Corpos de vítimas de operação da polícia no Rio são enterrados
As vítimas da operação que a Polícia Civil do Rio fez na quinta-feira (6) no Jacarezinho começaram a ser enterradas na tarde de hoje. Um dos primeiros corpos a serem sepultados foi de Guilherme de Aquino Simões, que teve o funeral realizado às 13h30 no Cemitério de Inhaúma, na zona norte da capital fluminense.
A filha de Guilherme estava inconsolável com a perda do pai. A menina gritou "por que vocês estão levando ele?" na hora em que o caixão dele foi fechado. A família não quis falar com a imprensa.
No velório de Francisco Fábio Dias Araújo Chaves, 26, também houve muita comoção dos familiares. A esposa dele passou mal e teve que ser socorrida pelos parentes em uma das capelas, também do Cemitério de Inhaúma.
Um primo de Francisco reclamou de como o corpo dele foi tratado no IML (Instituto Médico Legal).
"Estavam liberando os corpos com as pessoas roxas, porque não tinha geladeira para colocá-los. Os corpos estavam um em cima do outro. Só depois que a gente pagou é que o colocaram na geladeira", reclama o familiar, que preferiu não se identificar.
O primo também afirmou que Francisco foi executado.
"Ele estava em uma casa preso, querendo se entregar. Tinha tomado um tiro no braço e estava com a perna machucada. Muitas pessoas viram não só ele, mas muitos entrando no caveirão vivo", disse.
Além da esposa, Francisco deixa duas filhas, uma de quatro e outra de sete anos.
Procurada pelo UOL, a Polícia Civil negou a informação sobre o armazenamento dos corpos no IML. A corporação disse que todo o trabalho de perícia "foi feito com total profissionalismo e transparência".
"Inclusive, sendo acompanhado por um médico legista do Ministério Público desde o início até a última necropsia. A Polícia Civil reforça que todos os protocolos de perícia técnica foram cumpridos", a polícia acrescentou, em nota.
'Mataram meu filho com facão'
O sepultamento do corpo de Jhonatan Araújo da Silva, 18, foi marcado por muita música gospel. Durante o velório, entre uma declaração e outra de amigos e familiares, todos se mostravam revoltados com a situação.
"É uma dor que não imaginava sentir. Meu primeiro filho. Não sei nem como estou conseguindo ficar em pé. Não consigo nem falar nada. Fizeram uma covardia com o meu filho. Não precisava disso, era só prender. Mataram meu filho com facão", lamentou a mãe de Jhonatan, aos prantos.
De acordo com a família, Jonathan não era ligado ao tráfico de drogas do Jacarezinho e iria de alistar nas Forças Armadas. Segundo eles, o rapaz fazia bicos de entregador de compras e foi morto a caminho da casa da namorada.
"Ele saiu sem documento nem nada. Eu falava para ele andar com documento, mas quem vai imaginar? Sempre que tinha operação, pedia para ele ficar em casa para me confortar, mas nesse dia não teve como", contou a mãe.
Além de Guilherme, Francisco e Jhonatan, os corpos de Omar Ferreira da Silva, 20, John Jefferson Mendes Rufino da Silva, 30, e Maurício Ferreira da Silva, 27, também foram sepultados hoje no Cemitério de Inhaúma.
Na manhã de hoje, dois dias após a ação no Jacarezinho, ainda havia famílias tentando a liberação dos corpos de seus parentes no IML.
Também hoje, o número total de vítimas da operação subiu de 28 para 29. Dente os mortos, está o policial civil André Mello Frias, 48, que foi sepultado ontem no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na zona oeste do Rio.
Operação mais letal
A operação no Jacarezinho foi a mais letal da história do Rio de Janeiro.
O secretário de Polícia Civil do estado, Allan Turnowski, disse ontem que os mortos na ação eram suspeitos de envolvimento com o tráfico da região, mas não apresentou provas.
Operação no Jacarezinho (RJ) deixa dezenas de mortos
Familiares denunciam que as vítimas foram executadas. Representantes de entidades que defendem os direitos humanos cobram uma apuração rigorosa da ação, dentre eles, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.
O governador Cláudio Castro (PSC) defendeu a operação, dizendo que "a reação dos bandidos foi a mais brutal registrada nos últimos tempos".
Mais de 48 horas após a ação, a Polícia Civil ainda não divulgou a identidade dos mortos. A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro) compilou os nomes e as idades de algumas da vítimas.
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