Se esquerda perder Fortaleza para deputado golpista, derrota será dolorida
Independente do resultado das eleições de Fortaleza, uma das mais disputadas do país, o deputado federal André Fernandes (PL) já pode ser considerado um "vencedor".
Ele responde à investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) por instigar os ataques do 8 de janeiro e em vídeo que circulou na campanha minimiza o feminicídio.
E, mesmo com um currículo assim, tem chances concretas de vencer a eleição na cidade mais populosa do Nordeste, um reduto do lulismo.
Segundo pesquisa Quaest divulgada nesta quinta-feira, Fernandes tem 42% das intenções de voto e Evandro Leitão (PT) tem 44%, o que configura um empate técnico.
"Ele já é um vitorioso. Venceu as primárias da direita, derrotando Capitão Wagner, que mingou para um resultado inexpressivo", diz o cientista político Antônio Lavareda. Figura conhecida da direita na capital cearense, Wagner, do União Brasil, teve apenas 11,4% dos votos.
Fernandes fez um campanha baseada no discurso "antissistema" numa mistura de Nikolas Ferreira (PL), de quem é amigo, com Pablo Marçal (PRTB), por seu perfil de influenciador digital.
Ninguém se importava com ele no início da corrida e agora o deputado arrasta centenas pela cidade em comícios que parecem micaretas.
Seus aliados dizem que sua eventual vitória será "o início da derrocada do lulismo no Nordeste".
Cientistas políticos não vão tão longe e afirmam que Fortaleza vive também um contexto político local específico, que é a guerra entre os irmãos Ciro e Cid Gomes, e entre Ciro e o ex-ministro da Educação, Camilo Santana.
Com Ciro à frente, essa guerra levou parte do PDT a apoiar o candidato bolsonarista. O atual prefeito José Sarto (PDT) teve 11,5% dos votos, mas conhece a máquina e está ao lado do PL.
"A família Ferreira Gomes está dividida demais e isso impacta o posicionamento das lideranças locais. Não diria que o PT está fragilizado, mas perdeu apoiadores importantes desde o racha de 2002", diz a cientista política Luciana Santana.
Aliados de Leitão dizem que estão adotando três estratégias para desconstruir a imagem do deputado golpista: associá-lo a Jair Bolsonaro, elevar sua rejeição entre as mulheres e mostrar sua inexperiência.
Até agora as pesquisas não permitem demonstrar se está dando resultado.
Fernandes evidentemente quer vencer, mas já ganhou muito mais do que esperava. Agora se a esquerda perder uma das principais cidades do Nordeste para um candidato com esse perfil, a derrota vai ser dolorida.
Faltam três dias para a eleição.
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