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Wálter Maierovitch

OPINIÃO

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Mendonça: notório saber e reputação ilibada?

André Mendonça, indicado de Jair Bolsonaro, em sabatina para vaga no STF - Edilson Rodrigues/Agência Senado
André Mendonça, indicado de Jair Bolsonaro, em sabatina para vaga no STF Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Colunista do UOL

01/12/2021 20h43Atualizada em 01/12/2021 20h43

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André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, emplacou. Bateu na trave e entrou. Precisava de maioria absoluta (41 votos) e obteve aprovação por 47 votos. Teve outros 32 pela sua rejeição.

Venceu em razão do trapalhão senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ao engavetar por três meses a indicação de Bolsonaro, provocou uma justa reação dos evangélicos (mais sobre isso neste artigo).

Com pressão total dos evangélicos, muitos senadores ficaram mais de olho nos votos do que em dar atenção aos dois requisitos constitucionais: notório saber jurídico e reputação ilibada.

Mendonça colocou a religião à frente da Constituição e da ciência ao defender a liberação dos templos, em plena pandemia.

Não se opôs ao negacionismo de Bolsonaro. E, na sabatina de hoje, junto à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, disse sentir muito pelas mortes.

Com sabujismo explícito, chegou a prestar continência a Bolsonaro, que saiu pela porta dos fundos do nosso Exército nacional. Como se não bastasse, o chamou de profeta.

Mendonça abandonou as confissões lavajatistas para agradar aos senadores. Sergio Moro e Deltan Dallagnol enviuvaram. Da mesma maneira, nem mais toca nas erráticas propostas legislativas dadas, pela dupla Moro-Dallagnol, como indispensáveis ao combate ao crime. Uma delas, apoiada por Bolsonaro, dava licença para policiais matarem.

Sabujo e carreirista, Mendonça colocou a Lei de Segurança Nacional (LSN) acima da Constituição, que garante a liberdade de pensamento e crítica. Hoje, na sabatina, virou o Pinóquio, personagem do jornalista e escritor Carlo Collodi. Sem corar, disse não ter proposto a aplicação da LSN, mas não ser a favor de abusivas ofensas contra a honra.

Mendonça, há pouco, participou de um livro laudatório a Toffoli. E virou o candidato ao STF (Supremo Tribunal Federal) com o apoio do polêmico ministro Gilmar Mendes, que aumenta os seus seguidores no Supremo.

Enfim, André Mendonça não contava com o notório saber jurídico nem com a reputação ilibada exigidos pela Constituição.

Num pano rápido, não foi Mendonça que venceu, mas os evangélicos. Evangélicos que legitimamente entraram de corpo e alma na luta política pela aprovação em razão da provocação barata de Davi Alcolumbre. Os do credo evangélico tinham nomes sérios e muito melhores.