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Bolsonaro liga censura ao PT, diz que TV pública é dele e convoca para live

Do UOL, em São Paulo

21/10/2022 23h12Atualizada em 24/10/2022 17h15

Em entrevista que substituiu o debate marcado para hoje (21) à noite, o presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitou a ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para fazer ataques ao candidato rival. A sabatina foi feita pelo SBT em parceria com Estadão/Rádio Eldorado, CNN, Veja, Terra e Rádio Nova Brasil.

Além de mirar no ex-presidente, Bolsonaro fez promessas na área econômica e voltou a assegurar que não tentará aumentar as vagas no STF (Supremo Tribunal Federal) em caso de reeleição. Também chamou de "TV minha" a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), gestora da emissora pública TV Brasil. Ele ainda aproveitou a exposição em um canal de TV aberta, o SBT, para convocar os espectadores para uma "superlive" que fará neste sábado (22), com o jogador Neymar e o senador eleito Sergio Moro (União Brasil).

Entre outros tópicos, Bolsonaro fez as seguintes declarações na entrevista, que durou três blocos:

  • Associou o PT a tentativas de controle da imprensa e disse que Lula "pretende calar as mídias brasileiras"
  • Falou mentiras associadas ao PT que são vetadas pelo TSE em propaganda
  • Chamou de "TV minha" a EBC, gestora da emissora pública TV Brasil
  • Voltou a afirmar que não tentará aumentar o número de vagas no STF
  • Criticou o jornalista William Bonner, da TV Globo, por dizer que Lula "não deve nada à Justiça"

Ataques ao PT. Ao ser perguntado sobre decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra veículos de comunicação, Bolsonaro associou Lula e o PT a tentativas de censura à imprensa. Sem citar nominalmente a rádio Jovem Pan, Bolsonaro lembrou que as medidas do TSE contra a emissora foram tomadas a pedido da sigla de Lula.

"O PT não tem qualquer zelo, qualquer compromisso com a liberdade, haja vista que sempre fala no tocante a controle da mídia. Várias vezes disse que vai controlar vocês da mídia e controlar as mídias sociais", declarou.

Em outro momento da entrevista, ao comentar a situação jurídica de Lula, Bolsonaro afirmou que o ex-presidente não foi inocentado e atacou William Bonner, apresentador da TV Globo, por afirmar que o petista "não deve nada à Justiça", em sabatina com o ex-presidente no Jornal Nacional.

Convite para 'superlive'. Bolsonaro aproveitou suas considerações finais para convidar os espectadores a acompanharem uma "superlive" amanhã. A transmissão, segundo Bolsonaro, terá 22 horas de duração e contará com personalidades políticas, esportivas e religiosas, como Moro, Neymar e o pastor Silas Malafaia. O candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) também deve participar, assim como outros políticos.

Participe, pelo menos no começo, é muito importante, vamos ouvir o Neymar, personalidades do Brasil todo
Jair Bolsonaro (PL), em entrevista ao SBT

Relação com o STF. Bolsonaro voltou a fazer um compromisso que já havia feito no debate com Lula, no último dia 16: que não tentará aumentar o número de ministros do STF. O presidente disse, também, que não voltará a pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, atual presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

"Da minha parte, não pretendo aumentar o número de ministros", disse o presidente. Ele também lembrou que já pediu uma vez o impeachment de Moraes, em agosto de 2021, mas que o processo "não prosperou" devido ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Não é porque os processos foram anulados e voltaram para a primeira instância que ele passou a ser uma pessoa inocentada. Afinal de contas, só acredita em Bonner dizendo que não deve nada à Justiça quem for muito anjo no país
Bolsonaro sobre Lula, na entrevista ao SBT

'EBC minha'. Bolsonaro classificou a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), gestora da emissora pública TV Brasil, como "TV minha". A declaração foi dada quando o presidente respondia a uma pergunta sobre salários de servidores federais.

"Eu peguei essa máquina [pública] inchada. A própria TV minha, a EBC, tinham mais de 1200 pessoas lá, passou para 400, quase tudo por aposentadoria. Nós fizemos o possível", disse.

