MP vai investigar caso de jovem que desapareceu após ser abordado pela PM
Resumo da notícia
- Inquérito chegou às mãos do promotor Jocimar Guimarães hoje
- Promotoria de Jundiaí vai acompanhar as apurações da polícia
- Jovem negro desapareceu há 11 dias, depois de ser abordado por PMs
- Policiais suspeitos foram identificados pela Corregedoria e estão afastados
O desaparecimento de Carlos Eduardo dos Santos Nascimento, 20, ocorrido após abordagem policial em Jundiaí, no interior de São Paulo, na tarde de 27 de dezembro do ano passado, será investigado, também, pelo MP (Ministério Público). Polícia Civil e Corregedoria da PM (Polícia Militar) apuram a ocorrência desde o início do ano.
O inquérito policial foi distribuído ao promotor Jocimar Guimarães, de Jundiaí, que, até a publicação deste texto, aguardava mais informações por parte da investigação policial, segundo a promotoria. O promotor recebeu os documentos hoje, quando o órgão retornou do recesso de fim de ano.
O MP poderá, ao fim da investigação, pedir à Justiça a culpabilização dos PMs envolvidos ou pedir as absolvições.
Nascimento foi a um bar, na rua Benedito Basílio Souza Filho, no bairro Jardim São Camilo, confraternizar com quatro amigos brancos. Os cinco foram abordados pela PM, segundo as testemunhas. Nascimento, o único negro entre eles, foi a única pessoa a ser colocada dentro da viatura. Desde então, nunca mais foi visto.
O caso foi registrado como desaparecimento no fim do ano passado. Só seis dias depois a Policia Civil iniciou diligências para buscar o jovem e tentar elucidar o sumiço. "Não nos deram prazo nenhum. Nos disseram que iam começar as diligências para tentar encontrar meu filho. Mas tudo sem prazo", disse o pai do jovem, o segurança Eduardo Aparecido do Nascimento, 50.
A investigação feita pela Polícia Civil, por meio da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Jundiaí, tenta encontrar o jovem por meio do rastreamento do celular dele.
Em nota, a SSP informa que a delegacia de Jundiaí investiga o caso por meio de inquérito policial. "Testemunhas e familiares do jovem foram ouvidos e demais diligências estão em andamento para a localização do desaparecido. A Polícia Militar instaurou um inquérito pelo batalhão da área para apurar o ocorrido."
Ainda segundo a pasta, "as fotos e qualquer outra informação recebida serão enviadas à autoridade que preside o inquérito para análise. A Corregedoria da PM acompanha as investigações e os militares integrantes da viatura citada foram identificados e remanejados para atividades administrativas".
PMs suspeitos estão afastados
Após investigação da Corregedoria da PM (Polícia Militar), a corporação afastou do serviço operacional os policiais suspeitos de terem sumido com Carlos Eduardo.
O afastamento ocorreu após a Corregedoria ter conseguido identificar a viatura que fazia patrulhamento na região do Jardim São Camilo, onde o jovem estava, no horário e local indicados pelas testemunhas. Mas entidades de direitos humanos e a ouvidora da polícia cobram elucidação do caso.
É uma prática comum da corporação paulista retirar das ruas os PMs suspeitos de ter cometido algum erro enquanto um IPM (Inquérito Policial Militar) tenta elucidar o que de fato aconteceu. Os policiais sob suspeita estão em serviços administrativos.
Não foi confirmado o número de policiais afastados, mas se sabe que eles são lotados no 49º BPM (Batalhão da Polícia Militar). O pai do rapaz chegou a ir ao batalhão, no fim do ano passado, à procura do filho. Lá, recebeu a informação de que não havia registro de abordagem na data, local e horário indicados.
"A procura continua. Todos os dias"
A família diz ter esperança de que a polícia consiga encontrar o jovem, mas também faz investigações por conta própria. "A procura continua. Todos os dias. A Corregedoria afirmou que os PMs foram afastados, mas queremos saber onde está meu filho", disse o pai, Eduardo Aparecido do Nascimento.
Nem Ano-Novo a gente teve. Passamos o tempo inteiro no mato do Jardim São Camilo procurando por ele. Sábado, domingo, segunda, terça, quarta. Passei o Ano-Novo buscando meu filho. Numa angústia que não sei descrever.
Eduardo Aparecido do Nascimento, 50, pai de Carlos
Segundo o pai, com medo de morrer, os quatro amigos abordados não se dispuseram a ir com a família à delegacia denunciar o caso.
A esperança do pai, que trabalha como segurança em uma faculdade de Jundiaí, é que o filho tenha cometido algum delito e que esteja detido em algum lugar, mas diz também estar "preparado para o pior".
Carlos Nascimento passou o Natal com a mãe, também em Jundiaí, e disse que passaria o Ano-Novo com o pai, já que os dois são separados.
O que eu quero ouvir é: 'seu filho está preso em tal lugar'. Mas a gente tá preparado para tudo. Se ele errou, que pague pelo erro dele. Pela nossa criação, acredito que não errou, mas espero que tenha sido isso.
Eduardo Aparecido do Nascimento, 50, pai de Carlos
Mesmo após o desaparecimento do filho, o segurança afirma que não se pode culpar toda a corporação por um erro.
"Aqui na cidade de Jundiaí, eu nunca ouvi algo parecido. Se realmente a polícia fez algo de errado contra meu filho, todo lugar tem maçãs podres. A única coisa que quero é encontrar meu filho", afirmou.
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