Topo

Após racha, primos Marília e João Campos se unem em aliança com Lula em PE

Lula ao lado de Marília Arraes (SD), candidata ao governo de Pernambuco, e João Campos (PSB), prefeito de Recife, além do senador Humberto Costa (PT-PE)  - Lucas Borges Teixeira/UOL
Lula ao lado de Marília Arraes (SD), candidata ao governo de Pernambuco, e João Campos (PSB), prefeito de Recife, além do senador Humberto Costa (PT-PE) Imagem: Lucas Borges Teixeira/UOL

Do UOL, em São Paulo e no Recife

14/10/2022 12h51Atualizada em 14/10/2022 18h31

Os primos Marília Arraes (SD), candidata ao governo de Pernambuco, e João Campos (PSB), prefeito do Recife, voltaram a se unir em torno da chapa da ex-petista no estado e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República. Os dois se encontraram em entrevista coletiva no Recife, nesta manhã. Mas, apesar do anúncio, não posaram para fotos nem se abraçaram —ficaram cada um de lado da mesa. Mais tarde, em carreata pelo centro antigo, posaram com Lula no meio deles.

No primeiro turno, os primos estavam em lados distintos: Campos e Lula apoiavam oficialmente o deputado Danilo Cabral (PSB-PE) na corrida eleitoral estadual enquanto Marília se transferiu para o Solidariedade e lançou candidatura independente.

Marília é neta e João, bisneto do ex-governador Miguel Arraes. Os dois racharam definitivamente durante a disputa pela Prefeitura do Recife em 2020, vencida por Campos, quando a prima ainda estava no PT —e foi candidata. Campos é filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em 2014, antigo aliado de Lula.

Por causa do acordo nacional com o PSB, o PT retirou os nomes do senador Humberto Costa (PT-PE) e de Marília na disputa pelo estado —ela era, então, a principal liderança jovem do PT no estado.

Mesmo sem apoio oficial, mas com voto massivo dos petistas, Marília chegou ao segundo turno em primeiro lugar com 23,9% dos votos. Raquel Lyra (PSDB), que perdeu o marido no dia da eleição, ficou em segundo, com 20,5%.

Cabral, o governador Paulo Câmara (PSB) e o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, parte do grupo político de Campos, mas sem qualquer proximidade com Marília, não participaram do encontro de hoje.

Quero agradecer de coração a tomada de decisão de vocês de apoiar a companheira Marília para o segundo turno."
Lula, em coletiva de imprensa

Acordo é acordo. O apoio irrestrito de Lula a Danilo Cabral no primeiro turno foi uma das condicionantes para o PSB fechar a aliança nacional na chapa com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB) como vice. Criado em 1947, o PSB governa Pernambuco desde 2007 —o estado era uma prioridade para o partido.

Não deu certo. Com apoio de Lula, Cabral, antes desconhecido, chegou a 18% dos votos, mas acabou em quarto lugar.

A separação causou alguns constrangimentos à campanha. Com reprovação do governador Câmara em alta, o diretório local do PSB teve dificuldades para emplacar o nome do candidato à sucessão do governo.

No primeiro turno, a ida de Lula a Pernambuco, Cabral e Câmara foram vaiados enquanto o nome de Marília era gritado pela militância —a situação chegou a tal ponto que Lula teve de intervir. Ela foi proibida de subir no palanque, mesmo sendo de um partido que faz parte da aliança nacional. Ainda assim, conseguiu apoios entre os ex-colegas do PT local.

'Juntar os desiguais'. Inicialmente, sem citar a briga entre os primos, Lula fez menção à união entre os dois, agradecendo o apoio de Campos e falando sobre a necessidade política de "juntar os desiguais" —discurso que tem usado muito para explicar sua aliança com Alckmin, antigo adversário político.

Depois, ao ser questionado por jornalistas, o petista afirmou que o PSB tomou uma decisão correta. "Você pode ter tido uma briga, mas a relação deles é sanguínea, eles têm um DNA", disse Lula.

É uma atitude honesta, coerente e corajosa. Porque é visível, ninguém está escondendo, que tinha divergências profundas."
Lula, em coletiva de imprensa

Campos não falou durante coletiva com a imprensa, só apoiou com a cabeça os agradecimentos de Lula e sua prima. Já Marília, ao discursar, disse que o foco maior é "reconstruir o nosso Brasil" "passando por cima de qualquer divergência".

