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Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Bolsonaro distorce dados sobre voto eletrônico, cloroquina e desemprego

Juliana Arreguy e Douglas Maia

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Curitiba

06/05/2021 22h09

Na live de hoje (6), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendeu o voto auditável, que já existe no Brasil, e distorceu afirmações sobre hidroxicloroquina, taxa de desemprego e vacinação.

Bolsonaro afirmou que, "se não tiver voto impresso, é sinal de que não vai ter eleição", ao pedir pela aprovação de um projeto na Câmara sobre o tema. O projeto é encabeçado pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), aliada do presidente.

Bolsonaro ainda ironizou e deturpou publicações da imprensa sobre não ter utilizado máscaras em locais públicos. Como exemplo, citou o caso em que fez um passeio de lancha em Praia Grande (litoral de São Paulo): "Bolsonaro nada sem máscara na Praia Grande".

O texto publicado pelo UOL na ocasião não se referiu ao uso de máscara, e sim à aglomeração promovida pelo presidente da República num momento em que o país registrava aumento do número de mortes e casos de covid-19.

O UOL Confere verificou as principais declarações dadas pelo presidente na noite de hoje.

É falso que desemprego foi menor em 2020 do que em 2019

Agora, a questão do desemprego, é a metodologia. Terminamos 2020 com mais empregados do que terminamos 2019.

O desemprego atingiu nível recorde no Brasil em 2020, segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa média anual de desemprego foi de 13,5%, valor acima de 2019 (11,9%). Houve recuo de 7,9% da quantidade de trabalhadores com carteira assinada e aumento de 16,1% de desalentados.

"A metodologia diz que desempregado é só quem procura emprego", justificou o presidente. O IBGE considera desalentada a pessoa que desistiu de procurar emprego por desânimo com o mercado de trabalho, seja diante de sucessivas negativas ou falta de opções.

Um relatório do Banco Central, publicado no ano passado, frisa que a falta de alternativas contribuiu para o aumento do índice. "Ressalta-se que a expectativa de encontrar emprego é um dos principais determinantes da evolução do desalento", diz trecho do texto.

É falso que Brasil é o único país a utilizar voto eletrônico

A única republiqueta do mundo que aceita isso acho que é a nossa, que aceita essa porcaria, esse voto eletrônico.

Segundo o Idea (Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Social), organização não governamental que estuda processos eleitorais pelo mundo, até 2015 pelo menos 23 países utilizavam votação eletrônica em eleições gerais e 18 em eleições regionais. Além do Brasil, Canadá, México, Argentina, Rússia, Índia, França e Namíbia são alguns dos países que realizam eleições com votação eletrônica.

Dentre os países com urnas eletrônicas, ao menos 15 possuem urnas de votação eletrônica de gravação direta, ou seja, não imprimem comprovantes individuais de voto, como ocorre nas eleições brasileiras.

Por aqui, as urnas registram os votos eletronicamente, mas emitem um comprovante impresso com todos os votos registrados na seção, chamado Boletim de Urna. O documento é tornado público no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) logo após o fechamento da seção, o que permite a conferência, mas preserva o anonimato dos eleitores.

É falso que urnas eletrônicas não são auditáveis

Quem quer uma democracia e quer que o voto valha de verdade tem que ser favorável a quaisquer novas medidas para tornar o voto auditável.

As urnas utilizadas nas eleições brasileiras já são auditáveis e são testadas com regularidade sobre sua segurança. Já foi constatado que os dados principais são invioláveis e não podem ser infectados por vírus que roubam informações.

O TSE afirma que não há indícios de fraude nas eleições desde 1996, quando as urnas eletrônicas foram adotadas.

Segundo a Constituição, qualquer alteração no processo eleitoral deve ser aprovada ao menos um ano antes da votação.

É falso que efeitos de tratamento com hidroxicloroquina não estejam relacionados a mortes

Eu nunca vi ninguém morrer por ter usado hidroxicloroquina.

Os dados mais recentes do Painel de Notificações de Farmacovigilância, mantido pela Anvisa e atualizado em 2 de maio de 2021, registram pelo menos dez óbitos após efeitos adversos da cloroquina desde o início da pandemia, além de dois casos registrados como "recuperados com sequelas".

O painel também registra uma disparada nas notificações de efeitos adversos ao medicamento a partir de março de 2020. No período, a Anvisa fez 897 notificações de efeitos relacionados à cloroquina, hidroxicloroquina ou sulfato de hidroxicloroquina. Se considerados outros medicamentos do chamado "kit covid" (que também inclui azitromicina e ivermectina), o número de notificações salta para 1.403.

Um painel de especialistas internacionais da OMS (Organização Mundial da Saúde) confirmou que a hidroxicloroquina não deve ser usada para tratamento da covid-19. Os cientistas do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes do órgão analisaram os resultados de seis ensaios clínicos com mais de 6.000 participantes.

Os resultados publicados pelo painel apontaram que o medicamento "não influencia a taxa de infecção e provavelmente aumenta o risco de efeitos adversos".

Em seu site, a Anvisa também admite que não há comprovação científica sobre o tratamento com cloroquina contra a covid-19 e afirma que não recomenda a utilização do medicamento em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus.

O Boletim de Farmacovigilância nº 14 da Anvisa, de janeiro de 2021, reúne diversos estudos que apontam riscos de efeitos adversos no uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, especialmente quando somadas à ingestão da azitromicina, outro medicamento do "kit covid".

É falso que não há do que acusar governo em CPI

Continua a CPI da Covid, não tem do que nos acusar, fizemos todo o possível.

O colunista Rubens Valente, do UOL, divulgou um documento elaborado pela Casa Civil que listava 23 acusações contra o governo Bolsonaro na condução do combate à pandemia, o que inclui a falta de interesse na compra de vacinas da Pfizer em agosto passado e promoção da hidroxicloroquina mesmo sem comprovação da eficácia contra a covid-19. O UOL Confere levantou ações do governo que justificam os questionamentos.

Brasil é o 4º com mais doses aplicadas, mas 12º no total percentual da população vacinada

Somos hoje o quarto país que mais vacina no mundo.

A afirmação de que o Brasil está entre os países que mais vacinam no mundo, repetida diversas vezes pelo presidente e já desmentida anteriormente pelo UOL Confere, leva em consideração números absolutos de doses aplicadas, sem diferenciar as populações de cada país.

Segundo o painel de vacinação mundial Our World In Data, da Universidade Oxford, o Brasil está atrás de Estados Unidos, Índia e Reino Unido e à frente da Turquia no ranking do total de segundas doses aplicadas. No entanto, ao verificar o que os números correspondem no percentual populacional de cada país, o Brasil é o 12º da lista.

Com mais de 212 milhões de habitantes, o Brasil tem população duas vezes maior que a da Turquia e três vezes maior que a do Reino Unido.

Até a noite desta quinta-feira (6), o Reino Unido apresentava 24% da população vacinada com a segunda dose (cerca de 16,9 milhões de pessoas), enquanto o Brasil foi listado com apenas 7,02% de habitantes vacinados com a segunda dose (14,9 milhões).

A Turquia, apesar de ter 9,8 milhões de vacinados com a segunda dose, tem um percentual maior da população alcançado: 11,7% receberam a imunização completa contra o vírus.

O UOL Confere é uma iniciativa do UOL para combater e esclarecer as notícias falsas na internet. Se você desconfia de uma notícia ou mensagem que recebeu, envie para uolconfere@uol.com.br.