Pesquisas apontam (e pais concordam) que arte melhora desempenho escolar
Onde, quando, o que e como se aprende? "Escola e suas formas de ensinar" seria a resposta mais típica, e acertada, para essa pergunta. Mas não só. Uma perspectiva generosa sobre aprendizado vai entender que a educação está, literalmente, por toda a parte.
A tarefa de preparar o ser humano para enfrentar a vida ocorre nos sistemas de ensino tradicionais, da creche à universidade (o que chamamos de educação formal); em cursos variados fora do sistema oficial — de línguas, música, esporte (educação não formal); e na "escola da vida", todas as lições que vamos aprendendo de forma difusa na convivência com diferentes pessoas e instituições (educação informal).
Essa última modalidade educativa costuma ser negligenciada. Na escola, a tentativa de formalizar esses aprendizados mais incidentais costuma aparecer nas aulas de arte, tradicionalmente considerada uma disciplina "café com leite" por alunos e seus responsáveis, alguns professores e mesmo propostas curriculares, que defendem um enxugamento para focar apenas nas disciplinas "sérias" (leia-se Língua Portuguesa e Matemática). Mas há mudanças de percepção. Uma sondagem encomendada pela Fundação Itaú ao Datafolha revelou que a imensa maioria dos pais — 97% — considera importante que os filhos realizem atividades culturais. Mais: atribuem melhorias no desempenho escolar e nas relações sociais.
"É um resultado novo trazido pela pesquisa", avalia a economista Esmeralda Correa Macana, coordenadora do Observatório de Pesquisas em Educação e Cultura da Fundação Itaú. "Há décadas a importância da cultura e da arte no desempenho escolar aparece na literatura especializada. Mas a arte às vezes ainda aparece como 'primo pobre' das disciplinas. Não é. É positivo que esse entendimento também seja compartilhado por pais e responsáveis."
O levantamento ouviu 2.405 pessoas de 16 a 65 anos em todas as regiões do país, presencialmente ou por telefone. Dois em cada três entrevistados têm filhos. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A pesquisa aferiu a opinião sobre a influência positiva das atividades culturais em três áreas da vida dos alunos: no desempenho escolar, no relacionamento em casa e no relacionamento com outras pessoas. Em todos os casos, os percentuais de concordância chegaram a pelo menos 93% dos pais.
Uma outra pergunta avaliou a importância atribuída ao acesso à cultura na construção das chamadas soft skills, habilidades comportamentais subjetivas tidas como essenciais para a vida em sociedade. Os maiores graus de concordância apareceram para a criatividade (55%), autoconhecimento (40%), empatia e cidadania (ambas com 36%).
"Novamente, o resultado diz respeito à escola", afirma Esmeralda. "Criatividade, empatia e autogestão estão na Base Nacional Comum Curricular como competências essenciais para a educação." Mas podem acabar sendo deixadas em segundo plano porque as avaliações atuais não dão conta de medi-las.
As pesquisas mostram, ainda, que há uma questão metodológica a considerar. Costuma ser contraproducente tentar "ensinar" criatividade, por exemplo, em uma disciplina específica, com giz, lousa, livro didático etc. O que se sabe hoje é que esse tipo de competência leva tempo para ser desenvolvido e se reforça por outras formas mais sutis, típicas da educação informal: o exemplo, a construção de repertório, a capacidade de tecer ligações entre diferentes áreas e mesmo a habilidade para jogar e brincar. "Por isso, a recomendação é tratar o assunto de forma transversal em todas as disciplinas, o que pede um difícil esforço conjunto de toda a comunidade escolar", finaliza Esmeralda.
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