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Impacto político e luto: como estão pessoas ligadas a caso de petista morto

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

19/07/2022 04h00

Dez dias após o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, morto a tiros enquanto comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT em Foz do Iguaçu (PR), as pessoas ligadas ao caso lidam com o impacto político, o luto e a volta à rotina.

O consultor de vendas Leonardo Arruda, 27, filho mais velho do petista morto, voltou ontem ao trabalho. A viúva, a policial civil Pâmela Suellen Silva, está de licença-maternidade e conta com o auxílio da mãe para cuidar da filha de 6 anos e do menino de 1 mês do casal.

No domingo (17), foram realizados atos pela paz em homenagem ao petista assassinado. De acordo com os organizadores, mais de mil pessoas participaram da manifestação em Foz, que contou com a presença de parentes e amigos. Luiz Donizete, irmão de Marcelo, disse ver motivação política no crime.

Na última sexta-feira (15), a Polícia Civil indiciou o policial penal Jorge José da Rocha Guaranho por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas, com pena que pode variar de 12 a 30 anos de prisão. Na ocasião, a delegada Camila Cecconello afastou a hipótese de crime de ódio com base no relato da esposa do atirador.

Especialistas ouvidos pelo UOL concordam com o indiciamento do caso com base nos crimes previstos no Código Penal. Contudo, afirmam que os relatos sobre o assassinato indicam motivações políticas.

Reclusão de envolvidos

Procurados, parentes de Marcelo Arruda não quiseram dar entrevistas, sob alegação de cansaço e desgaste emocional com o caso.

Amigos que testemunharam o crime só aceitaram falar com a reportagem sob a condição de anonimato, já que alegam que estão sofrendo represálias justamente por causa de um cenário de divergências políticas a menos de três meses das eleições de 2022.

O advogado Cleverson Leandro Ortega, que representa Guaranho, disse que as informações sobre a esposa do atirador estão sendo mantidas sob sigilo para preservar a sua privacidade.

Polícia investiga se há relação entre suicídio e o crime

Em paralelo à apuração do assassinato, a Polícia Civil do Paraná agora investiga se há relação entre um suicídio e o crime. Funcionário da Itaipu, Claudinei Coco Esquarcini, 44, morreu neste domingo (17) em Medianeira, município a 50 km de Foz do Iguaçu (PR).

Diretor da associação onde ocorreu a festa, ele é apontado como o encarregado pela instalação do sistema de câmeras de vigilância no local do crime. O celular dele foi apreendido pela Polícia Civil e será encaminhado ao Instituto de Criminalística, informou documento encaminhado pelo MP à Justiça ontem à tarde, ao qual o UOL teve acesso.

Guaranho viu as imagens da festa quando estava em um churrasco com amigos, segundo a Polícia Civil. Integrantes da associação que participavam da confraternização mostraram o vídeo da festa pelos seus celulares. Em seguida, ele foi ao local para "provocar" os participantes do aniversário do petista, de acordo com as investigações.

Questionado sobre o acesso às câmeras, José Augusto Fabri, vigilante da Itaipu, citou Claudinei como o encarregado pelo sistema de monitoramento, instalado no local para prevenir furtos.

"Tem que ter uma senha. Esse processo quem faz é o Claudinei. Como ele conhece de configuração, montagem, manutenção e ele faz parte da diretoria, então ele cuida dessa parte", disse o vigilante em depoimento à Polícia Civil.

Lacunas na investigação

Apoiador de Jair Bolsonaro (PL), o atirador foi ao local da festa de carro com a esposa e a filha de três meses no banco de trás com gritos de apoio ao presidente e ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando origem ao desentendimento, segundo consta em depoimentos e nas imagens do crime.

Com a conclusão em apenas cinco dias, ainda há lacunas para serem preenchidas na investigação, como a extração dos dados no celular do atirador e a leitura labial na cena do crime.

As informações contidas no aparelho podem auxiliar a investigação a identificar uma eventual participação indireta de terceiros na ação, de acordo com representantes legais da família de Arruda.

O inquérito ainda aguarda exames, como perícia de confronto balístico, exame complementar no veículo usado pelo atirador e laudo em local de morte. Também não foi feita a reconstituição no local do crime.

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por email, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.