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Na mesma semana, Bolsonaro recua sobre falas na pandemia, eleição e vacina

Jair Bolsonaro na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio - Zô Guimarães/UOL
Jair Bolsonaro na Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio Imagem: Zô Guimarães/UOL

Do UOL, em Brasília

17/09/2022 04h00

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro (PL) mudou o discurso em relação à pandemia de covid-19, às mulheres e ao processo eleitoral. Com a proximidade do primeiro turno das eleições — que acontecem daqui a 16 dias —, o candidato à reeleição tem tentado se mostrar mais moderado e foca os ataques no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto.

O primeiro recuo nas recentes declarações públicas de Bolsonaro ocorreu na segunda-feira (12): em entrevista a um pool de podcasts, ele disse que "perdeu a linha" na pandemia a covid-19, que matou mais de 685 mil brasileiros. "Eu dei uma aloprada. Os caras [imprensa] batiam na tecla o tempo todo e queriam me tirar do sério", afirmou.

Arrependimento. O presidente emendou afirmando ter se arrependido de dizer que não era "coveiro" ao ser questionado sobre as mortes provocadas pela doença, no início da pandemia, em abril de 2020.

No entanto, aos podcasters manteve a defesa que reiteradamente faz do "tratamento precoce" com medicamentos ineficazes contra o coronavírus. Três dias depois, porém, o presidente voltou a afirmar que "não errou nenhuma vez" na condução da pandemia — embora tenha desestimulado o distanciamento social e o uso de máscaras, convocado e participado de aglomerações e desqualificado as vacinas.

O relatório final da CPI da Covid no Senado também apontou que o governo federal atrasou a compra de vacinas e que soube do aumento da demanda por respiradores em Manaus um mês antes do colapso hospitalar na cidade, em janeiro do ano passado.

Passagem de faixa. Na mesma entrevista, o presidente evitou o recorrente tom golpista quando ataca sem provas a segurança do sistema eleitoral e disse que, caso perca a eleição, "passará a faixa" ao vencedor.

Em 2018, antes de ser eleito, o presidente afirmou que não aceitaria resultado diferente da sua eleição. Já neste ano, em agosto, em entrevista ao Jornal Nacional, ele disse que aceitaria o resultado das eleições apenas se elas fossem "limpas", colocando em dúvida, mais uma vez infundadamente, a credibilidade das urnas eletrônicas.

Pelas mulheres. Na quarta (14), Bolsonaro foi ao Rio Grande do Norte e fez declarações em favor das mulheres numa tentativa de amenizar sua rejeição entre o eleitorado feminino — segundo o Datafolha, o presidente é visto como o candidato que mais ataca as mulheres.

Diferentemente do que aconteceu no ato de comemoração do Sete de Setembro em Brasília, quando em uma declaração machista comparou a primeira-dama Michelle Bolsonaro com outras mulheres, no evento em Belém, ele ignorou quando apoiadores puxaram um coro de "imbrochável".

Ontem, em um comício em Londrina (PR), num novo aceno ao eleitorado feminino, o presidente disse que que tem "consideração" pelas mulheres e que o futuro "passa pela forma como elas nos tratam".

"Dizer a vocês que o nosso futuro passa por elas, pelo trabalho delas, e pela consideração que temos por elas e da forma como elas nos tratam. Tenho certeza que juntos faremos um país muito melhor do que se possa imaginar", afirmou no encontro.

Na última pesquisa do Datafolha, Bolsonaro aparece com 29% das intenções de voto entre as mulheres — Lula tem 46% (a margem de erro é de 3 pontos percentuais).

Fim de sigilo? Em sua live semanal, na quinta (15), Bolsonaro disse que "quem quiser pode olhar" seu cartão de vacina.

Em janeiro de 2021, o governo impôs sigilo de cem anos para o cartão de vacinação do presidente — ele nega ter se vacinado contra a covid-19.

Em outro recuo, recentemente também disse que recorreu a uma "figura de linguagem" quando afirmou que quem tomasse a vacina poderia "virar jacaré".

Compostura. A mudança de tom a poucas semanas do primeiro turno da eleição faz parte de uma estratégia para se mostrar mais moderado, segundo UOL apurou com integrantes da campanha do presidente.

Aliados o têm aconselhado a abrandar seu discurso para tentar diminuir sua rejeição, hoje em 53%, segundo o Datafolha. É o principal caminho para vencer as eleições deste ano, na avaliação da campanha.

Exemplo disso foram as celebrações do Dia da Independência, em que militares consideraram que Bolsonaro respeitou "limites", sem gritar falas de questionamentos às urnas eletrônicas nem fazer ataques diretos ao STF (Supremo Tribunal federal).

No final de agosto, em um comício em Curitiba, o presidente pediu a apoiadores que baixassem um cartaz que pedia um golpe de Estado — atendendo ao conselho de sua equipe de rever o confronto com Judiciário.

Tanto o Supremo Tribunal Federal como o Tribunal Superior Eleitoral e parte de seus ministros já foram alvos de ataques diretos do presidente.

Atrás na corrida. Bolsonaro aparece estagnado em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.

Pesquisa Datafolha divulgada na quinta aponta que Lula se mantém na liderança, com 45%, e que o presidente oscilou negativamente em um ponto percentual em relação à pesquisa anterior —agora, ele tem 33%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.