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Caso Marielle: Freixo diz que polícia quer ouvi-lo em investigação de deputados do MDB

Taís Vilela/UOL
Imagem: Taís Vilela/UOL

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

10/08/2018 15h06Atualizada em 10/08/2018 17h12

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) afirmou que a Polícia Civil do Rio de Janeiro está investigando os deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo --os parlamentares do MDB foram presos na Operação Cadeia Velha em novembro do ano passado-- no contexto da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes.

Freixo disse ter sido procurado pela polícia para prestar depoimento sobre o assunto --no entanto, ainda não há data marcada. Ele disse esperar ser ouvido em breve. As informações foram publicadas pela revista “Veja” e confirmadas ao UOL por Freixo na manhã desta sexta-feira (10). Procurada, a Polícia Civil diz apenas que as investigações estão sob sigilo.

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Marielle e Anderson foram assassinados a tiros no dia 14 de março no Estácio, região central do Rio. O crime completará 150 dias sem resposta neste sábado (11). Marielle era afilhada política de Freixo, com quem trabalhou por muitos anos como assessora.

Segundo Freixo, a linha de investigação apura se a vereadora teria sido morta em retaliação a pedido de liminar que impediu Albertassi de ingressar no TCE (Tribunal de Contas do Estado) e transferir a jurisdição das investigações da Operação Cadeia Velha para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília.

Procuradas, as defesas de Picciani, Albertassi e Melo negaram envolvimento com o caso Marielle e criticaram Freixo (leia abaixo).

Tanto Freixo quanto procuradores do MPF (Ministério Público Federal) responsáveis pela investigação se reuniram com delegados da Polícia Civil no dia 14 de junho.

“Perguntaram se poderíamos depor no caso Marielle sobre isso, alinhando ali uma possibilidade de relação. Isso não sou eu quem estou dizendo, é a Polícia Civil quem está investigando --e tem que investigar. Isso não antecipa culpa de ninguém, mas, evidentemente, para a Polícia Civil, havia uma possibilidade de uma relação entre as pessoas envolvidas na Operação Cadeia Velha, pessoas poderosas que foram presas”, declarou o deputado do PSOL.

Segundo ele, a ação judicial não apenas impediu que Albertassi entrasse no TCE, mas também fez com que gerasse a prisão dos três parlamentares do MDB. "Eles só foram presos porque eu entrei com essa ação”, argumentou Freixo.

O deputado também cobrou a Polícia Civil em relação ao andamento das investigações. Ele informou que não tem acesso ao que vem sendo investigado atualmente, mas que a linha que envolveria Picciani, Albertassi e Melo não foi descartada pela Polícia Civil.

“Estamos chegando a 150 dias sobre a Marielle. É tempo demais. Temos que aumentar a cobrança sobre a polícia. Dia 14 se completam cinco meses e as respostas são poucas até agora. É um dos crimes mais complexos do Rio de Janeiro, pelo nível do requinte de organização criminosa, mas isso não pode nos levar a uma aceitação de impunidade. Todos têm que ser investigados. Se a polícia tem como linha de investigação A, B ou C, que se investiguem todas”, afirmou.

O que dizem os deputados

Rafael De Piro e Rodrigo Pitanguy, que respondem pela defesa de Jorge Picciani, rebateram, por meio de nota, as informações de Freixo sobre a suposta linha de investigação.

"Marcelo Freixo age de forma irresponsável, sem nenhum limite ético na sua ambição política. Na sua ânsia incontrolada de se promover sobre uma tragédia que abalou o país, atua de maneira abusiva", disse a defesa.

"Sem nenhum indício, acusa a esmo e de má-fé qualquer opositor político seu no afã de se manter na mídia. É o verdadeiro anjo com tridente. Ele se especializou em atirar contra tudo e todos. Suas balas perdidas atingem quem não deve", prossegue o comunicado, que afirma também que Picciani apoiou a CPI das Milícias e nega o elo com a indicação de Albertassi ao TCE.

"Não é verdadeiro me vincular à indicação do deputado Albertassi a uma vaga do TCE. Não falei com nenhum técnico do TCE que era candidato e também não buscava fórum no STJ, pois eu não sabia da investigação que ocorria e que estava sob sigilo --mas, ao que parece, a julgar pelo que diz, Freixo sabia do que deveria ser sigiloso", afirma o texto.

Os advogados informaram também que vão tomar "medidas judiciais cabíveis" contra o deputado do PSOL.

A defesa de Albertassi também sugere, por meio de nota, que deve ir à Justiça contra a declaração de Freixo.

"A acusação de Marcelo Freixo é mentirosa e faz parte de seu método tradicional de fazer política para aparecer na mídia. A própria cronologia dos fatos envolvendo a indicação do deputado Albertassi a uma vaga do TCE esclarece o assunto. Em momento algum, o TJ [Tribunal de Justiça] concedeu liminar para suspender a votação da indicação pela Alerj. Foi a presidência da Alerj que suspendeu a sessão enquanto respondia a pedido de informações da desembargadora na ação da Associação de Auditores sem relação com a ação movida pelo PSOL. A distorção de fatos é intolerável. Freixo agiu criminosamente e terá de responder por estes atos na Justiça", afirma o comunicado.

A defesa do deputado Paulo Melo afirmou, também por meio de nota, que "as acusações neste momento só interessam aos setores que desejam desviar o foco das investigações, diante de um crime bárbaro, esconder os verdadeiros mandantes do crime e aos oportunistas políticos, que tentam através de calúnias ganhar projeção, votos e espaço na mídia. Na verdade, os verdadeiros assassinos e difamadores parecem estar de mãos dadas fabricando mentiras".

Milícias

A polícia investiga a participação de milicianos no crime. Além do suposto envolvimento de Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando da Curicica, e do vereador Marcelo Siciliano (PHS), apontados por uma testemunha como mandantes do crime, reportagem do jornal “O Dia” diz que outra linha investiga outro grupo paramilitar: o de Wellington da Silva Braga, o Ecko, que comanda áreas de Santa Cruz (zona oeste) e da Baixada Fluminense.

Citando fontes da PF (Polícia Federal), que acompanha as investigações da Polícia Civil, o pedido para matar Marielle teria vindo do irmão do miliciano, Luiz Antônio Braga, o Zinho. O irmão teria relações comerciais com um vereador, cujo nome não foi revelado, que seria desafeto de Marielle e teria encomendado a morte da vereadora.