Marília, Lula e João em meio a apoiadores no Recife: primos estavam em lados diferentes no primeiro turno - RICARDO STUCKERT - RICARDO STUCKERT
Marília, Lula e João em meio a apoiadores no Recife: primos estavam em lados diferentes no primeiro turno
Imagem: RICARDO STUCKERT

Briga de 2020. Campos e Marília disputaram as eleições municipais no Recife em 2020. Ao longo da campanha eleitoral, os primos trocaram ataques, fake news e acusações de corrupção.

Contra Marília, por exemplo, panfletos foram distribuídos com informações falsas dizendo que a então candidata queria proibir a leitura da Bíblia nas sessões da Câmara dos Vereadores. Campos negou participação.

Em uma disputa acirrada, ela e o primo seguiram para o segundo turno de votação. Campos venceu com 56,27% dos votos —Marília ficou com 43,73%.

O filho de Eduardo Campos usou a da imagem do pai ao longo da campanha.

Cenário imprevisível. Pernambuco terá uma disputa mais difícil em 30 de outubro, avaliam os petistas. Marília e Lyra terminaram o primeiro turno com apenas três pontos de diferença.

Os nomes de Lula e Jair Bolsonaro (PL), no entanto, não ficaram muito atrás:

  • O ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira (PL) foi o terceiro, com 18,15%;
  • Cabral acabou em quarto com 18,06% e
  • O ex-deputado estadual e ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União-PE) em quinto, com 18,04%.

Na primeira pesquisa do Ipec (ex-Ibope) divulgada para o segundo turno, Marília aparece com 46% das intenções de voto —oito pontos atrás de Lyra (54%).

No PT, a avaliação é que, embora os votos do PSB tenham migrado para a ex-petista, a concorrente tucana recebe o apoio da maioria do eleitorado dos outros dois candidatos. Por isso, a campanha de Marília aposta na influência direta de Lula para tentar impulsionar seu nome.

Galo da Madrugada petista. Depois da coletiva de imprensa, Lula subiu em uma caminhonete e saiu em cortejo pelas ruas do Recife, cercado de militantes. Em meio a apoiadores, havia figuras tradicionais da região, como bonecos de Olinda, Bumba meu boi, batuques, fanfarras e fantasias de Carnaval.

O ato durou cerca de 1h40 e percorreu quase 2 km no centro rumo ao Recife Antigo. Lula falou em um só momento, em movimento, até chegar à Praça do Carmo. Depois, subiu em um trio elétrico —como fez em outras capitais.

Cortejo de Lula e apoiadores pelo Recife durou cerca de 1h40 e terminou com discurso em trio elétrico - RICARDO STUCKERT - RICARDO STUCKERT
Cortejo de Lula e apoiadores pelo Recife durou cerca de 1h40 e terminou com discurso em trio elétrico
Imagem: RICARDO STUCKERT

Comparação entre atos. Planejando a maior carreata do segundo turno, a campanha queria fomentar, em tom de brincadeira, a disputa com Salvador pelo ato mais numeroso —uma rixa nordestina.

"Eu participei de muita campanha, vi muita gente. Eu estou para dizer que esse ato só é comparado ao de Salvador", disse Lula. "A diferença é que em Salvador parece que o povo gosta mais de música. Não tinha um homem falando o tempo todo ao microfone", continuou o ex-presidente, cessando por alguns minutos os aplausos, com breve silêncio de orgulho ferido.

Os petistas também esperavam se sobrepor ao evento do presidente Jair Bolsonaro (PL), que esteve na cidade na quinta-feira (13).

"O monstro [Bolsonaro] esteve aqui ontem e reuniu meio dúzia de gatos pingados", provocou Humberto Costa no comício ao fim do trajeto.

Na avaliação do PT, o evento de hoje foi "visivelmente mais numeroso". Não foram divulgados, no entanto, números oficiais.

"Eu não acreditava. Aí eu vi o comício mixuruca que Bolsonaro fez aqui em Recife. Quando eu vi a quantidade de gente na nossa passeata hoje, só consegui agradecer do fundo do coração", também alfinetou Lula.

Vamos fazer uma foto e mandar pro Bolsonaro. Aqui é gente trabalhadora, não é miliciano, não. Tem até trabalhador da Petrobras.
Lula, em comício

Errata: este conteúdo foi atualizado
Miguel Coelho é ex-deputado estadual e ex-prefeito de Petrolina. O texto foi corrigido.
Marília Arraes é neta e João Campos, bisneto de Miguel Arraes. O texto foi corrigido.