Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bomba deu chabu porque bolsonarista teria sido pão-duro com militares

Em Hollywood, isso seria chamado de roteiro chinfrim e forçado. Aqui no Brasil, é apenas mais um dia do nosso cotidiano.

Um dos bolsonaristas condenados por plantar uma bomba para tentar explodir um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília na véspera de Natal, Alan Diego dos Santos, afirmou à Polícia Civil do Distrito Federal que um grupo extremista de militares da reserva se ofereceu para fabricar e instalar o explosivo.

Mas, segundo o terrorista, como os tais "Boinas Vermelhas" queriam cobrar pelo serviço, ele resolveu fazer e colocar o explosivo por conta própria com a ajuda de George Washington de Sousa. Tal como Alan, o homônimo do primeiro presidente dos Estados Unidos foi condenado e preso. A informação foi revelada pela Folha de S.Paulo.

Como todos sabemos, a bomba plantada no caminhão-tanque deu chabu e não explodiu.

Ou seja, confirmada a história, se ele tivesse tirado o escorpião do bolso e pagado o que os mercenários queriam, ou confiado que eles fariam o trabalho ou aberto mão desse triste protagonismo, talvez o estopim tão desejado para um Estado de Sítio com Jair Bolsonaro no poder teria ocorrido, permitindo um golpe.

Um relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), de 27 de dezembro, ou seja, três dias após o atentado que flopou, alertou para a presença do grupo extremista de militares da reserva no acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

Eles teriam se apresentado como membros da reserva das Brigadas de Infantaria Paraquedista do Exército. Os dados foram enviados à CPMI dos Atos Golpistas.

Vale lembrar que a Polícia Federal encontrou uma minuta golpista e estudos para apoiar um golpe de Estado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-faz-tudo de Bolsonaro. O texto permitiria ao seu antigo chefe convocar as Forças Armadas em caso de caos - caos que poderia surgir, por exemplo, após um atentado terrorista. A minuta estava em mensagens trocadas entre Cid e o sargento Luís Marcos dos Reis - ambos presos na operação que investiga a fraude nos registros de vacinação de Bolsonaro.

O Exército impediu a entrada da PM para prender golpistas no acampamento montado em frente ao seu QG na noite dos ataques de 8 de janeiro. Isso deu tempo a muitos golpistas fugirem. Sob a chantagem de que haveria uma "noite de sangue" se a PM entrasse para prendê-los no acampamento, Lula aceitou a proposta do então comandante militar do Planalto, general Dutra de Menezes, para que isso ocorresse apenas na manhã do dia seguinte.

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O então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, também teria avisado ao ministro da Justiça Flávio Dino que ninguém seria preso naquela noite. Treze dias depois, Lula escolheu o legalista Tomás Ribeiro Paiva para substituir Arruda.

Uma parte dos militares estava sim com Jair. Ele não teve apoio que queria para o seu golpe de Estado, inclusive por conta da parcela legalista da cúpula das Forças Armadas. Mas a participação de militares da reserva e da ativa fez toda a diferença para que golpistas pudessem ameaçar a República.

Por sorte, o roteirista desta chanchada chamada Brasil colocou terroristas que preferiram economizar uns caraminguás. Se fossem profissionais colocando as bombas, a história do país poderia ter sido outra.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL