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Justiça absolve PM que pisou em pescoço de mulher negra; MP irá recorrer

Ele foi filmado pisando no pescoço de uma mulher negra de 51 anos em abordagem no final de maio - Reprodução
Ele foi filmado pisando no pescoço de uma mulher negra de 51 anos em abordagem no final de maio Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

24/08/2022 12h38

A Justiça Militar de São Paulo absolveu ontem o PM filmado enquanto pisava no pescoço de uma mulher negra imobilizada no chão em uma abordagem ocorrida no dia 30 de maio de 2020 em Parelheiros, zona sul da capital paulista.

O soldado João Paulo Servato foi denunciado pelos crimes de lesão corporal, abuso de autoridade, falsidade ideológica e inobservância de regulamento. O Ministério Público irá recorrer da decisão.

Além do agressor, a Justiça Militar absolveu o cabo Ricardo de Morais Lopes, que também participou da ocorrência, das acusações de falsidade ideológica e inobservância de regulamento.

Eles foram absolvidos por três votos a dois por um conselho de sentença formado por um juiz e quatro oficiais da corporação.

Qual a repercussão da decisão? Em nota enviada à reportagem, o Ministério Público disse "lamentar" a decisão em 1ª instância e afirmou que irá aguardar a publicação da sentença, prevista para o dia 30, para recorrer. Procurada, a Ouvidoria das polícias de São Paulo também criticou a decisão.

Quando começaram as agressões? A vítima, uma comerciante negra que tinha 51 anos na época, foi atacada ao tentar impedir a agressão dos policiais contra dois homens. Eles participavam de uma ocorrência de funcionamento irregular de estabelecimento comercial com base na legislação vigente em decorrência da pandemia causada pela covid-19.

Como os policiais se posicionaram sobre o caso? Na delegacia, os policiais militares envolvidos na ocorrência alegaram terem sido agredidos com uma barra de ferro, socos e chutes no local da ocorrência.

O que mostram as imagens? A versão apresentada pelos policiais foi desmentida com base na análise do vídeo e no depoimento de testemunhas. As imagens, exibidas pela TV Globo, mostram a vítima sendo arrastada pelo asfalto até a viatura.

Três vídeos registrados por celulares mostraram a ação. Em um deles, um policial militar aparece pisando sobre o pescoço da comerciante, deitada no asfalto. Em outro, um PM aparece apontando a arma para um rapaz, que tirava a camiseta com intenção de mostrar que estava desarmado. Ainda há um vídeo que mostra a comerciante agredindo um PM com o cabo de uma vassoura.

Quais as lesões causadas pela agressão? A vítima alegou que recebeu uma rasteira durante a abordagem e quebrou a perna com o golpe.

Após a abordagem, ela disse ter seguido ao Hospital Geral do Grajaú, onde foi constatado que ela havia quebrado a tíbia. Ela ficou com a perna engessada por 30 dias e realizou uma cirurgia para colocação de uma haste e dois pinos.

A comerciante e dois clientes foram indiciados na época por resistência e desobediência.

Tíbia de comerciante de 51 nos quebrou (esq.) após, segundo ela, um PM lhe aplicar uma rasteira em 30 de maio. Em 29 de junho, ela precisou fazer uma cirurgia para colocar uma haste e dois pinos no osso (dir.) - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Tíbia de comerciante de 51 nos quebrou (esq.) após, segundo ela, um PM lhe aplicar uma rasteira em 30 de maio. Em 29 de junho, ela precisou fazer uma cirurgia para colocar uma haste e dois pinos no osso (dir.)
Imagem: Arquivo Pessoal

O PM seguiu atuando nas ruas mesmo após o vídeo mostrar o pisão no pescoço da comerciante negra? Uma reportagem do UOL revelou que o agressor foi transferido para outro batalhão, onde seguiu atuando nas ruas por 45 dias.

Como foi a repercussão do caso? João Dória (PSDB), governador de São Paulo na época, disse ter ficado "impactado" pelas imagens e criticou a abordagem policial.