Wálter Maierovitch

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Opinião

Putin ameaça bombardear Europa, e Lula fica diante de 'escolha de Sofia'

Ontem, o mundo tremeu, o direito internacional foi mais uma vez para o espaço, e Lula, orientado pelo chanceler de fato Celso Amorim e após conversa telefônica informal com o autocrata russo Vladimir Putin, passou a viver, no campo da política externa, uma "escolha de Sofia". Refiro-me ao dilema dramático da mãe polonesa do livro de William Styron.

Mundo tremeu

Na sede do Parlamento Europeu, em Bruxelas, foi votada e aprovada, na quinta feira (19), resolução, não vinculante aos 27 Estados-Membros, geradora de imediata resposta ameaçadora de Putin.

A resolução recomenda aos Estados-Membros, fornecedores de armas de longo alcance à Ucrânia, a retirada de veto de emprego fora das fronteiras.

Putin deu o recado ameaçador e que ficou claro aos bons entendedores: "Míssil Samart poderá alcançar Bruxelas em três minutos".

O autocrata Putin ameaçou destruir a sede da União Europeia, na capital belga. Atenção: em três minutos após aperto do botão de disparo.

Resolução

A resolução convidou, frise-se, os seus Estados-Membros a "revogar imediatamente as restrições sobre o uso das armas ocidentais consignadas à Ucrânia para emprego contra objetivos militares legítimos em território russo".

A base jurídica da resolução está na carta constitutiva das Nações Unidas, asseguradora da soberania das nações.

Por seu turno, o direito internacional admite o instituto da legítima defesa, no caso, a reação da invadida Ucrânia, em defesa da sua soberania nacional, territorial.

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No particular, a Eurocâmara apontou a seguinte motivação para aceitação pelos Estados-Membros: " Sem a possibilidade de a Rússia ser golpeada, Kiev (Ucrânia) não pode exercitar o direito à autodefesa e permanecerá exposta a ataques contra a sua população e as suas infraestruturas".

Parêntese: a menção às infraestruturas decorre da destruição de 40% das redes de energia elétrica, que preocupa diante da chegada do próximo inverno europeu. E tem mais: na segunda-feira (23), o G7 terá a energia no centro dos debates. Fechado parêntese.

Como já mencionado, a resposta ameaçadora de Putin foi rápida, no mesmo dia da aprovação da resolução por 327 votos, com 191 contrários e 51 abstenções.

Para os operadores do direito internacional e do direito humanitário internacional, o mundo tremeu. Os especialistas em geoestratégia e em geopolítica falaram em risco alto de uma Terceira Guerra Mundial.

Putin, no encontro de hoje cedo com a Comissão Militar-Industrial, deixou claro que Zelensky já tem armas de longo alcance para atingir a Rússia —carece apenas de autorizações dos países europeus, da Otan e dos Estados Unidos. Mais ainda: Putin, sem reserva, falou aos chefes militares do aumento da produção de drones. A produção chegaria a 1,4 milhão de drones. Serão acrescidos aos 140 mil em estoque desde 2023.

Não se descarta do cenário atual dois fatos:

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  1. O farto arsenal bélico russo da cidade de Tver foi destruído pelas ações bélicas de Kiev. A cidade fica a 500 km da linha de fronteira e a cerca de 200 km de São Petersburgo, segunda maior cidade russa.
  2. A antiga cidade russa de Kursk, distante pouco mais de 100 km da fronteira, está sob controle das tropas ucranianas.

Em síntese, Kiev já ataca o território russo em defesa e espera a liberação de mísseis de longa distância, de fabricações americana e europeia.

Drama de Lula

Lula, nos mandatos anteriores, teve enorme prestígio internacional. A lembrar, a frase do então presidente Barack Obama: "esse é o cara".

Na Europa e nas Nações Unidas, a admiração e o prestígio eram notáveis. Por exemplo, o programa Fome Zero levou Lula a indicar um brasileiro para presidir a FAO, órgão da Nações Unidas voltado à alimentação, sediado em imponente complexo localizado no centro histórico de Roma, ao lado do Circo Massimo.

Tudo mudou neste terceiro mandato. Lula, mergulhado em incontrolável egolatria, quer a volta da liderança e do respeito perdidos. Sonha em liderar o chamado Sul Global, colocou a ex-presidente Dilma no banco do Brics e está encantado com Putin —em segundo lugar em preferência, está o presidente chinês.

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Lula até esquece que conquistou o terceiro mandato com o voto dos democratas, em especial dos progressistas e humanistas. E todos estavam igualmente preocupados com o fato de o antidemocrático Jair Bolsonaro ter, nas sua presidência, colocado o Brasil na condição de "pária internacional".

Putin já é tido como autocrata sanguinário e imperialista. Num sabujismo sem precedentes, Lula assinou uma ridícula proposta de paz para o fim da guerra na Ucrânia.

Em pareceria com a China, a proposta, além de repetir princípios do direito internacional descumpridos em face da invasão pela Rússia, chega ao ponto absurdo de consolidação dos territórios ucranianos invadidos, ou seja, o prêmio pela esbulho, pela invasão. Por exemplo, Donetsk, com Donbass incluso, passaria a pertencer à Rússia.

Atenção: foi da boca de Lula que saiu a infeliz frase de os dois países, Rússia e Ucrânia, serem culpados pela atual guerra.

Sempre orientado por Celso Amorim, o presidente Lula resta, diariamente, desmoralizado pelo tirado venezuelano Nicolás Maduro. Como Amorim, Lula espera pelas atas eleitorais de uma eleição de fraude notória.

Lula poupou o quanto pode a ditadura da Nicarágua. Como reconhecimento, o ditador Daniel Ortega expulsou o embaixador brasileiro, e o motivo foi pífio: ele não compareceu à comemoração do aniversário da Revolução Sandinista.

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A posição contra o presidente israelense Netanyahu, por parte de Lula, é elogiável e na conformidade com o direito internacional humanitário.

Só que Lula, pelo partidarismo da incapacidade para separar o joio do trigo, já é visto como antissemita, pois não tem posições firmes com relação ao terrorismo do Hamas e do Hezbollah, braços do Irã, poupados pelo nosso presidente. E isso porque o Irã formou o bloco informal de apoio à Rússia.

Lula esquece que a constituição de dois Estados independentes é a tecla principal, ideal. Essa seria a meritória atuação pró-Palestina, diante de um povo palestino oprimido, que sofre do apartheid na Cisjordânia e do bombardeamento sem preocupação com civis inocentes em Gaza.

Na verdade, Lula, com claros indicativos de desprezo pelo Ocidente e pelos seus valores, e diante de um mundo que volta à polarização semelhante ao tempo da Guerra Fria, terá de fazer escolhas definitivas.

Não dá mais para, por exemplo, a diplomacia brasileira ter uma posição junto às Nações Unidas e Lula fazer e pregar o contrário, pela cabeça de Celso Amorim.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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