É falso que Correios estejam leiloando iPhones a partir de R$ 117

É falso que os Correios estejam promovendo leilão de smartphones com valores a partir de R$ 117. O site desinformativo sugere que 1398 dispositivos eletrônicos estão disponíveis para a compra.

Os Correios emitiram nota desmentindo a existência de qualquer evento do gênero. "Os Correios esclarecem que não há leilão de refugo em andamento", disseram.

Veja o que fazer caso tenha caído no golpe.

O pedido de checagem foi enviado por um leitor do UOL Confere pelo WhatsApp (11) 97684-6049.

O que diz o post?

Postagens nas redes sociais, sob a promessa de obter itens eletrônicos por preços abaixo do mercado, direcionam para um site onde seria possível encontrar mais detalhes dos produtos que supostamente estariam no leilão. A página usa o logo oficial dos Correios e do governo brasileiro.

"LEILÃO DOS CORREIOS BRASIL REF 547875. Últimas unidades", diz o cabeçalho do portal.

Abaixo, aparece: "LOTE LEILÕES REF 547875 - 1398 PRODUTOS ELETRÔNICOS. Localização São Paulo - SP / São Paulo".

Em seguida há uma foto de uma caixa com vários iPhones e, ao lado da imagem, aparecem os diferentes lotes com mercadorias de preços variados.

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Também consta no site que já foram realizadas 15.487 visitas, 647 compras e 647 lances. Sendo a última compra do dia 1º de outubro.

O item mais barato do leilão é um iPhone, que sai por R$ 117,53, enquanto o mais caro é um lote completo com aproximadamente 1398 unidades, negociado por R$ 127.812,00.

Os produtos disponíveis nos lotes, de acordo com o site, são:

  1. iPhone 12 Pro Max 128gb;
  2. iPhone Xs Max 64gb;
  3. Carregador Turbo;
  4. Smart Watch;
  5. Capas de proteção iPhone;
  6. Drone DJI Mavic;
  7. Fone bluetooth;
  8. JBL Boombox e
  9. Samsung S23.

Por que é falso?

Em nota, os Correios desmentiram a alegação (aqui). "Os Correios esclarecem que não há leilão de refugo em andamento", disseram.

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A empresa pública também explicou que as alienações dos Correios são realizadas por meio de licitação, mediante publicação de edital, e em lotes, não por itens. Além disso, todas as informações oficiais são publicadas na página oficial dos Correios (aqui), o que não foi o caso.

Na mesma nota, os Correios disseram estar "tomando as medidas cabíveis quanto aos perfis nas redes sociais e na internet que utilizam de forma indevida a marca dos Correios em anúncios de leilões e/ou vendas que não têm qualquer relação com a empresa".

Site fraudulento utiliza o mesmo CNPJ empregado em outros golpes. Na verdade, o CNPJ 49.884.480/0001-90 é da Toplars Promoções e Logística Ltda, que está ativa segundo a Receita Federal. A empresa tem como sócio-administrador David Walace dos Santos Martins. Na última quarta-feira (4), o UOL Confere mostrou que uma suposta liquidação de produtos da Walmart, rejeitados pelo Carrefour, também era golpe. Na ocasião, o site utilizava o CNPJ da Toplars. A reportagem tentou contato pelo número informado no momento do registro da empresa na Receita Federal, porém, não obteve retorno.

Golpistas modificaram anúncios

Após a publicação desta reportagem, os golpistas passaram a trocar informações do primeiro anúncio e criar novos sites com o mesmo falso leilão - ao todo foram contabilizados 19 domínios diferentes.

Entre as modificações feitas, estava a referência utilizada para dar uma suposta legitimidade ao leilão. No primeiro anúncio constava a sequência 547875, enquanto nos outros sites começaram a aparecer as referências 440479, 400479 e 1.12983.

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Alguns sites também passaram a utilizar o CNPJ dos Correios e de outras empresas. O primeiro anúncio utilizava o CNPJ da Toplars Promoções e Logística Ltda, que já tinha sido empregado em outros golpes.

Ainda não se sabe quantas pessoas foram, de fato, lesadas neste golpe. O UOL Confere solicitou um levantamento para o Procon de São Paulo, mas ainda não houve retorno.

Em 21 de outubro, os Correios informaram que acionaram a Polícia Federal para apurar os casos de golpes de falso leilão. Em nota, os Correios afirmaram que acionaram ainda o Centro de Prevenção, Tratamento e Resposta a Incidentes Cibernéticos de Governo (CTIR.Gov) para proceder com a investigação dos respectivos sites que estão utilizando de forma indevida a marca da estatal.

