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Maria Carolina Trevisan

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A farsa de Queiroga: ômicron avança e ministro da Saúde finge que não vê

8.dez.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante evento em Brasília - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
8.dez.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante evento em Brasília Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

27/12/2021 13h27

A contaminação por covid vem avançando nas últimas semanas de maneira explosiva. A variante ômicron, sabidamente mais transmissível, está tomando o mundo inteiro. O intervalo que o Brasil tinha em comparação com países da Europa vem diminuindo a olhos nus. Não temos mais quatro meses de respiro. Agora, são dias de diferença. Chama-se a nova onda de "tsunami" na imprensa estrangeira.

Não é preciso ser médico, trabalhar com saúde ou com estatística para perceber o crescimento do coronavírus no país neste mês de dezembro. Basta conversar com os amigos e espiar unidades de pronto atendimento e postos de saúde lotados. Aliás, esse olhar atento deveria ser a principal preocupação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Mas não. O ministro está mais preocupado em sustentar a farsa de que a vacinação no Brasil se deu por seu exclusivo empenho, tomando para si a bem sucedida vacinação em massa no país. "Controlamos a pandemia da covid-19 e agora somos considerados um dos melhores do mundo no combate ao novo coronavírus", disse o ministro.

A população inteira sabe que se dependesse do governo Bolsonaro não haveria vacinação em massa. O fato de Queiroga dificultar a imunização das nossas crianças mostra a sua verdadeira face: em vez de proteger a população e as crianças da nova variante, o ministro quer, em sinais ambíguos, agradar os bolsonaristas radicais e sua cepa negacionista.

Agindo dessa forma, expõe a população brasileira ao perigo. Cada vida perdida deveria ser importante. Não se deveria engolir um pensamento ou uma estratégia que considere um tanto aceitável de mortes infantis. Crianças e adolescentes são prioridade absoluta na nossa Constituição. Esse posicionamento é um pesadelo macabro. Quando retomarmos as aulas, será assustador.

Nos Estados Unidos, as crianças não vacinadas estão sendo internadas com rapidez. E Queiroga, com cegueira seletiva, celebra a vacinação que ele não defende, impõe uma consulta pública como se isso fosse parâmetro para o Plano Nacional de Imunização. Desconhece o próprio sistema que gere.

É só por conta da teimosia da população brasileira que o número de mortes por covid desacelerou. Porque a gente quis se vacinar. Queremos, agora, vacinar nossas crianças, queremos doses de reforço logo e para todos. Queremos um plano para enfrentar a ômicron.

A dificuldade que outros países mais sérios estão discutindo é que nessa próxima onda não há objetivo claro: já nos vacinamos, temos doses de reforço, há vacinação de crianças. Qual seria a meta desta vez?

Líderes mundiais mais comprometidos estão indo a público nas festas de fim de ano para pedir que se retome o uso de máscara, que se exija comprovante de vacinas e buscam disponibilizar a maior quantidade possível de testes. Aqui, desde que a médica infectologista Luana Araújo foi destituída do cargo antes de tomar posse, não há plano para a testagem em massa, que seria um de seus papéis.

Estamos nas mãos de lideranças que não se importam com a vida, que têm fixação em destruir. Se Queiroga almeja algum cargo político em nome de obter foro privilegiado, usa a estratégia errada. Deveria defender a vacina, fazer um plano de contenção da ômicron e não mandar mensagens autoritárias como se fosse o dono da razão. Nada do que estamos vivendo hoje é racional ou razoável. Estamos em perigo.