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Família não quer sair "de jeito nenhum" de vila destruída em Mariana (MG)

Família Silva Pereira resiste a sair de área de risco na vila de Paracatu, em Mariana (MG) - Carlos Eduardo Cherem/UOL
Família Silva Pereira resiste a sair de área de risco na vila de Paracatu, em Mariana (MG) Imagem: Carlos Eduardo Cherem/UOL

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Mariana (MG)

26/11/2015 19h03

"Uns falam que tem perigo, outros falam que não. A gente fica sem saber. Outro dia, o empregado da patrola (niveladora) que está trabalhando aqui perto, disse que só faz o serviço porque precisa muito trabalhar. Ele diz que o risco é grande. Mas também eu não vou deixar a minha casa para morar em hotel. De jeito nenhum", diz Beatriz Celestino da Silva Pereira, 43.

Beatriz, o marido, seu irmão e as duas filhas são os únicos moradores de Paracatu que não querem sair de sua casa. Assim, como todos os desabrigados, a Samarco ofereceu um quarto de hotel para eles até que a situação se normalize. A empresa, por determinação judicial, deve pagar essas estadias.  

Eles continuam morando na casa que fica na parte alta da vila, a única área que não foi completamente destruída, após o rompimento da barragem do Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), que provocou uma onda de rejeitos que chegou ao mar no Espírito Santo essa semana e causou pelo menos 11 mortes.

Além da barragem que rompeu, outras duas barragens, segundo a própria Samarco, têm risco de rompimento. São a de Santarém, que ficou parcialmente danificada, e a de Germano, também de rejeitos de minério de ferro, e que foi recém construída pela mineradora.  A empresa está fazendo obras de contenção para evitar novos acidentes.

Ela e o marido Osmar da Silva Pereira, 43, tomam conta de um sítio em Paracatu. "Ele não é caseiro, é trabalhador rural. Tá na carteira dele (do marido)", diz Beatriz da Silva Pereira.

O trabalhador rural recebe um salário mínimo por mês. A proprietária do sítio, uma mulher de 62 anos, vem ao Brasil somente duas vezes por ano, quando visita o sítio.

"Não conseguimos falar com ela ainda. Mas meu irmão, que mora em Mariana (MG), conseguiu avisar pra ela que estamos bem. Ela é uma pessoa muito boa e se preocupa com a gente", diz a esposa.

Lá, o casal plantava milho, feijão e amendoim, para sustento próprio. Osmar Pereira cuida de 30 cabeças de gado, não sabe o tamanho exato da propriedade, e tem um bezerro e sete cachorros.   "Não dá para vender nada, o pessoal (família) come muito feijão. Nunca vi gostar de feijão desse jeito", afirma Osmar da Silva Pereira.

A primogênita Carolina, 19, estuda em Mariana. Lá o casal cria Renata, 15, e Giovana, 8, que no período da tarde deixam o distrito, para frequentarem as aulas que foram transferidas para a escola em Mariana.

"Não estou achando ruim, não. Estou até gostando, todos os alunos que estudavam aqui, estão lá", afirma a adolescente.

Um sorriso largo e tímido é a resposta da pequena Giovana, quando indagada se está gostando de frequentar a nova escola.

O quinto morador do distrito fantasma, Eduardo Celestino Daró, 28, sobrinho por parte da esposa, é solteiro.

"Ele (Eduardo Daró) está lá em cima, alimentando o gado. Não dá para falar com ele. Mas aquele é que não sai mesmo daqui", afirma a esposa.

Com a saída do agricultor José Horta Gonçalves, 37, que após "muita pressão" vai para um hotel, eles serão os únicos moradores de Paracatu.

A cerca de 40 quilômetros da sede do município, o distrito de Paracatu, em Mariana (MG), foi o segundo a ser atingido pelo rompimento e está completamente destruído.

Das 80 residências que existiam no local antes do desastre, apenas algumas na parte alta de Paracatu continuam de pé.