Topo

exclusivo

'Não queria que ele sofresse', diz mulher que matou marido e congelou corpo

Do UOL, em São Paulo

22/11/2022 17h02

A mulher que confessou ter matado o marido e escondido o corpo dele dentro de um freezer gravou uma confissão do crime. O vídeo, obtido com exclusividade pelo UOL Notícias, foi feito ontem (21), dentro de um carro, momentos antes de ela se apresentar à Polícia Civil de Santa Catarina.

Nas imagens, a pedagoga Claudia Fernanda Tavares Hoeckler, 40, explica por que deu sonífero ao motorista Valdemir Hoeckler, 52, antes de matá-lo.

"Não queria machucar ele. Não queria que ele sofresse." Em seguida, diz que cometeu o assassinato para salvar a própria vida, já que dizia ser vítima de agressões e ameaças de morte. "Era ele ou eu. Não tive opção." Após dar os remédios ao marido, ela disse ter usado uma sacola de plástico para asfixiá-lo.

O corpo do motorista só foi encontrado no último sábado (19) em Lacerdópolis (SC), cinco dias depois do crime.

"Me sinto livre"

Em outro trecho do vídeo obtido pela reportagem, Claudia revelou alívio, mesmo sabendo que iria para a cadeia. "Eu sei que vou ser presa, eu sei que vou cumprir a minha pena. Mas eu me sinto livre. Não estou mais sendo vigiada, oprimida."

Antes de ser presa, Claudia revelou uma vida marcada por abusos e abandonos ao canal Beto Ribeiro, no YouTube. Ela diz ser filha de uma garota de programa, ter sido criada por uma desconhecida nos primeiros anos de vida e engravidado na adolescência. Além disso, revela abusos sexuais supostamente cometidos pelo padrasto e o abandono do próprio pai.

Agressões sem marcas visíveis. Ela disse que o marido tinha o cuidado de agredi-la em locais onde as marcas da violência não ficassem aparentes. Houve, segundo ela, uma escalada da violência.

"Uma vez, ele passou a noite inteira dizendo que iria me matar. Ele dizia que, se eu não obedecesse e não ficasse com ele, ele iria me matar."

Em outro momento, Claudia relata: "As agressões aconteciam quase sempre no quarto. Eu sofria calada."

Claudia relata que, em uma das discussões, tentou se jogar do carro em movimento. "Eu preferia morrer do que viver aquele inferno. Várias vezes eu quis morrer", disse.

Claudia disse ter sido ameaçada de morte pelo marido antes do crime. O último de seus agressores, segundo ela, foi o marido com quem viveu por mais de 20 anos. Na noite anterior ao assassinato, ela disse ter sido agredida e ameaçada de morte pelo motorista.

Ela relata que, um dia antes do crime, tentou convencer o marido a deixá-la viajar com as amigas. Mas, de acordo com Claudia, Valdemir disse que se acordasse e não visse a esposa, a mataria quando ela voltasse para casa.

Diante da negativa e da ameaça, Claudia disse que "teve um surto": Eu pensei: "já que alguém vai morrer, então que seja você." Após dar remédios para dormir ao marido, junto com outros medicamentos de rotina, ela esperou ele adormecer e cobriu sua boca e nariz com uma sacola de supermercado.

Enquanto o asfixiava, pensou em parar, relata, mas disse que desistiu. "Se eu parasse e ele acordasse, ele iria me matar."

Prisão de Claudia

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina decretou ontem a prisão temporária dela. Na audiência de custódia, hoje à tarde, a defesa pediu para que a prisão fosse convertida em domiciliar, com monitoramento eletrônico.

"Ela era uma mulher maltratada física e psicologicamente, que matou para preservar a própria vida. E usou medicamento que induziu o marido ao sono porque não teria coragem de esfaquear ou atirar nele. O marido a colocou em uma situação que, ou ela matava ou morria", disse o advogado Claudio Dalledone, que representa Claudia.