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Crimes, greve surpresa e ataques: o Brasil amanheceu nas urnas

Eleitores aguardam na fila para votar no Colégio Bandeirantes, zona sul de São Paulo - André Porto/UOL
Eleitores aguardam na fila para votar no Colégio Bandeirantes, zona sul de São Paulo Imagem: André Porto/UOL

Wanderley Preite Sobrinho e Carlos Madeiro

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, no Recife

29/11/2020 13h13

O domingo de eleição começou agitado para muitos dos 38 milhões de eleitores nas 57 cidades brasileiras que hoje escolhem seu próximo prefeito. Além de ao menos 37 pessoas presas por crimes eleitorais e troca de urnas eletrônicas, o dia já contou com a votação de alguns dos principais candidatos, com uma greve inesperada de ônibus, declaração de apoio de cabos eleitorais polêmicos e até a esperança petista de reduzir no segundo turno o fiasco de seus candidatos no primeiro.

Até 12h05, 503.559 pessoas informaram por meio do aplicativo e-Título que não votaram, segundo informações do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A disputa política está acirrada em cinco capitais, segundo as últimas pesquisas. O PT é a legenda com mais candidatos no segundo turno: são 15 cidades, apenas duas capitais.

Em Vitória, o petista João Coser enfrenta o Delegado Pazolini (Republicanos), mas é para o Recife (PE) que os holofotes estão apontados. Por lá, Marília Arraes concorre com outro candidato da esquerda, o primo João Campos (PSB). Muitos eleitores foram votar com bandeiras nos carros ou mesmo enroladas nos corpos.

O clima na cidade foi de alto engajamento dos eleitores nos últimos dias, que lotavam sinais de trânsito de praticamente de todas as avenidas da cidade.

Panfleto antipetista distribuído por eleitores de direita - Carlos Madeiro/UOL - Carlos Madeiro/UOL
Panfleto antipetista distribuído por eleitores de direita
Imagem: Carlos Madeiro/UOL
Em algumas ruas, panfletos com ataques ao PT foram arremessados. Assinado por três movimentos de direita, o papel jogado nas ruas durante a madrugada diz: "Eles querem voltar. Vocês irão deixar?", com o slogan "PT nunca mais".

Além de primos, a disputa na cidade é quente porque os dois estão empatados com 50% dos votos, fenômeno que também ocorre em Vitória. O PT depende do sucesso em uma dessas capitais para amenizar a imagem de fracasso do primeiro turno, quando a sigla não elegeu prefeito em nenhuma capital.

A eleição é apertada em pelo menos outras três cidades, segundo o Ibope e Datafolha. Em Cuiabá, Manaus e Porto Alegre, a disputa será voto a voto. Em outras quatro capitais, Aracaju, Boa Vista, Porto Velho e São Paulo, as pesquisas indicam vantagem dos atuais prefeitos.

Greve, Paes e Crivella no Rio

No Rio de Janeiro, a disputa começou com uma inesperada greve de duas empresas de transporte, as viações Redentor e Futuro. O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) chegou a pedir intervenção da Polícia Federal depois que os funcionários protestaram contra o parcelamento em oito vezes do 13º salário e o não recolhimento do FGTS.

A paralisação, que começou de madrugada, afetou a zona oeste durante a manhã. Ao todo, 390 ônibus não saíram da garagem. "Essa paralisação é ilegal e representa grave impedimento e embaraço às eleições", afirmou o tribunal.

Candidato à reeleição, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) falou sobre o assunto ao votar na Escola Municipal Sérgio Buarque de Holanda, na Barra da Tijuca, zona oeste, às 10h07.

"É uma pena que a paralisação aconteça justamente hoje, votação do segundo turno. Muitos trabalhadores, que usam o transporte público, podem ficar sem condições de votar", disse. "É um local forte para nós, do Republicanos", afirmou sobre a região oeste da cidade.

Com mais de 60 anos, ele aproveitou o horário de votação preferencial (das 7h às 10h) para votar em si mesmo. Apesar de mostrar otimismo, Eduardo Paes (DEM) aparece com 68% dos votos válidos contra 32% de Crivella, segundo o Datafolha.

Paes, que foi prefeito do Rio entre 2009 e 2017, também já votou. Ele foi a São Conrado, zona Sul. "Hoje podemos dar um basta, podemos dar um não ao governo mais omisso, mais despreparado que já tivemos", disse o candidato, que recebeu apoios polêmicos.

