Covid em alta, ruas cheias, transporte lotado: a bomba-relógio está armada
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Quem serão os responsáveis pelas mortes decorrentes da abertura prematura do comércio durante a pandemia?
Estava claro, até agora, que parte dos 41.059 óbitos por covid-19 (dados organizados pelo consórcio de veículos de imprensa), registrados até esta quinta (11), estava na conta de Jair Bolsonaro e sua insistente campanha contra as medidas de isolamento social.
Mas, ao que tudo indica, o presidente da República vai ganhar a companhia de governadores e prefeitos que mudaram de posição.
Alguns estavam quase decretando bloqueio total (lockdown) e, de repente, flexibilizaram quarentenas. Dados do consórcio de imprensa apontam para 805.649 pessoas infectadas no país, sendo 30.465 novos casos registrados nas últimas 24 horas.
Com a baixa quantidade e qualidade de testes realizados na população, não temos subsídios para apontar o quão subdimensionado esse número está - pesquisa da Universidade Federal de Pelotas fala em até sete vezes mais nas grandes cidades. Nem se este é o momento correto de começar a retomada.
Até porque, em locais como São Paulo, a curva de contaminação ainda não estabilizou. Mortes e internações continuam subindo. Epidemiologistas críticos à flexibilização afirmam que, mesmo com leitos disponíveis em UTIs, reabrir o que não é essencial, mesmo que parcialmente, pode levar a cidade a perder o que ganhou com a quarentena.
Gestores públicos evitam assumir que o que está acontecendo agora é uma "tentativa e erro": se reabrir e não explodir, segue o jogo; se disparar, fecha de novo. O problema é que o "erro" será a vida de milhares de pessoas daqui algumas semanas.
Não fossem as máscaras, as imagens de multidões que caminham em ruas de compras da capital paulista ou que lotam ônibus e trens na capital fluminense dificultariam a identificação de que estamos vivendo um surto de uma pandemia assassina.
E a culpa não é dos trabalhadores. Eles prefeririam estar recebendo um apoio decente por parte do governo, esperando o pior da pandemia passar em casa, mas o poder público decidiu que é hora de voltar.
É fácil manter posições firmes quando a população apoia. Mas decisões sanitárias não devem ser tomadas por plebiscito, muito menos levando em consideração a quantidade de likes em redes sociais ou em pesquisas de opinião, mas baseadas em critérios médicos e científicos largamente aceitos.
A questão é quando a aprovação começa a cair.
Pesquisa Ibope/Rede Nossa São Paulo mostrou que a parcela da população que considerava inadequadas as medidas do prefeito Bruno Covas quanto à pandemia foi de 20% para 35% entre abril e maio. Já os números do governador Joao Doria foram de 21% para 36%. E, para ambos, a quantidade dos que consideram as medidas adequadas foi de 68% para 51%.
Os dois, que haviam peitado as posições terraplanistas de Bolsonaro quanto à covid-19, perderam respaldo, como era de se esperar em uma sociedade cansada. Coincidentemente, a quarentena na Grande São Paulo foi flexibilizada.
E no Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que também chegou a bater de frente com o presidente, acabou afrouxando a posição após ser alvo de uma operação da Polícia Federal por desvio de recursos públicos que deveriam ter sido usados no combate à doença. E se tornou um ex-governador em exercício após a abertura de um processo de impeachment por 69 votos a zero.
São os momentos mais difíceis, quando não se cede a saídas fáceis, que separam quem é líder de quem apenas ocupa um cargo público.
Tem uma bomba-relógio fazendo tic-tac no meio da sala. E não precisa que acreditem nela para que, em algum momento, exploda.