PMs podem ter desligado GPS em abordagem de jovem desaparecido há 20 dias
Resumo da notícia
- Polícia Civil e Corregedoria tentam entender por que GPS do carro da PM não funcionava
- Ouvidor suspeita de que PMs podem ter desligado o aparelho no momento da abordagem
- Carlos Eduardo está desaparecido desde que foi abordado por três PMs em 27 de dezembro
Os três policiais militares de Jundiaí (SP) que estão afastados sob suspeita de ter provocado o desaparecimento de Carlos Eduardo dos Santos Nascimento, 20, após abordagem feita há 20 dias podem ter desligado o GPS do carro da PM em que estavam, apontam as investigações.
Polícia Civil e Corregedoria da PM, com acompanhamento da Ouvidoria das Polícias de São Paulo, tentam entender por que o monitoramento do carro policial não estava funcionando no momento da abordagem. "É algo a ser averiguado, mas os PMs podem ter desligado o tablet do GPS, por exemplo", diz o ouvidor Benedito Mariano.
Segundo o delegado Josias Guimarães, que encabeça a investigação na DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Jundiaí, foram pedidas a quebra de sigilo dos telefones do jovem e dos PMs envolvidos e do GPS do carro policial. "O GPS não tinha informação. Mas sustento que o que precisamos agora é o depoimento de testemunhas", disse.
Ainda de acordo com o delegado, a polícia tem imagens que mostram o veículo da polícia na frente do bar onde Nascimento estava. "Pelas imagens, é possível ver o número da viatura, e ela parada em frente ao bar, com os policiais se movimentando, mas o ângulo não permite ver abordagens nem detenções", afirmou Guimarães.
Carlos Eduardo foi a um bar no bairro Jardim São Camilo, na periferia da cidade, às 17h de 27 de dezembro de 2019 para confraternizar com quatro amigos. Os cinco foram abordados pela PM. Apenas Carlos Eduardo, o único negro entre eles, foi colocado dentro do carro policial. Desde então, nunca mais foi visto.
Os policiais registraram internamente a abordagem dos quatro amigos brancos, mas não há registro sobre Carlos Eduardo. A Corregedoria não conseguiu localizar os amigos abordados. A reportagem apurou que todos deixaram o bairro por medo de ser mortos por policiais em uma possível retaliação. O que é corroborado pelo delegado do caso.
"Está prevalecendo a lei do silêncio, porque dizem que são PMs, que podem retaliar. Isso tem dificultado muito o nosso trabalho", afirmou o policial civil.
A principal suspeita da Polícia Civil e da Corregedoria da PM, que investigam o caso, é que três policiais do 49º BPM (Batalhão da Polícia Militar) sejam responsáveis pelo desaparecimento do rapaz. A investigação tenta descobrir o porquê. Os PMs suspeitos, que estão afastados, negam. O MP (Ministério Público) acompanha as investigações.
O Corpo de Bombeiros foi mobilizado para tentar ajudar a encontrar o rapaz, após cães farejadores da PM terem indicado o cheiro de Carlos Eduardo em uma mata de Jarinu, a 35 quilômetros de distância do local onde ele foi visto pela última vez. A suspeita da Polícia Civil é que nesse local os PMs podem ter parado a viatura com o jovem.
Para o Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), ocorreu um "desaparecimento forçado" e uma "grave violação de direitos humanos". Além do órgão, que é do governo paulista, entidades de direitos humanos e a ouvidora da polícia cobram elucidação do caso.
Por meio de nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que "todas as circunstâncias relativas ao caso são apuradas pela DIG de Jundiaí e pelo 49º Batalhão de Polícia Militar do município".
"A Corregedoria da PM acompanha o caso e, juntamente com equipes da área, realiza buscas pela região, com o apoio de canil da PM e do Corpo de Bombeiros. Os policiais envolvidos na ocorrência permanecem afastados", afirmou a pasta.
"A procura continua. Todos os dias"
A família diz ter esperança de que a polícia consiga encontrar o jovem, mas também faz investigações por conta própria. "A procura continua. Todos os dias. A Corregedoria afirmou que os PMs foram afastados, mas queremos saber onde está meu filho", disse o pai, Eduardo Aparecido do Nascimento.
Nem Ano-Novo a gente teve. Passamos o tempo inteiro no mato do Jardim São Camilo procurando por ele. Sábado, domingo, segunda, terça, quarta. Passei o Ano-Novo buscando meu filho. Numa angústia que não sei descrever.
Eduardo Aparecido do Nascimento, 50, pai de Carlos
Segundo o pai, com medo de morrer, os quatro amigos abordados não se dispuseram a ir com a família à delegacia denunciar o caso.
A esperança do pai, que trabalha como segurança em uma faculdade de Jundiaí, é que o filho tenha cometido algum delito e que esteja detido em algum lugar, mas diz também estar "preparado para o pior".
Carlos Nascimento passou o Natal com a mãe, também em Jundiaí, e disse que passaria o Ano-Novo com o pai, já que os dois são separados.
O que eu quero ouvir é: 'seu filho está preso em tal lugar'. Mas a gente tá preparado para tudo. Se ele errou, que pague pelo erro dele. Pela nossa criação, acredito que não errou, mas espero que tenha sido isso.
Eduardo Aparecido do Nascimento, 50, pai de Carlos
Mesmo após o desaparecimento do filho, o segurança afirma que não se pode culpar toda a corporação por um possível erro.
"Aqui na cidade de Jundiaí, eu nunca ouvi algo parecido. Se realmente a polícia fez algo de errado contra meu filho, todo lugar tem maçãs podres. A única coisa que quero é encontrar meu filho", afirmou.
Eu vou te falar a verdade. Antes de acontecer tudo isso, eu pesava 120 kg. Hoje estou pesando 85 kg. Vou trabalhar, mas não tenho cabeça para trabalhar. Não consigo comer. Meu telefone toca e eu fico desesperado achando que pode ser alguma notícia.
Eduardo Aparecido do Nascimento, 50, pai de Carlos
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