Letícia Casado

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Reportagem

Bets rebatem Campos Neto e questionam dados do Banco Central sobre apostas

O levantamento divulgado pelo Banco Central na segunda-feira (23) sobre os gastos dos beneficiários do Bolsa Família com apostas virtuais, as chamadas bets, está sendo questionado por integrantes do setor. Eles apontam lacunas e dados incompatíveis com os das empresas que atuam no Brasil.

Cálculos do UOL mostram que, entre os apostadores do Bolsa Família citados pelo BC, há um grupo que fez apostas de valores muito altos, incompatíveis com a renda limite para participar do programa. São indícios de fraude, que não foram citados no estudo divulgado pelo órgão.

De acordo com o documento do BC, 5 milhões de beneficiários do programa destinaram R$ 3 bilhões às casas de apostas apenas no mês de agosto e apenas via Pix. A informação provocou uma ofensiva por parte de congressistas e do próprio governo federal —os formuladores da regulamentação das bets— contra este mercado.

O problema, segundo o setor, é que os dados do BC não batem com os que possuem. A suspeita, afirmam, é que o debate, da maneira como está sendo feito, acaba por prejudicar a regulamentação elaborada pela equipe do presidente Lula (PT).

Executivos do setor também questionam a declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que o pagamento via cartão de crédito represente de 10% a 15% do total de transações feitas pelos brasileiros nas bets. "Não chega a 3%. No caso dos nossos associados, é praticamente 100% via Pix", diz Plínio Lemos Jorge, presidente da ANJL (Associação Nacional de Jogos e Loterias).

A ANJL enviou um ofício ao BC questionando a metodologia da nota técnica que tratou do Bolsa Família, mas não obteve resposta. O UOL também questionou a instituição, mas o BC respondeu que as informações disponibilizadas se limitam ao que já foi divulgado.

Lemos Jorge, da ANJL, diz que não é justo associar diretamente o alto endividamento das famílias com o aumento das apostas. Segundo ele, as bets atuam no Brasil desde 2018 e identificaram casos de vício já em 2019, no início da operação.

"Só que agora o pseudoproblema veio à tona, quando estamos na reta final de regulamentação", afirma. "Me parece um movimento para destruir realmente uma regulamentação. Um movimento coordenado, talvez não para atacar as bets, mas para atacar o governo."

Setor ainda não tem dados oficiais

A regulamentação do setor só passa a valer a partir de 1º de janeiro de 2025. Também por isso, Lemos Jorge e outros executivos apontam buracos no estudo do BC.

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"Três relatórios relevantes divulgados no último mês somam mais de 250% de diferença entre os dados divulgados, o que demonstra que ou há uma falha metodológica no desenvolvimento do relatório ou há má intenção. Nós, do setor, sabemos que é muito difícil ou impossível caracterizar o tamanho do mercado enquanto este não está regulado. Então, são estimativas totalmente imprecisas", diz Marcio Malta, CEO da Sorte Online. Os estudos aos quais ele se refere foram feitos pelo Itaú e pela auditoria PwC, além daquele do BC.

Os executivos afirmam que os estudos ignoram outros dados, como os valores mantidos pelos apostadores nas contas para saque, por exemplo.

"É importante não confundir depósitos com o tamanho do mercado. Os apostadores realizam depósitos para apostar e efetuam saques dos prêmios ganhos. A diferença entre os depósitos e os saques corresponde à receita das operadoras", afirma André Gelfi, diretor-presidente do IBJR (Instituto Brasileiro do Jogo Responsável).

"Todos os estudos têm o mesmo tipo de erro ou viés. Mas, a essa altura, não dá mais para afirmar que é um erro. Pode ser um viés proposital para danificar a imagem do setor", diz Malta.

Para os executivos, as críticas ignoram que outras indústrias vão se beneficiar com mais restrições às bets —que se adequam à regulamentação para pagar o imposto da forma como foi exigido pelo governo e pelo Congresso.

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