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Após nova queda, PT diz não ver derrota e fala em resgatar direitos de Lula

Sergio Lima/Folhapress
Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

08/12/2020 10h56

O PT deixou as eleições municipais de 2020 sem ter conquistado nenhuma capital, algo que nunca havia acontecido desde a redemocratização. Apesar do resultado, o partido diz não avaliar que houve uma derrota.

"O resultado eleitoral certamente ficou aquém das expectativas, mas nada justifica a leitura derrotista que tentam impor ao PT e à esquerda de maneira geral", traz trecho da "Declaração Política do Partido dos Trabalhadores", feita pelo Diretório Nacional do partido e que ainda será publicada.

Críticas à direção

O documento, com 16 pontos, foi elaborado ontem em debate virtual do Diretório Nacional do PT. No encontro, o desempenho nos pleitos foi analisado e também ouviu críticas de algumas alas do partido.

"O Diretório Nacional não considerou a possibilidade de que fossemos reduzir o número de prefeituras governadas por nós", escreveram integrantes do grupo ao partido.

"Pelo contrário, prevaleceu a ideia de que, lançando mais candidaturas e atuando numa situação política melhor do que a de 2016, cresceríamos. E isso não ocorreu. Como não imaginávamos que pudesse ocorrer, não tomamos as devidas medidas."

"Ainda estamos longe de uma resposta efetiva ao bloco de poder que se constituiu contra a esquerda", outra ala pontuou. Esta considerou que o PT conseguiu "manter o nariz fora d'água, com resultados moderadamente positivos quando confrontados com 2016".

No total, petistas irão comandar 183 prefeituras a partir de 2021. Em 2016, eram 254, número que já representava uma queda em relação a 2012, quando obteve a administração de 638 cidades.

"A queda no número de prefeitos e vereadores eleitos em relação a 2016 parece indicar (...) que nossa fragilidade de construção partidária em pequenos e médios municípios, com diretórios efêmeros e cartoriais, não foi enfrentada para dar conta do desafio colocado pela tática eleitoral de 2020", disseram um dos grupos críticos.

"Intensidade" menor

Na declaração, o Diretório não faz uma autocrítica sobre estratégia e indica que outros fatores foram determinantes, como a pandemia do novo coronavírus e as mudanças no calendário eleitoral. "Qualquer avaliação criteriosa das eleições de 2020 tem de levar em conta as condições excepcionais em que foram disputadas e que certamente influíram no resultado".

Para o PT, o cenário favoreceu "fortemente os candidatos de partidos ligados ao governo federal e os que disputaram a reeleição, num ano em que o índice de reeleição de prefeitos saltou de 45% (em 2016) para 63%".

O partido avalia que as restrições impostas pela crise sanitária reduziram "a intensidade do debate eleitoral e político, além da competitividade dos candidatos de oposição no nível local".

"Significativo"

Apesar de não ter conquistado capitais, os petistas comemoraram a vitória em cidades menores no segundo turno.

"É significativo para um partido com a trajetória do PT o fato de termos voltado a vencer eleições municipais em cidades historicamente ligadas ao partido, como Diadema (SP), Mauá (SP) e Contagem (MG), além da eleição da primeira prefeita mulher e petista de Juiz de Fora (MG)."

Foram quatro conquistas nas 15 disputas das quais participou em 29 de novembro. Nas duas cidades paulistas, as vitórias foram em municípios do chamado "cinturão vermelho", que praticamente abandonou o partido na eleição passada.

"Resgate" de Lula

A partir do resultado da eleição, o Diretório Nacional diz que "o resultado nos impõe a responsabilidade de fortalecer com a esquerda e os movimentos sociais a oposição ao governo Bolsonaro, aos seus aliados e as políticas neoliberais".

"Bem como construir as condições políticas para disputar as próximas eleições presidenciais com uma agenda de reconstrução do país, dos direitos, da soberania nacional e da democracia."

Nessa reconstrução, o partido volta a pontuar "o resgate dos direitos políticos" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com base na Lei da Ficha Limpa, o petista não pode disputar eleições porque possui condenações na Justiça. O partido e o ex-presidente aguardam uma posição do STF (Supremo Tribunal Federal) que poderá liberá-lo para participar de pleitos.

Apesar do discurso, alas no partido pontuam que o PT ainda não encontrou "o tom adequado para a disputa política com o governo de
extrema-direita e com as elites". "A tática eleitoral do PT de 2020 foi defensiva", comentou um dos grupos críticos. "Não conseguimos nacionalizar o processo eleitoral."