitamente a vontade de Bolsonaro. Braga Neto ficou no muro até Heleno dizer que não era hora para golpe.
Nenhum dos ministros disse a Bolsonaro que aquilo atentava contra a Constituição, como fazia ao simplesmente manifestar a sua intenção. Preferiram discutir a absurda teoria do "jurista" Ives Gandra Martins sobre um eventual Poder Moderador das Forças Armadas.
De tarde, o moderado Heleno foi explícito na ameaça golpista. Escreveu numa nota: "o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude [eventual apreensão do celular de Bolsonaro] é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional".
O Brasil é governado por um grupo despreparado e regressivo. Vale ler cada linha da reportagem de Monica Gugliano.
Essa reunião de 22 de maio foi mais um crime de responsabilidade cometido pelo presidente e ministros, porque não existe na Constituição nenhuma autorização para as Forças Armadas atuarem como Poder Moderador. A monarquia no Brasil acabou em 1889.
Nosso candidato a rei é um genocida que virou piada no mundo porque agrava a tragédia do coronavírus no Brasil com seu negacionismo científico e crimes contra a saúde pública. O golpismo de Bolsonaro e filhos só perdeu força porque Fabrício Queiroz foi preso, mas a ideia fixa continua na cabeça deles todos os dias. Afinal, há sempre um "alfabetizado" como o ministro do Superior Tribunal de Justiça João Otávio de Noronha disposto a prestar serviço ao obscurantista de plantão.
Se as instituições brasileiras e seus democratas de pandemia não tomarem cuidado, podem acabar se dando mal quando o general Heleno achar que "é o momento para isso". Vai que ele se cansa de escrever notas golpistas.
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