Mais ministérios. Bolsonaro foi lembrado de que havia projetado, em 2018, ter um governo com apenas 15 ministérios, mas hoje há 23 pastas na Esplanada. O presidente afirmou que a quantia é menor do que nos governos do PT e disse que estuda, para um segundo mandato, recriar três ministérios: da Indústria, Comércio e Serviços, da Pesca e dos Esportes.

Moro. Na última pergunta da entrevista, Bolsonaro foi questionado sobre a reaproximação com Moro, que deixou o Ministério da Justiça em 2020 após acusar o presidente de interferência na PF (Polícia Federal).

Bolsonaro disse que a reaproximação ocorreu porque Moro "mostrou para o Brasil e para o mundo quão entranhada estava a corrupção no Brasil" quando foi o juiz à frente dos processos da operação Lava Jato. O presidente negou, no entanto, que convidou o antigo ministro para voltar ao governo.

Não existe qualquer convite da minha parte e nem ele em querer voltar a ser ministro de qualquer lugar aqui. A Justiça está sendo muito bem conduzida por um delegado da Polícia Federal, que é o Anderson Torres
Jair Bolsonaro (PL), em entrevista ao SBT

Urna eletrônica. Bolsonaro afirmou, após ser perguntado duas vezes sobre o assunto, que respeitará o resultado das eleições se não forem descobertas irregularidades por parte do Exército, que participa da Comissão de Transparência Eleitoral.

O pessoal [Forças Armadas] trabalha, tem trabalhado antes, agora, e vai trabalhar por ocasião do segundo turno também. Se nada for encontrado, você não tem por que duvidar do resultado da urna
Jair Bolsonaro (PL), em entrevista ao SBT

Paulo Guedes. Ao responder à primeira pergunta da noite, sobre economia, Bolsonaro afirmou que não pretende substituir o atual ministro da área, Paulo Guedes, caso seja reeleito. "Paulo Guedes continua, assim como todos os ministros. A não ser que queiram sair por um motivo qualquer, todos permanecerão", disse o presidente.

O presidente reafirmou confiar em Guedes, mas ressaltou que cabe a ele tomar as decisões finais. "A economia está restrita ao Paulo Guedes, obviamente, com todo o respeito a ele, nas questões mais estratégicas, a palavra final é minha. E tem sido assim, sem qualquer atrito entre nós", disse.

Medalha por salvamento. Ao ser questionado sobre políticas para a população negra, Bolsonaro afirmou que seu governo "atende todo mundo", independentemente de raça, e repetiu uma história recorrente para dizer que não é racista.

"Em 1978, um soldado negro, o Celso Negão, sumiu numa lagoa em um campo de instrução do Exército Brasileiro, e eu me atirei na água, e a segunda vez que mergulhei, tirei o Celso Negão de dentro d'água. Se eu fosse racista, por exemplo, ou não se preocupasse com os negros, eu teria deixado morrer afogado", disse.

Bolsonaro afirmou que o salvamento rendeu a ele uma homenagem do Exército, a Medalha do Pacificador com Palma. O presidente omitiu, todavia, que a honraria foi concedida apenas em 2018, após a vitória nas eleições presidenciais, e que foi a pedido do próprio Bolsonaro.

'Cola' na mão. Assim como em outras entrevistas desde a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro apareceu com palavras escritas na palma da mão. A tática, feita para provocar engajamento nas redes sociais, foi utilizada na sabatina do atual presidente para o Jornal Nacional, em agosto, ainda no primeiro turno.

Pelas imagens, porém, não foi possível ler o que estava escrito na mão de Bolsonaro na entrevista de hoje.

Como está a disputa presidencial? As últimas pesquisas apontam que Lula lidera sobre Bolsonaro, mas a diferença entre os candidatos tem encurtado.

A sondagem mais recente do Ipec, publicada no dia 17, aponta que o petista venceria por 54% a 46% nos votos válidos — quando se desconsideram brancos, nulos e indecisos. Em comparação ao levantamento anterior do instituto, divulgado no dia 10, Lula oscilou um ponto para baixo e Bolsonaro um para cima, dentro da margem de erro.

Já o último Datafolha, apresentado no dia 19, aponta Lula com 52% de votos válidos, contra 48% de Bolsonaro. Como a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos, os dois estão tecnicamente empatados.