Bolsonaro em Aparecida: repercussão no WhatsApp foi negativa, diz estudo
A participação do presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma missa na última quarta-feira (12) no Santuário Nacional de Aparecida, a 180 quilômetros de São Paulo, repercutiu negativamente, indica o monitoramento em 15 mil grupos abertos do WhatsApp.
O levantamento da Palver, empresa que analisa a interação entre as pessoas pelo aplicativo de troca de mensagens, aponta que, para cada oito menções negativas, há apenas uma positiva. O impacto ruim para a campanha do candidato à reeleição já se equivale às imagens que viralizaram de Bolsonaro em um templo com os símbolos da maçonaria, principalmente entre os eleitores evangélicos.
O levantamento rastreou 35,9%% das mensagens como negativas e outras 59,4% como neutras — que não indicam necessariamente neutralidade já que são compartilhamento de notícias com teor crítico. Apenas 4,7% do total são de mensagens positivas, indica o monitoramento.
Em "guerra religiosa" nas redes, o impacto negativo já é o dobro em comparação ao vídeo que propaga a fake news associando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao satanismo. Na semana passada, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) determinou a remoção das redes sociais desse conteúdo.
Não só em grupos pró-Lula. De acordo com o levantamento, essas mensagens negativas não estão sendo compartilhadas apenas em grupos pró-Lula, o que evidenciam o impacto negativo na campanha bolsonarista, aponta o estudo.
Por que a visita de Bolsonaro em Aparecida foi tão negativa? A homilia na principal missa celebrada do dia de Nossa Senhora Aparecida se transformou em agenda de campanha, com atos de hostilidade à imprensa e um recado crítico do arcebispo Dom Orlando Brandes ao presidente.
Mesmo sem citá-lo nominalmente, Dom Orlando disse que é preciso combater o "dragão do ódio", da mentira, do desemprego, da fome e da incredulidade. Outro padre disse em púlpito que "não era dia de pedir votos."
Um dos vídeos mais compartilhados mostra quando Bolsonaro é ovacionado aos gritos de "mito." "Na casa de Deus, seus seguidores idolatraram um homem acima da própria adoração a Cristo", cita a legenda ao exibir as imagens.
Bolsonaristas xingam jornalistas e imagens viralizam. Centenas de pessoas vestidas de verde e amarelo atenderam ao chamado do presidente e compareceram a Aparecida. Do lado de fora da Basílica, apoiadores de Bolsonaro xingaram jornalistas da TV Vanguarda, da TV Aparecida, ligada à Igreja Católica, do SBT e do UOL. As cenas foram flagradas ao vivo e viralizaram nas redes sociais.
Mensagens de "desrespeito à fé católica". Segundo Miguel Leite, analista na Palver, o principal impacto negativo está relacionado ao "desrespeito à fé católica", de acordo com a citação pública com links disponíveis na internet, que incluem grupos no WhatsApp de debate de política e de compartilhamento de mensagens que citam Bolsonaro em Aparecida.
"Ainda é cedo para dizer como a visita de Bolsonaro em Aparecida vai impactar a campanha e a disputa do segundo turno das eleições, mas a repercussão foi muito negativa. Há uma grande circulação de mensagens dizendo que ele desrespeitou a fé católica", diz o analista.
Escalada de menções negativas à relação entre Lula e religião. O monitoramento, que está sendo feito desde janeiro deste ano, também indica uma escalada de menções negativas na relação entre Lula e a religião no segundo turno. Isso inclui, por exemplo, o compartilhamento de fake news — como a falsa relação entre o petista e o satanismo — e as notícias compartilhadas por agências de checagem.
Até o começo da semana, havia mais notícias negativas contra Lula ligando política e religião, de acordo com o monitoramento feito pela Palmer. Houve, porém, uma reviravolta após a visita de Bolsonaro em Aparecida, ainda segundo o levantamento. "Os ataques ao Lula estavam acima em comparação aos ataques ao Bolsonaro antes da visita a Aparecida. Agora, isso mudou", afirma Miguel Leite.
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