Amorim diz que Genoino se equivocou, e petista afirma que mudaria expressão
O ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino disse à coluna que hoje usaria uma expressão diferente para defender o boicote ao governo de Israel.
Há alguns dias, numa transmissão ao vivo, Genoino afirmou que "essa ideia da rejeição, essa ideia do boicote por motivos políticos, que fere o interesse econômico, é uma forma interessante. Inclusive ter esse boicote a determinadas empresas de judeus". E prosseguiu: "Há, por exemplo, boicote a empresas vinculadas ao estado de Israel. Inclusive eu acho que o Brasil deveria cortar as relações comerciais na área da segurança e na área militar com o estado de Israel".
A fala motivou uma notícia-crime da Conib (Confederação Israelita do Brasil) exigindo investigação de Genoino por racismo e incitação ao crime.
O ex-chanceler e assessor especial da Presidência Celso Amorim disse à coluna que "Genoíno se equivocou ao falar de judeus". "Somos contra qualquer forma de antissemitismo. Estou certo de que ele também é. A questão não é religiosa ou étnica", completou Amorim.
Quanto a eventuais medidas tomadas contra Israel, Celso Amorim afirmou "aguardar o que dirá a CIJ (Corte Internacional de Justiça)". Nesta sexta, a Corte determinou que o governo de Israel tome medidas para "prevenir um genocídio" e deu seguimento ao processo aberto pela África do Sul, e apoiado pelo Brasil, que acusa o governo Netanyahu de cometer genocídio com a guerra na Faixa de Gaza. A CIJ, contudo, não acatou o primeiro pedido sul-africano e não determinou o cessar-fogo.
Questionado se defenderia boicote a empresas de católicos ou de evangélicos ou de qualquer outra crença que prestem serviços ao governo de Israel, Genoino disse que sim.
"Para mim pode ser empresas vinculadas a outros tipos de crenças. Se quiser saber minha opinião, hoje eu usaria a expressão 'empresas vinculadas ao governo de Israel', que é o que explico depois. Não estou fazendo autoavaliação. Diante dessa situação, hoje eu uso o conceito de empresas que prestam serviço ao governo de Israel. Assim não dá margem à interpretação. Essa expressão é a mais adequada", afirmou Genoino.
Ele reiterou a defesa do boicote como "arma pacífica contra a ocupação militar". "Eu não sou antissemita, sou contra qualquer preconceito contra o povo judeu", prosseguiu. Genoino disse ser favorável à existência de dois Estados, o judeu e o palestino, e que o palestino seja "respeitado por Israel e tenha viabilidade econômica e política", e "espera que haja sustação do genocídio".
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, disse à coluna que a primeira fala de Genoino na transmissão ao vivo "representa uma coisa difícil e perigosa" e espera que não represente nem o Partidos dos Trabalhadores nem as autoridades do governo Lula. "Acredito que antissemitismo não é uma coisa que o governo pode aceitar", afirmou.
Confrontado pelas formas de antissemitismo incorporadas pelo bolsonarismo e pela necessidade de repudiá-las da mesma forma, Zonshine afirmou que não estava no Brasil, por exemplo, quando o secretário da Cultura de Bolsonaro imitou o ideólogo nazista Joseph Goebbels.
"A amizade que recebemos do governo Bolsonaro foi muito apreciada. Não estou dizendo que aceitamos todos os fenômenos que acompanharam o governo anterior", disse o embaixador. "Não tenho certeza se podemos aceitar tudo como um pacote, mas não é inteligente cortar ligações com amigos. A ideia é criar novos amigos, e não deixar os antigos."
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