29.nov.2020 - Sem máscara, Bolsonaro fala com jornalistas em seu local de votação, no Rio de Janeiro - Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo - Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo
29.nov.2020 - Sem máscara, Bolsonaro fala com jornalistas em seu local de votação, no Rio de Janeiro
Imagem: Jorge Hely/Framephoto/Estadão Conteúdo

Rixa no Rio

Paes recebeu o voto do presidenciável Luciano Huck, que declarou sua escolha logo depois de votar na escola municipal República da Colômbia, na Barra da Tijuca.

O ex-prefeito recebeu ainda o apoio do correligionário e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que criticou Crivella, em mais um contraponto ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). "[Quero falar da] importância da vitória do Eduardo [Paes], o que isso pode significar depois de abertas as urnas. (...) e o prefeito Crivella que parecia um pastor e pareceu mais no final um diabo, com tanta agressividade, com tantas mentiras, fake news.", afirmou Maia à CBN.

Bolsonaro, que ao longo da campanha passou a ignorar o prefeito do Rio, apesar de ter gravado para seu programa eleitoral, decidiu falar hoje sobre o assunto. Sem máscara, o presidente saiu da escola municipal Rosa Da Fonseca, zona oeste, dizendo que "discretamente emprestei meu nome para alguns candidatos e o povo decidiu". Ele deve retornar a Brasília no início da tarde.

Candidato Bruno Covas (PSDB-SP) acompanha Marta Suplicy em votação no Colégio Madre Alix, em São Paulo (SP) - Reinaldo Canato/UOL - Reinaldo Canato/UOL
29.nov.2020 - Candidato Bruno Covas (PSDB-SP) acompanha Marta Suplicy em votação no Colégio Madre Alix, em São Paulo (SP)
Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Covas, Boulos e Temer em São Paulo

Em São Paulo, o ex-presidente Michel Temer (MDB) votou na primeira hora de abertura das seções, em São Paulo. Ao deixar a PUC (Pontifícia Universidade Católica), na zona oeste, disse que "Bruno [Covas, atual prefeito] vem fazendo um bom trabalho, de muita competência."

O prefeito tucano acompanhou a ex-prefeita Marta Suplicy em sua ida à votação no Colégio Madre Alix, nos Jardins. Quando prefeita (2000 a 2004), ela era filiada ao PT, o que gerou críticas de antigos aliados por seu apoio ao tucano, que disputa o segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL).

Depois de também acompanhar a votação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Covas votou no Colégio Vera Cruz, zona oeste. Em sua fala, criticou a postura de Bolsonaro de defender o voto impresso.

"O voto eletrônico elegeu FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro. Não da para colocar em dúvida um sistema que aprova e elege pessoas de partidos distintos. Há mais de 30 anos em funcionamento. Nunca votei no papel, desde que comecei já era eletrônico. Confio na democracia e na Justiça Eleitoral", afirmou.

Já o candidato do PSOL não vai votar, já que foi diagnosticado com covid-19. O candidato apareceu na varanda de sua casa, na zona sul, acenou aos eleitores e empunhou um cartaz escrito "Vamos virar".

Na pesquisa Datafolha, o tucano tem 55% dos votos válidos, enquanto Boulos aparece com 45%.

Sem poder votar por estar com covid, Guilherme Boulos (PSOL) apareceu na sacada de sua casa neste domingo - FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO - FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO
Sem poder votar por estar com covid, Guilherme Boulos (PSOL) apareceu na sacada de sua casa neste domingo
Imagem: FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO

Crimes eleitorais e troca de urnas

Até as 13 horas de hoje, o Ministério da Justiça e Segurança Pública registrou 192 ocorrências ligadas à eleição e 37 eleitores foram presos ou conduzidos a delegacias.

De acordo com o boletim, as ocorrências de crimes eleitorais somaram 193, entre elas, 27 por boca de urna, 24 por desordem (que atrapalharam os trabalhos eleitorais) e 93 por desobediência à ordens da Justiça Eleitoral. ... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2020/11/29/ministerio-da-justica-registra-125-ocorrencias-relacionadas-a-eleicao.htm?cmpid=copiaecola

De acordo com o boletim, foram 27 casos de boca de urna, 24 de desordem (que atrapalharam os trabalhos eleitorais) e 93 de desobediência a ordens da Justiça Eleitoral.

Até as 11h30, a Justiça Eleitoral também precisou substituir 368 urnas eletrônicas, 0,25% do total de 97 mil equipamentos distribuídos pelo país.

Segundo balanço divulgado pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a maior parte dos equipamentos (103) foi trocada no estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Em seguida, há registros de 95 urnas substituídas no Rio de Janeiro e 30 no Ceará.

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Eleições 2020: Veja fotos de votação no segundo turno pelo Brasil

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no texto, Eduardo Paes é filiado ao DEM, e não ao MDB. O texto foi corrigido.