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Para Lula, discurso de Alckmin diminui resistência no PT e rebate críticos

Alckmin e Lula durante encontro em dezembro do ano passado - RICARDO STUCKERT
Alckmin e Lula durante encontro em dezembro do ano passado Imagem: RICARDO STUCKERT

Colunista do UOL

24/03/2022 13h07Atualizada em 24/03/2022 13h41

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O ex-presidente Lula (PT) avalia que o discurso que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) fez na filiação ao PSB nesta quarta-feira (23) em Brasília saiu "melhor do que a encomenda", segundo a descrição de um interlocutor do petista.

Para Lula, as palavras de Alckmin ajudam a quebrar resistências internas no PT à indicação do ex-governador para candidato a vice-presidente.

Na visão do petista, Alckmin também respondeu às críticas de outros partidos e de setores da imprensa que apontam contradição na união de dois adversários que trocaram ataques duros no passado.

No discurso, Alckmin usou expressões que o PT considera vacinas eleitorais, como "esperança" e "democracia".

Temos de ter os olhos abertos para enxergar, a humildade para entender que ele [Lula] é hoje o que melhor reflete e interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro. Aliás, ele representa a própria democracia porque ele é fruto da democracia."
Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador de São Paulo

Noutro trecho discurso, o ex-governador rebateu críticas que recebeu recentemente pelos confrontos que teve com o PT e Lula e ainda deu uma indireta sobre o questionamento que o tucano Aécio Neves fez sobre a vitória de Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014.

"Alguns podem estranhar. Eu disputei com o presidente Lula a eleição de 2006 e fomos para o segundo turno, mas nunca colocamos em risco a questão democrática, nunca. O debate era de outro nível, nunca se questionou a democracia."

Na propaganda partidária do PT no rádio e na TV, que começa hoje (24), o partido aposta nos motes da "esperança" e da "reconstrução". A ideia é vender Lula como o candidato mais preparado para recuperar a economia e políticas públicas destruídas por um presidente (Jair Bolsonaro, PL) que ameaça a democracia.

Lançamento da chapa

Como informou Carla Araújo, o PT planejava lançar a candidatura de Lula no feriado de 1º de Maio, Dia do Trabalhador, mas advogados do partido afirmaram que eventos abertos, como um comício no Anhangabaú em São Paulo, poderiam infringir a lei eleitoral.

Agora, a data mais provável para o lançamento é a véspera, 30 de abril, com um ato em local fechado. No dia seguinte, Lula participaria dos eventos das centrais sindicais. Lula quer dedicar o mês de abril a construir alianças partidárias para fazer um anúncio que demonstre musculatura política.

Etapas formais

Para o anúncio da chapa da Lula-Alckmin, há alguns ritos partidários a serem cumpridos. Primeiro, o PSB formaliza a indicação para compor a chapa com o PT. Depois, numa reunião do Diretório Nacional ou num Encontro Nacional, o PT confirma a união.

Haverá discursos contrários à chapa, com a preocupação de eventual tentação do vice para assumir o lugar do titular. O impeachment de Dilma em 2016 tem sido usado pelos petistas e aliados que torcem o nariz para Alckmin como vice, mas Lula está decidido e tem maioria no PT para fechar a parceria.

Risco baiano

A briga na Bahia entre o ex-governador Jaques Wagner e o atual, Rui Costa, preocupou Lula. Wagner desistiu de concorrer ao governo, o que levou o PT a lançar Jerônimo Rodrigues, secretário estadual de Educação.

No PT, há temor de que a seção baiana entregue a ACM Neto (União Brasil) um Estado que governa desde 2007.

"Já duvidei do Jaques Wagner antes e ele ganhou a eleição. Vou acreditar nele de novo", tem dito Lula a quem o questiona sobre o racha petista na Bahia.

Deixa quieto

Lula não terá palanque duplo em Pernambuco. Ele vai aceitar o apoio de Marília Arraes, que está deixando o PT para disputar o governo do Estado. Mas não pretende subir no palanque dela.

Segundo um interlocutor do ex-presidente, Pernambuco é considerado o Estado mais importante para o PSB e não teria sentido criar uma crise com o principal aliado nacional.

Em Pernambuco, o senador Humberto Costa (PT) abriu mão de disputa pelo Palácio do Campo das Princesas para apoiar o candidato do PSB, o deputado federal Danilo Cabral.

Disputa fluminense

O PT nacional espera resolver a aliança com o PSB no Rio em visita ao Estado na próxima semana. Lula vai apoiar o deputado federal Marcelo Freixo, que deixou o PSOL para entrar no PSB.

A defesa que Freixo fez de uma aliança com Fernando Haddad em São Paulo criou resistências em Márcio França, nome do PSB que também tenta concorrer ao governo paulista. Lula esperar ajudar Freixo aparar as arestas internas no PSB.

Aposta em frente política em SP

Em São Paulo, o PT pretende esperar o fim da janela partidária para voltar a falar em aliança com o PSB para apoiar Fernando Haddad ao governo do Estado. Márcio França tem mantido a sua pré-candidatura pelo PSB, mas Lula avalia que será possível chegar a um entendimento para que ele concorra ao Senado.

O ex-presidente defende que seja repetida em São Paulo a estratégia de frente política que adotará na disputa nacional. Lula sabe que o antipetismo ainda é uma força relevante no Estado, sobretudo no interior.