Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Top 10: O melhor e o pior do jornalismo de televisão em 2021
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Foi mais um ano difícil para o jornalismo profissional. Sob pressão de um governo que enxerga parte do meio como "inimigo" e se sente à vontade para não dar explicações de seus atos, a mídia oscilou entre a crítica e o conformismo, entre a resistência e o governismo.
Listo abaixo dez momentos que me chamaram a atenção em 2021 - cinco de forma positiva e cinco negativamente. Como toda lista, esta não tem a pretensão de ser a última palavra sobre o assunto. Ao contrário, é bem pessoal e sujeita a críticas e comentários.
Melhor
Contra o negacionismo: O "Jornal Nacional" teve papel muito importante ao longo de toda a pandemia. Este ano, em particular, o principal telejornal da Globo deixou as meias palavras de lado e atacou de frente os esforços oficiais de negação da pandemia, a desqualificação das vacinas e as fake news difundidas por círculos bolsonaristas. Ainda em janeiro, o apresentador William Bonner desabafou: "Neste momento, infelizmente, além de dar as notícias, de trazer as informações corretas, nós estamos esgrimando com loucos, com irresponsáveis, com gente que é capaz de entrar num WhatsApp da vida e sair espalhando mentira ao bel prazer. Mas as mentiras mais absurdas, as mais absurdas, crendices".
Contra o racismo: Num momento antológico, exibido apenas no telejornal local de São Paulo, o jornalista Fabio Turci fez um comentário contundente sobre o racismo no Brasil. Após descrever dois episódios de discriminação racial sofridos pelo operador de câmera Itamar, do "SP1", Turci dirigiu-se ao espectador e disse: "O nosso papel é informar. A gente está levando informação a você e o que você faz com essa informação? Você se conforma? Está tudo certo assim? Ou você acha que isso não está certo, que isso não está justo e você acorda e tenta fazer alguma coisa?".
Governista, mas a favor da vacina: A pandemia de coronavírus, que já causou mais de 600 mil mortes no país, colocou profissionais e canais alinhados com o governo diante de um dilema: acatar o negacionismo oficial ou salvar a vida dos seus próprios espectadores? Tanto a Record quanto o SBT adotaram posições claramente favoráveis à vacinação, mas tomando o cuidado de não criticar muito os esforços do presidente Bolsonaro de atrapalhar o processo. Quando começou a vacinação em São Paulo, o "Jornal da Record" destacou a falta de entusiasmo do presidente com a boa notícia (a aprovação da vacina pela Anvisa) e lembrou que o presidente, em outubro de 2020, atrapalhou a negociação para a compra da CoronaVac.
Contra fake news: Ao assumir o comando da CNN Brasil em maio, Renata Afonso prometeu: "Não vamos passar por cima dos fatos e da verdade porque saiu da boca de uma pessoa ou de outra. A gente vai corrigir qualquer inverdade. A intenção de colaborar com um país tão polarizado é mostrar que as diferenças podem conviver de uma forma saudável e propositiva". Em setembro, a executiva rescindiu o contrato do comentarista Alexandre Garcia, defensor de tratamento precoce (ineficaz) contra covid, e em outubro não renovou com Caio Coppolla, um entusiasta do governo.
Dando nome à violência contra repórteres: Jornalistas brasileiros voltaram a ser alvo de ameaças, ofensas e, até, violência física em 2021. Num episódio clamoroso, repórteres que acompanhavam uma visita do presidente Jair Bolsonaro a Roma foram empurrados e atacados por seguranças. Em outro episódio, na Bahia, profissionais foram pressionados, maltratados e agredidos por seguranças e apoiadores do presidente. Numa nota muito clara sobre este último caso, a Globo disse: "As cenas bárbaras de hoje e aquelas ocorridas na Itália, ensejam duas constatações: se os seguranças agem por conta própria, a Presidência deve ser responsabilizada por omissão. Se agem seguindo ordens superiores, a Presidência deve ser responsabilizada por atentar contra a liberdade de imprensa e fomentar a violência contra jornalistas."
Pior
Em defesa da ivermectina: O "RedeTV! News" exibiu em março uma reportagem de sete minutos exaltando o uso da ivermectina, um antiparasitário recomendado para combater piolhos, no tratamento da covid-19. A assessoria de comunicação do canal disse que havia duas frases, perdidas em meio à longa reportagem, mencionando brevemente a falta de eficácia da ivermectina no combate à doença. Um vexame que não pode ser esquecido.
Michael Jackson não morreu: Fascinado por teorias da conspiração, o apresentador Luiz Bacci defendeu no "Cidade Alerta", na Record, a ideia de que o cantor Michael Jackson (1958-2009) está vivo. Por cinco minutos, ele espalhou mentiras e desinformação a respeito, ao vivo, na TV. Ele já havia defendido a mesma história durante o "Balanço Geral", em 2014. "Olha eu confesso pra vocês que nem Michael Jackson eu acredito que morreu. Tá rindo do quê? Michael Jackson morreu?", perguntou em março. O tipo de programa que Bacci faz resiste na televisão porque rende audiência.
Eufemismos para a ameaça golpista: No dia mais tenso de 2021, o 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro fez discursos em Brasília e em São Paulio com ameaças golpistas. Essas ameaças não foram relatadas de forma clara na abertura dos principais telejornais da Band, SBT e Record. Os três amenizaram a gravidade do ato e das palavras de Bolsonaro e evitaram dizer com todas as letras o que aconteceu neste 7 de setembro. Só a Globo mencionou o "tom golpista" de Bolsonaro na sua "escalada" (a leitura das principais notícias do dia).
Lula escondido: A primeira pesquisa do Datafolha sobre a eleição de 2022 desde que o STF anulou as condenações judiciais do ex-presidente Lula (PT), divulgada em 13 de maio, foi uma das principais notícias daquele dia. Mas não mereceu menção no "Jornal Nacional", o principal telejornal do país. Após muitas críticas, em junho, a emissora começou a divulgar pesquisas eleitorais referentes a 2022. A Globo argumentava que só divulgava pesquisas após a inscrição oficial dos candidatos, o que só ocorre alguns meses antes das eleições. A regra interna foi alterada.
Sem conexão com a Cultura: A passagem do célebre "Manhattan Connection" pela TV Cultura durou apenas nove meses, e foi marcada por episódios lamentáveis. Em fevereiro, em vez de promover algo dito pelo convidado, o ex-ministro Fernando Haddad, a emissora destacou na divulgação as ofensas ditas por um dos apresentadores da atração, Diogo Mainardi. Em abril, o comentarista xingou o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro. O palavrão foi coberto por um bip sonoro, mas foi possível entender o que ele disse. E em setembro, a deputada estadual Janaína Paschoal disse que o programa foi cancelado por causa das críticas que fez ao governador João Dória. A Cultura classificou a fala como "absolutamente infundada".
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