Os golpistas chegaram a pagar para impulsionar anúncios do falso leilão nos Correios nas redes sociais, como revelou o UOL após a publicação desta reportagem. Em um dos "comerciais" foi gasto entre R$ 4000 a R$ 4500, segundo a Biblioteca de Anúncios da Meta, dona das marcas Facebook e Instagram.

Como não cair em um golpe

Fique atento às informações da empresa em que está comprando e desconfie de promoções excessivamente vantajosas. Pesquisar sobre a suposta empresa e observar com atenção o site podem ajudar a descobrir se o conteúdo é potencialmente fraudulento. É o que orienta Renata Reis, assessora técnica do Procon de São Paulo, e Marco Antonio Araujo Junior, professor de direito e especialista em direito do consumidor na era digital. Confira:

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Verifique se a empresa tem endereço informado e se há Serviço de Atendimento ao Consumidor. Caso tenha, entre em contato com o número informado e veja se atende e se é verdadeiro.

Observe se o site informa o CNPJ da empresa e se está devidamente formalizada.

Analise também reclamações sobre a empresa na internet. Verifique a reputação da empresa no site Reclame Aqui. Outra opção é consultar o Consumidor.gov.br, mantido pela Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça —para fazer uma reclamação, é preciso que a empresa esteja cadastrada na plataforma.

Consulte quem está sendo responsável por realizar esses leilões. "Em regra, os leilões oficiais são realizados por leiloeiros, que são profissionais com registro na Junta Comercial. É possível consultar, no site da Junta Comercial, se aquela pessoa responsável pelo leilão está ou não registrada como leiloeiro. Isso dá maior credibilidade ao leilão e segurança ao consumidor", observa Araujo Junior.

Leilões de órgãos públicos, como da Receita Federal ou dos Correios, sempre são realizados a partir de um edital previamente publicado, com indicação dos bens que serão leiloados. "Quase nunca são realizados leilões de bens unitários. A regra é que sejam realizados em lotes. Em alguns casos é possível fazer um visita ao local antes de realizar a compra para verificar o estado de conservação dos bens", observa o professor de direito.

Na hora de fazer o pagamento, fique atento se está pagando para a empresa responsável pelo leilão ou para o leiloeiro. Se não for para uma dessas duas pessoas, desconfie. Cuidado porque um dos principais atrativos para a compra desses bens em leilão é o preço. E isso pode encantar o consumidor a ponto de não permitir que ele perceba que está caindo em um golpe

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Se você recebeu o link da promoção por alguma rede social, verifique se o link é oficial. Golpistas costumam usar links muito parecidos aos de lojas verdadeiras para enganar. Confira a grafia do link com a grafia da empresa. Busque a promoção no site oficial da loja.

Evite esses sites. O Procon-SP mantém uma lista de lojas virtuais (veja aqui) que foram denunciadas por consumidores, principalmente pela falta de entrega do produto comprado, e que não responderam ao serem notificadas. A lista possui 91 sites. Confira clicando aqui.

Em compras virtuais, dê preferência a pagamento em cartão de crédito. As empresas operadoras atuam como mediadores das compras e podem auxiliar a identificar a fraude e até mesmo realizar o estorno do valor.

Ao optar por pagamento por Pix ou boleto, verifique antes de concluir o pagamento se o CNPJ é o mesmo da empresa. Se aparecer o nome de uma pessoa física, ou um nome diferente da empresa identificada, há indício de fraude, alerta a assessora técnica do Procon-SP, Renata Reis.

Caí em um golpe. E agora?

Registre o boletim de ocorrência imediatamente. A recomendação é do delegado Carlos Afonso Gonçalves, da Divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de SP. No estado de São Paulo, o registro pode ser feito de forma virtual pelo site da Delegacia Eletrônica (aqui).

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Faça uma reclamação contra a empresa no Procon. A orientação é da Secretaria Nacional do Consumidor. Veja quais são os canais e contatos para fazer a denúncia em cada estado do país aqui.

Entre em contato com o seu banco ou operadora do cartão de crédito para denunciar a fraude e tentar o estorno do valor.

Caso não consiga reaver o dinheiro, avalie entrar com uma ação judicial. No Juizado Especial Cível é possível ajuizar ações que tenham valor da causa menor que 20 salários mínimos sem a necessidade de ser acompanhado por um advogado. "Ajuizar ação para reaver eventuais prejuízos pode ser uma opção um pouco mais demorada. Mas orientamos que sempre que possível consulte um advogado de sua confiança para obter a melhor orientação jurídica", observa Araujo Junior

(*) Com informações de Isabela Aleixo, do UOL Confere.

Sugestões de checagens também podem ser enviadas para o email uolconfere@uol.com.br.

Fabíola Cidral conta como reconhecer logo de cara uma fake news

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