Resumo da notícia
- PM identificado é o soldado Rodrigo Almeida Silva Lima, de 23 anos
- Esta é a primeira investigação contra ele em quatro anos de corporação
- Afastado, ele responde por abuso de autoridade, mas pode responder por lesão corporal
O policial militar flagrado rindo e espancando jovens com uma barra de ferro —incluindo um deficiente físico— em um baile funk de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, foi identificado, afastado e responde por abuso de autoridade. Ele também pode responder por lesão corporal, caso as vítimas sejam identificadas e o denunciem.
O soldado Rodrigo Almeida Silva Lima, lotado no 16º BPM (Batalhão da Polícia Militar), que age na zona sul da capital paulista, tem 23 anos e está há quatro anos na corporação. Ele foi afastado dos serviços operacionais e alocado nos serviços administrativos até a conclusão da investigação.
Lima foi flagrado em vídeos que repercutiram nas redes sociais nos últimos dias escorado em uma parede, ao lado de uma viela, e agredindo aleatoriamente jovens que tentavam deixar um baile funk por meio de uma viela. O caso ocorreu na madrugada de 19 de outubro.
A reportagem apurou que esta é a primeira ocorrência negativa do soldado Lima. Até então, não havia nenhuma queixa ou investigação interna contra ele. Esta primeira apuração que ocorre contra o policial só passou a existir em razão da circulação dos vídeos nas redes sociais.
A reportagem pediu uma entrevista com o soldado Lima via assessoria de imprensa da SSP (Secretaria da Segurança Pública), que não respondeu ao pedido até a publicação desta reportagem.
O caso do soldado Lima veio à tona após nove jovens, entre 14 e 23 anos, terem morrido durante operação policial no Baile da DZ7, em Paraisópolis, na madrugada do último domingo (1º).
Três versões sobre Paraisópolis
Segundo a primeira versão oficial, apresentada pelos PMs envolvidos na ocorrência, os nove jovens foram mortos pisoteados. A segunda, da Polícia Civil, aponta que as mortes ainda são suspeitas, porque não há elementos suficientes para explicar as causas das mortes. Depois, o MP (Ministério Público) citou os crimes como homicídios, mas tirou a responsabilidade dos PMs e afirmou que a Promotoria fará investigação criteriosa.
Atestados de óbito de 4 dos 9 jovens apontam as causas das mortes por asfixia e trauma na medula. Familiares de algumas das vítimas estranham o fato de não haver marcas esperadas por pisoteamento —como feridas ou sangue, o que colocaria em xeque a primeira versão policial.
Na tarde de ontem, veio a público imagens que mostrariam os seis primeiros policiais envolvidos na ocorrência chegando até a favela de Paraisópolis. Ao fim da operação, 38 policiais militares se envolveram na ocorrência.
Na primeira versão apresentada pelos PMs, os seis policiais afirmaram que entraram na favela durante uma perseguição a um criminoso que atirava contra eles na garupa de uma outra moto. Pelas imagens, a entrada dos policiais no local ocorre sem tiroteio. No entanto, os policiais afirmaram em depoimento que fizeram a perseguição, saíram da favela e retornaram novamente com apoio.
PMs afastados do serviço operacional
Desde segunda-feira, seis policiais militares do 16º BPM (Batalhão da Polícia Militar) que estiveram envolvidos na operação em Paraisópolis na madrugada de domingo estão afastados do serviço operacional. Em depoimento prestado à Polícia Civil e à Corregedoria da PM, eles afirmaram que fizeram "uso moderado da força".
Os PMs João Paulo Vecchi Alves Batista, Rodrigo Cardoso da Silva, Antonio Marcos Cruz da Silva, Vinicius José Nahool Lima, Thiago Roger de Lima Martins de Oliveira e Renan Cesar Angelo foram alocados ao serviço administrativo, uma prática comum da corporação paulista quando há suspeitas contra seus servidores.
Segundo a versão dos policiais, eles foram alvo de tiros de um criminoso que estava na garupa de uma moto e que, na fuga, entrou no meio do baile funk. Dizem, também, que, durante a perseguição, houve correria provocada pelos criminosos. Os PMs afirmam que, mesmo alvos de tiros, garrafadas e pedradas, foram eles quem ficaram no local e socorreram as vítimas.
"Havia um grande número de pessoas descontroladas, sendo necessário uso moderado da força com emprego de cassetete e munição química", afirmou um dos policiais, de acordo com os depoimentos lidos pela reportagem.
Eles, no entanto, não se justificam, em nenhum momento, os vídeos que repercutiram entre domingo e segunda-feira que flagraram PMs afunilando os frequentadores do baile em uma viela e agredindo jovens, já rendidos, com socos, pisadas, chutes e cassetetes.
Frequentadores do baile negaram que tenha ocorrido tiroteio e afirmam que os policiais militares entraram na favela com o objetivo de fazer a dispersão por causa do barulho, e não porque havia criminosos fugindo em meio aos jovens.
Segundo o comandante-geral da PM, coronel Marcelo Vieira Salles, "os policiais não estão afastados, estão preservados. Temos que concluir o inquérito. Não haverá como condená-los antes do devido processo legal. Seguirão em serviços administrativos, no horário deles, fazendo outras coisas".
O ouvidor das polícias, Benedito Mariano, no entanto, esclarece que a medida é, sim, um afastamento. "Os policiais foram afastados para o serviço administrativo. Uma prática que ocorre normalmente. Por exemplo: quando há morte decorrente de intervenção policial, é quase automático que o PM seja afastado das ruas até a finalização da investigação", afirmou.
Doria elogia PMs, mas recua
O governador João Doria (PSDB) defendeu a ação da PM na operação que terminou com nove mortos e também defendeu a corporação paulista como um todo. Ele teceu elogiou aos policiais do estado e afirmou que a política de segurança não irá mudar. Só quatro dias depois, após repercussão negativa, ele recuou e admitiu que deve revisar o protocolo da PM.
A versão apresentada por Doria, até então, é a mesma da polícia: PMs reagiram a um ataque de dois criminosos que estavam em uma moto atirando. "A letalidade não foi provocada pela PM, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo baile funk. É preciso ter muito cuidado para não inverter o processo", disse Doria.
Doria declarou ainda que o estado São Paulo "tem o melhor sistema de segurança preventiva", mas "isso não significa que não seja infalível". A ação em Paraisópolis ocorre menos de uma semana após o governo do Estado ter divulgado as metas de segurança pública da gestão Doria. As metas não determinam objetivos para reduzir a letalidade policial.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.