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Alckmin, França, prefeitos: o que explica otimismo de Haddad na reta final

Fernando Haddad (PT), candidato ao governo de São Paulo, durante ato de campanha em São Bernardo do Campo, em outubro de 2022 - Reprodução/Instagram/diogozacarias_
Fernando Haddad (PT), candidato ao governo de São Paulo, durante ato de campanha em São Bernardo do Campo, em outubro de 2022 Imagem: Reprodução/Instagram/diogozacarias_

Larissa Mauricio

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/10/2022 04h00

Os acontecimentos da última semana de campanha aumentaram o otimismo da equipe de Fernando Haddad (PT) na reta final da eleição para o governo de São Paulo. A equipe do petista está confiante na possibilidade de virada e em uma eventual vitória do ex-prefeito paulistano.

Apesar de verem alguns erros no último debate antes do segundo turno, na quinta-feira (27), aliados de Haddad avaliam que ele se saiu melhor do que o adversário, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos). O empate técnico indicado pela última pesquisa Ipec, divulgada na terça-feira (25), também impulsionou a esperança dos petistas.

Na pesquisa do instituto, contratada pela TV Globo, Tarcísio apareceu com 46% dos votos totais contra 43% de Haddad. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Na avaliação de integrantes da equipe de Haddad, o noticiário negativo para Tarcísio na reta final da campanha pode fazer com que os eleitores indecisos escolham o petista.

Também há bastante confiança de que a participação dos ex-governadores paulistas Márcio França (PSB) e Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em atos com Haddad no interior se converta em votos.

O peso das notícias ruins. Aliados de Fernando Haddad se mostraram confiantes que os eventos negativos dos últimos dias associados a Tarcísio de Freitas arranhem a imagem do candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

"O episódio em Paraisópolis foi emblemático", resumiu Jilmar Tatto, coordenador da campanha de Haddad. No dia 17 de outubro, houve um tiroteio durante uma agenda de Tarcísio no bairro da zona sul de São Paulo.

O caso ganhou mais chances de ser explorado politicamente pelo adversário petista com a divulgação de um áudio de um integrante da campanha de Tarcísio ordenando a um cinegrafista da Jovem Pan que apagasse os registros feitos durante a troca de tiros. O tema foi citado por Haddad no debate da TV Globo.

Para Tatto, o caso mostraria para eleitores como Tarcísio é inadequado para assumir o governo paulista. Ele aproveita o episódio para citar a ideia do candidato adversário de "proibir as câmeras nas lapelas dos policiais —algo que a própria corporação avalia como positivo para a segurança dos agentes", disse o petista.

Toda a repercussão do caso Paraisópolis e seus desdobramentos devem ser o foco de Haddad nessas últimas horas que antecedem o segundo turno, de acordo um membro da campanha.

Outras controvérsias, como as câmeras em policiais militares e a privatização da Sabesp, por exemplo, também devem ser marteladas pelo petista nessa reta final, assim como ele reforçou no debate de quinta-feira —Tarcísio, porém, já tem demonstrado que também pode recuar dessas ideias.

Empate com gostinho de vitória. A leitura de integrantes da campanha de Haddad é que os resultados da Ipec de 25 de outubro anteciparam a virada que está por vir. Os dados foram considerados surpreendentes e indicaram que o apoio do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), a Tarcísio não saiu como o esperado pelos adversários.

Análises internas do PT antes de a Ipec ser divulgada mostrava Haddad cinco pontos atrás de Tarcísio, logo, os dados da pesquisa foram mais positivos do que a equipe de Haddad esperava.

O empate técnico inflou o otimismo dos petistas, que sofreram um grande baque com a ida de Haddad para o segundo turno em segundo lugar —ele havia passado o primeiro turno todo na liderança das pesquisas.

"Se ele não ganhar, chegará ao final do segundo turno com uma votação expressiva e superior ao que se imaginava", disse um integrante da equipe do ex-prefeito. "Acreditamos na virada e devemos assumir a liderança, pois já temos trackings [pesquisas internas] que mostram um ponto percentual de diferença", apontou outro.

Desbravando territórios bolsonaristas com Alckmin e França. A agenda da última semana de campanha apostou em uma última investida para conquistar o eleitorado do interior paulista. Na terça-feira (25), Haddad fez ato com aliados em Ribeirão Preto —cidade que, assim como a maioria das outras do interior, deu vitória a Tarcísio no primeiro turno.

Jilmar Tatto esteve com o petista na viagem e disse que havia "clima de virada" entre os eleitores presentes. "Teremos uma votação muito expressiva do Haddad no interior, não só nas cidades grandes como Ribeirão Preto, mas também nas médias e pequenas", prospectou. "Ele conseguiu furar a bolha bolsonarista [da região]", disse acreditar Tatto.

Quem ajudou Haddad a "furar a bolha" no interior foram os ex-governadores paulistas Márcio França e Geraldo Alckmin. Integrantes da campanha não negam a importância da participação deles em muitos atos com o petista.

"Eles ajudaram a mostrar que o Haddad é mais amplo do que o PT. É muito importante o apoio deles para mostrar isso", disse Tatto.

A leitura da campanha é que duas figuras com a força que França e Alckmin têm no interior ajudam a convencer tanto os eleitores indecisos quanto os que votaram em Rodrigo Garcia no primeiro turno.

Aproximação dos prefeitos. O conhecimento dos ex-governadores pode ajudar a trazer outros aliados: os prefeitos do interior paulista. Jilmar Tatto, porém, minimizou a importância desse apoio. Segundo ele, "eleitor não obedece prefeito" na escolha do governador, mas sim de deputado ou vereador.

"A campanha está tão polarizada e nacionalizada, e São Paulo é tão grande, que às vezes o apoio do prefeito [a um candidato ao governo] não faz diferença nenhuma", afirmou.

A cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) discorda. Ela explica que os governos do PSDB em São Paulo formaram uma grande rede de apoio baseada nos gestores municipais.

"Com a transferência de apoio do PSDB para os candidatos do bolsonarismo, os prefeitos também acabam apoiando o Tarcísio. Por isso, vai ser muito importante o apoio dos prefeitos [para uma eventual vitória de Haddad]", disse, acrescentando que França e Alckmin ajudaram a trazer aliados locais para o PT.

"Alckmin tem maior tradição no interior [do que França], pois herdou o apoio do Mário Covas [governador de São Paulo entre 1995 e 2001, ano em que faleceu e foi sucedido por Alckmin]", explicou. "Ele é a face pública da vinculação [do governo do estado] com os prefeitos, pois os gestores mais antigos têm a memória do governo dele e, provavelmente, devem influenciar para conquistar apoio para o Haddad."

Apesar de um eventual apoio dos prefeitos ao petista, Maria do Socorro avalia que ainda é cedo para decretar vitória. "O otimismo da campanha é importante porque afeta o eleitorado com a ideia da virada, ainda mais quando a expectativa era do Haddad ir para o segundo turno em primeiro lugar", apontou.

"Os últimos eventos podem afetar as duas campanhas. A do Haddad, por exemplo, pode se influenciar com o resultado em nível nacional [caso o Lula vença]. Aqui o reflexo é muito forte: o que acontece no nacional, acontece em São Paulo", disse.