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'Gatinha da Cracolândia' pede visita de filha em presídio; secretaria nega

Lorraine Bauer Romeiro, a "gatinha da Cracolândia", foi flagrada em imagens vendendo drogas com o companheiro André Luiz de Almeida na feira livre do tráfico no centro de São Paulo - Reprodução
Lorraine Bauer Romeiro, a "gatinha da Cracolândia", foi flagrada em imagens vendendo drogas com o companheiro André Luiz de Almeida na feira livre do tráfico no centro de São Paulo Imagem: Reprodução

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

08/05/2022 15h33

A influenciadora digital Lorraine Bauer Romeiro, 19, condenada no mês passado ao regime fechado por tráfico de drogas na Cracolândia, região central de São Paulo, teve negado o pedido de receber uma visita da filha de 1 ano e seis meses neste Dia das Mães.

O pedido havia sido feito pela defesa à SAP (Secretaria de Administração Penitenciária). Mas a pasta proíbe a entrada em unidades prisionais de crianças com menos de 5 anos de idade, ainda sem imunização contra a covid-19. A medida está sendo reavaliada.

Lorraine, conhecida como "Gatinha da Cracolândia", está presa desde julho do ano passado. Ela está no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Franco da Rocha, na Grande São Paulo.

Antes da prisão, Lorraine enfrentou a depressão, consumiu drogas e se afastou da família com uma herança de R$ 50 mil deixada pelo pai, um empresário do ramo da construção civil, assassinado há oito anos, conforme revelou reportagem do UOL. Agora, luta pelo direito de ver a própria filha.

A advogada Patrícia Carvalho, que a representa, diz ter solicitado à SAP a visita na prisão ou o contato entre mãe e filha por videoconferência. Ambos os pedidos foram negados, de acordo com as normas adotadas pela secretaria.

A pasta informa que, por enquanto, a visita presencial está restrita a duas pessoas maiores de 12 anos com ciclo vacinal completo por detento. Também é permitida a entrada de até duas crianças entre 5 e 12 anos completos, desde que imunizadas contra a covid-19. O visitante deverá portar a carteirinha, documento de identificação com foto e o comprovante físico de vacinação.

A secretaria ainda informou que o uso de videoconferência só é permitido em hospitais de custódia, durante tratamento psiquiátrico e em unidade de regime disciplinar diferenciado. "Não é o caso, já que [a penitenciária] de Franco da Rocha recebe visitas presenciais, inclusive de crianças que foram vacinadas", informa a nota.

Em audiência virtual, Lorraine confessou o envolvimento com a venda de drogas, disse ter sido ameaçada de morte e acusou a polícia de forjar um flagrante com apreensão de entorpecentes que não pertenciam a ela. "Eu só entregava pedra nas mãos dos usuários", disse.

Ela foi apontada em investigação da Polícia Civil como responsável pela administração de uma das tendas da maior feira livre de venda de drogas na capital paulista, que tinha lucro diário de até R$ 6 mil. Ela nega as acusações.

'Menina beija foto e chama pela mãe'

Patrícia Carvalho, que representa a jovem, disse manter contato sem sucesso com a SAP por e-mails e ligações há mais de um mês, pedindo liberação da visita. A última resposta, segundo ela, foi dada na última quarta-feira (4), com a negativa.

Segundo ela, a filha de Lorraine de 1 ano e 6 meses costuma beijar uma das fotos da mãe na geladeira da casa da avó, em Barueri, Grande São Paulo, onde mora.

A menina beija a foto e sai correndo pela casa, chamando pela Lorraine. Ela não entende o que aconteceu com a mãe. Isso pode gerar um prejuízo emocional na criança"
Patrícia Carvalho, advogada de Lorraine

A defensora reforça, ainda, que o problema não é restrito ao caso de Lorraine.

"Mães e pais em todo o sistema prisional estão sendo privados do contato com os próprios filhos. Essa restrição não faz mais sentido. Estamos em um momento onde vemos estádios de futebol cheios, a volta do Carnaval e a flexibilização de outras medidas. Não faz mais sentido a proibição da entrada de crianças, que precisam dessa convivência com os pais", argumenta.

Duas prisões em um mês

Em junho do ano passado, Lorraine foi presa em flagrante na Cracolândia. Pouco depois, a prisão foi convertida para o regime domiciliar porque a filha dela tinha apenas 9 meses na época. A condenação se refere a essa prisão, com direito a recurso.

De acordo com os autos, a polícia afirma ter encontrado 10 porções de cocaína, 10 de crack e seis de maconha escondidas em roupas íntimas de Lorraine. Ela negou as acusações.

O juiz Fernando Augusto Andrade Conceição, da 14ª Vara Criminal da Justiça de São Paulo, diz que as circunstâncias da abordagem indicam que as drogas encontradas com a jovem não configuravam como de consumo próprio, mas sim de tráfico.

Apesar de ter direito à prisão domiciliar, a defesa de Lorraine afirma que ela está presa em Franco da Rocha por causa de outro processo — em julho de 2021, ela e o então namorado André Luís Santos Almeida, conhecido como "China", foram presos na casa onde viviam em Barueri, na Grande São Paulo.