Sem mirar urnas, Bolsonaro ataca pesquisas e admite voto pró-mudança
O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse na noite neste domingo (2) considerar que "as pesquisas [de intenção de voto] estão desmoralizadas" e enalteceu a ida ao segundo turno em uma disputa mais acirrada do que projetavam os levantamentos — que apontavam vantagem mais larga de Luiz Inácio Lula da Silva, mas a diferença entre eles foi de cinco pontos percentuais. Com 99,97% das urnas apuradas, o petista tinha 48,42% dos votos e o candidato à reeleição, 43,20%.
Na visão do chefe do Executivo, o resultado da eleição mostrou que há setores da sociedade que alimentam desejo de "mudança", sobretudo em razão da crise econômica. O tom do discurso, mais realista, contrasta com as declarações do presidente na reta final da campanha, quando chegou afirmar que venceria no primeiro turno com "60% dos votos".
"Eu entendo que tem muito voto que foi pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos, em especial da cesta básica. Entendo que é uma vontade de mudar por parte da população. Mas tem certas mudanças que podem vir para pior", disse o Bolsonaro, em seu primeira entrevista, após a definição de que enfrentará Lula no segundo turno, no dia 30.
Ataque a pesquisas, mas sem mirar urnas. O presidente afirmou entender que a campanha à reeleição "venceu mentiras" propagadas nas pesquisas eleitorais, usando como argumento a diferença de votos entre entre ele o ex-presidente Lula, menor do que a projetada pelos institutos de pesquisa.
"Nós vencemos a mentira no dia de hoje, que estava o Datafolha dando aí 51% a trinta e poucos, então vencemos a mentira" — o último da Datafolha, de sábado, apontava 50% para Lula e 36% para Bolsonaro; já o Ipec, também de sábado, indicava 51% a 37%, respectivamente.
"A diferença foi quatro [na verdade, foi de cinco pontos percentuais]. Então, isso tudo ajuda a levar votos para o outro lado. Isso vai deixar de existir. Até porque, acho que não vão continuar fazendo pesquisas esse pessoal, não é possível", disse Bolsonaro.
O resultado de hoje frustra expectativas petistas de vitória em turno único ou a ida ao segundo turno com uma vantagem de mais de pontos de diferença entre os dois candidatos — e preocupa a campanha de Lula.
Do outro lado, o resultado foi comemorado pela equipe bolsonarista, que tem quatro semanas para reverter o cenário apontado hoje.
Estratégias para o 2º turno. Na portaria do Palácio da Alvorada, em Brasília, Bolsonaro afirmou a jornalistas e apoiadores que pretende, durante o segundo turno, tentar melhorar o diálogo com as camadas do eleitorado que, de acordo com a sua percepção, foram mais afetadas pela política do "fique em casa, a economia a gente vê depois".
"E a gente tentou, durante a campanha, mostrar esse outro lado, mas parece que não atingiu a camada mais importante da sociedade", disse ele, em referência aos mais pobres.
"Temos um segundo tempo pela frente, onde tudo passa a ser igual, o tempo para cada lado passa a ser igual, e nós vamos agora mostrar melhor para a população brasileira, em especial a classe mais afetada, que é consequência da política do "fique em casa, a economia a gente vê depois", é consequência de uma guerra lá fora, de uma crise ideológica também."
Tenho certeza de que vamos poder melhor mostrar para essa parcela da sociedade que as mudanças que porventura alguns querem podem ser pior, até mesmo a gente mostrando aqui melhor Argentina, o Chile, a Colômbia; a Venezuela já estava em crise antes mesmo da Covid. É por aí o nosso trabalho por ocasião do segundo turno"
Jair Bolsonaro
Suspeição sobre as eleições. Bolsonaro evitou falar em fraude nas eleições, tecla em que vem batendo desde quando foi eleito em 2018, sem nunca ter mostrado provas. Neste domingo, ele disse que vai aguardar o parecer das Forças Armadas para falar sobre o caso.
"Repito, elas foram convidadas a participar, integrar uma comissão de transparência eleitoral. Então isso aí fica a cargo do ministro da defesa tratar desse assunto", afirmou.
Aliados eleitos. O presidente também indicou que vai procurar o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), para angariar mais votos — Lula venceu em Minas, único estado do Sudeste em que ficou à frente —, assim como no Rio de Janeiro, no qual venceu Cláudio Castro (PL). Aliados também conquistaram vagas principalmente no Congresso.
"A minha eleição arrastou um monte de gente, né? E alguns tornaram-se inimigos rapidamente. Porque alguns desses pediram certas coisas que eu resolvi não atender. Esse pessoal que está chegando agora já me conhece melhor, já vê como é que o governo tem funcionado, e no meu entender ajudará e muito a gente ter mais facilidade de aprovar certas medidas, como a reforma tributária", disse Bolsonaro.
Votos de Ciro e Tebet. Para o presidente, os eleitores de Ciro Gomes (PDT-CE) e Simone Tebet (MDB-MS)tendem a escolhê-lo no segundo turno. A senadora, terceira colocada nas eleições, disse já estar decidida, mas que aguardará o MDB para se pronunciar. O PT, por sua vez, deve intensificar o diálogo com o partido em busca do apoio da candidata.
Ciro também não declarou apoio a nenhum candidato.
"Os eleitores deles são muito mais simpáticos a mim que ao outro lado. Eles sabem que teremos eleições, estamos no segundo turno das eleições mais importantes do Brasil. Tem certas coisas que você experimenta voltar atrás e não é fácil", afirmou o presidente
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