Juventude voltou a acreditar na política com a nossa campanha, diz Boulos
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"Uma parte importante da juventude estava fazendo 'arminha' com a mão, dois anos atrás, o que é um sinal de descrença e de falência da política. Conseguimos, nesta campanha, fazer com que a juventude voltasse a acreditar que a política pode ser um instrumento de transformação."
Ainda convalescente da covid-19 que o impediu de votar último domingo, Guilherme Boulos (PSOL) avaliou à coluna a participação dos jovens em sua campanha.
Pesquisa Datafolha de um dia antes do segundo turno apontava Boulos com 67% das intenções de voto entre eleitores de 16 a 24 anos e com 57% na faixa entre 25 e 34. Acima disso, perdia para o, hoje, prefeito eleito, Bruno Covas (PSDB). Deve, portanto, uma boa parte de seus 2.168.109 votos a esse grupo.
O resultado chamou a atenção tanto de bolsonaristas, que alertaram que isso mostrava que uma parte da esquerda havia aprendido usar a rede para conversar com os jovens. Mas também de uma parte do campo progressista, que discute há tempos a necessidade de apresentar uma narrativa que engaje os mais novos à militância.
"Quando a juventude se engaja e se mobiliza, aponta para o futuro e para uma questão geracional. Isso não se encerra em uma eleição. E aí que está a nossa maior possibilidade de vitória no futuro", avalia Boulos.
Para ele, a apresentação de uma narrativa que resgata a política como instrumento de mudança junto aos jovens também irá influenciar outras cidades, uma vez que a campanha, por estar na internet, ultrapassou os limites de São Paulo.
O foco no digital foi a saída lógica diante de uma campanha que tinha 17 segundos de propaganda na TV no primeiro turno. Mas o Boulos digital da campanha presidencial de 2018 é diferente do candidato à prefeitura em 2020. Uma campanha forte na rede, com linguagem despojada e que se conecta com os jovens, o catapultou para o segundo turno
Por exemplo, disputou uma partida de Among Us, um jogo online, com Felipe Neto, que teve mais de 3,5 milhões de visualizações.
"Claro que a gente queria ganhar. A gente brigou para ganhar e, por isso, fez uma campanha que chegou até onde chegou. Não foi para marcar posição. Mas ao mesmo tempo, e esse foi o grande legado, disputamos valores", diz.
O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) reclamou das análises que afirmaram que sua candidatura era baseada em um naco rico e progressista da cidade.
"A minha votação na periferia, no primeiro e no segundo turnos, foi muito maior do que a votação nos bairros centrais", diz. "Isso contrapõe aquele papo que tentaram vender de que a minha candidatura era para jovens de classe média alta", reclama.
A vitória na periferia Sudeste e Sul e do Extremo Leste foi pessoalmente importante para ele. Primeiro, porque é onde mora, no bairro do Campo Limpo. Lá, a vitória de Boulos foi apertada, 50,6% a 49,4%. Na eleição presidencial de 2018, Jair Bolsonaro (sem partido) havia ganho de Fernando Haddad (PT), no segundo turno, por 53,25% a 46,75%.
"Houve um resgate de áreas da periferia. É um recomeço. O importante é que essa campanha plantou grandes sementes."