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Tales Faria

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Lula não quer interferir no Rio por temer ligações da polícia com a milícia

Após 35 ônibus e um trem serem incendiados no Rio de Janeiro, a possibilidade de uma intervenção foi posta pela própria população para que a situação seja controlada. Durante o programa Análise da Notícia, entretanto, o colunista do UOL Tales Faria afirmou que o governo federal não tem intenção de intervir na situação, apenas continuar cumprindo suas obrigações federais.

Lula não quer interferir no Rio de Janeiro por temer ligações do governo do Rio de Janeiro e da polícia com a milícia. Tales Faria

Questão de fundo é possível ligação do governo com as milícias nos ataques. O governo federal não pretende entrar na questão de segurança no Rio de Janeiro por não saber quais são as ligações do governo com as milícias. O governador Cláudio Castro (PL) foi vice de Wilson Witzel, que na onda do bolsonarismo adotou uma política de "tiro, porrada e bomba" na questão da segurança pública. Essa política acaba beneficiando e fortalecendo as milícias, que se empoderam e dominam a cidade do Rio de Janeiro.

Atuação das milícias cresceu nos últimos anos. Um estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) mostra que desde 2019 houve um crescimento das milícias e hoje elas dominam 60% das regiões da cidade. Há uma desconfiança de que o governo esteja por trás dos ataques, uma vez que o atual secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro fez campanha com milicianos na Baixada Fluminense durante as eleições. Há uma desconfiança de que a polícia do Rio de Janeiro esteja atuando a favor de determinados grupos de milicianos.

Milícias se aliaram ao narcotráfico. As organizações criminosas começaram a ganhar força no Rio de Janeiro nos anos 80, ao passo que as milícias apareceram nos anos 90, através de ex-policiais e ex-bombeiros, para se opor ao narcotráfico e aos grupos criminosos. Essas milícias se opunham ao narcotráfico, mas, recentemente, está surgindo uma nova categoria que é a de narcomilicianos. Há alguns milicianos que racharam e se aliaram ao narcotráfico e, além disso, há a suspeita de que o miliciano Faustão, que foi morto por policiais, fosse da ala da milícia ligada ao narcotráfico. A morte dele desencadeou a onda de ônibus queimados.

Lula já tem problemas demais na área externa. Lula, apesar de admitir a possibilidade de usar o Exército para ajudar o governo do Rio de Janeiro, não está querendo intervir. O governo federal já tem problemas demais na política externa com os conflitos entre Israel e Hamas e também por presidir o Conselho de Segurança da ONU. Além disso, há a preocupação em resgatar brasileiros que não conseguem sair da Faixa de Gaza.

Problemas internos no Congresso. Como se não bastassem os problemas na política externa, desde que Lula foi operado o Congresso também ficou parado. Lula não podia atender demandas do centrão como a nomeação de cargos na Caixa Econômica Federal, além de emendas e benesses, e por isso, o Congresso e votações importantes ficaram paradas nas últimas semanas.

Governo pretende exercer apenas atos federais. A intenção do governo é atuar no Rio de Janeiro cuidando apenas de atos federais e da atuação da Polícia Federal. Não há a intenção de se misturar com a polícia do Rio de Janeiro por haver a desconfiança de que ela não é confiável e não existir certeza de que algum grupo específico possa ser beneficiado com a ajuda federal.

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O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas às 19h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja abaixo o programa na íntegra:

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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