Campanha de Haddad prioriza passado no MEC e escanteia legado como prefeito
O desafio de conquistar São Paulo, estado que nunca elegeu um governador do PT, tem levado o petista Fernando Haddad a recorrer mais à sua experiência como ministro da Educação do que como prefeito da capital paulista. É a paternidade do ProUni uma de suas principais bandeiras em propagandas e eventos desde o início da campanha oficial, na segunda quinzena de agosto.
Em nove programas eleitorais veiculados na televisão, Haddad fez mais menções aos seus feitos enquanto ministro (2005-2012) do que como administrador da maior cidade do país (2013-2016).
Três dos programas televisivos tiveram um terço do tempo dedicado a depoimentos de beneficiários das políticas adotadas na gestão do petista à frente do MEC (Ministério da Educação). Apenas um teve foco na prefeitura, citando a implementação de Hospitais Dia, estruturas que realizam atendimentos clínicos e cirúrgicos que requerem a permanência do paciente no local por, no máximo, 12 horas.
Teto de vidro. Haddad teve o segundo pior mandato na Prefeitura de São Paulo, segundo o Datafolha: 48% consideraram seu governo ruim ou péssimo. O petista perdeu em rejeição apenas para Celso Pitta (1997-2000), que registrou 83%.
A má avaliação da gestão tem sido explorada por seus adversários, como no debate da TV Bandeirantes, em 7 de agosto, quando Tarcísio de Freitas (Republicanos) pediu para a plateia pesquisar no Google quem foi o "pior prefeito de São Paulo", em referência ao petista.
Já o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), em uma das propagandas na televisão, afirmou que as filas de creche aumentaram na cidade durante o mandato de Haddad. Em quatro anos de administração, o petista cumpriu apenas 67 das 123 metas propostas.
Bênção de Lula. Nas propagandas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato do partido à Presidência da República, aparece dizendo que Haddad foi "o melhor ministro da Educação da história".
Pai do ProUni. "Toda vez que vocês falarem de educação, toda vez que tiverem prazer pela formação de um filho ou uma filha, vocês têm que lembrar que o Haddad foi o ministro da Educação responsável para que a gente tivesse mais escolas técnicas, mais universidade e mais ProUni", disse Lula em encontro com trabalhadoras domésticas no início de setembro.
Haddad, que estava presente no evento, de fato foi um dos criadores do ProUni (Programa Universidade Para Todos), que oferece bolsas de estudo em universidades particulares a estudantes de baixa renda. A ideia surgiu com a esposa dele, Ana Estela, quando ela trabalhava no gabinete do então ministro Cristovam Buarque. Ana Estela e Haddad —que era secretário-executivo do ministério— implementaram o projeto na troca da gestão de Buarque por Haddad.
Viagem no tempo. Na peregrinação pelo interior de São Paulo, com foco nas cidades onde teve baixo desempenho nas eleições de 2018, Haddad tem dado maior ênfase ao ProUni e outros programas federais como Sisu, Fies e Ciências Sem Fronteiras, todos criados em gestões petistas.
Coordenador do plano de governo de Haddad, o deputado federal Emídio de Souza (PT-SP) vê o apelo à experiência no MEC como algo que provoca maior impacto ao eleitor fora da capital.
"No interior as pessoas conhecem mais a gestão de um ministro do que de um prefeito. Ainda mais na Educação. São cidades com muitas escolas técnicas, universidades, bolsas do ProUni", avalia.
Currículo. Em viagem a Assis no dia 2 de setembro, Haddad afirmou que foi "seguramente o único ministro que assinou convênio com os 645 prefeitos de São Paulo". Quase uma semana depois, repetiu a mesma frase em Rio Claro. As referências ao MEC também foram predominantes nas visitas a Avaré, Ourinhos e Botucatu, todas nas últimas semanas.
Emídio afirma que é importante para a campanha que Haddad se coloque como um gestor capaz de negociar com diversas administrações: "Como prefeito, ele não se relacionava com outros prefeitos, mas como ministro, sim. Negociava creches, programas de transporte escolar e lidou com muitas prefeituras."
Reforço. Haddad tem percorrido o estado acompanhado por Márcio França (PSB), candidato ao Senado, e algumas vezes por Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa de Lula.
Os dois ex-governadores são vistos como figuras públicas de peso em São Paulo e com capacidade de atrair eleitores que nunca foram identificados com o PT, mas que também não encontram solução nos dois maiores adversários de Haddad: Tarcísio e Rodrigo.
Assim como o petista, os dois pessebistas também reforçam as ações adotadas na gestão Haddad no MEC. "O interior não tem tanto interesse pelo que acontece na capital, é muito mais pelo que acontece no estado e em nível nacional", argumenta Emídio.
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