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Campanha que combate armas nucleares ganha Nobel da Paz 2017

Do UOL, em São Paulo

06/10/2017 06h04Atualizada em 06/10/2017 13h13

A "Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares" (Ican, na sigla em inglês) ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2017, anunciado nesta sexta-feira (6) em Oslo, na Noruega.

"A organização recebe o prêmio por seu trabalho para chamar a atenção sobre as consequências humanitárias catastróficas do uso de armas nucleares e por seus esforços pioneiros para obter um tratado de proibição destas armas", afirmou a presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen.

O Comitê destacou que as potências nucleares devem iniciar "negociações sérias" de desarmamento.

"O Prêmio da Paz deste ano é também um apelo para que estes Estados iniciem negociações sérias destinadas à eliminação gradual, equilibrada e cuidadosamente supervisionadas das quase 15.000 armas nucleares que existem no mundo", disse Berit Reiss-Andersen.

O Ican é um grupo global com sede em Genebra que trabalha na promoção para a adesão e completa implementação do Tratado de Proibição de Armas Nucleares. A campanha foi lançada em 2007 e conta hoje com 468 organizações parceiras em 101 países. O tratado é o primeiro acordo internacional juridicamente vinculativo a proibir de forma abrangente as armas nucleares.

A organização, que tem um orçamento anual de US$ 1,2 milhão, funciona graças às ajudas financeiras de vários governos, como Noruega, Suíça, Holanda, Alemanha ou a Santa Sé, assim como de doadores privados, da União Europeia e várias fundações.

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A declaração do Comitê do Nobel diz que "através do seu apoio inspirador e inovador às negociações da ONU sobre um tratado que proíbe armas nucleares, a ICAN desempenhou um papel importante para conseguir o que nos nossos dias é equivalente a um congresso internacional de paz ".

Questionado pelos jornalistas se o prêmio era essencialmente simbólico, em um período de tensões crescentes com a ameaça nuclear representada pela Coreia do Norte, além de que não foram alcançadas medidas internacionais contra armas nucleares, Reiss-Andersen disse que "o que não terá impacto é ser passivo".

A escolha do Comitê do Nobel equivale a um alerta para os nove países que possuem arsenal nuclear no mundo. Todos boicotaram as negociações para o tratado -- alcançado em julho nas Nações Unidas.

O tratado foi votado por 122 países na sede da ONU, em Nova York, após meses de negociação e com forte oposição dos países nucleares e seus aliados. Todos os países que têm armas nucleares e muitos outros que estão sob sua proteção ou hospedam armas em seu solo boicotaram as negociações.

O Tratado Global para Proibir as Armas Nucleares foi aberto para assinaturas no dia 20 de setembro e entrará em vigor 90 dias depois que 50 países - dos 122 que o votaram - o ratifiquem.

"Arma nuclear é inaceitável"

A diretora da campanha antinuclear disse que o Nobel da Paz deste ano envia uma mensagem para todos os Estados armados com armas nucleares e para todos os Estados que continuam a depender de armas nucleares para a segurança que este é um comportamento inaceitável". A coalizão de organizações Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (ICAN) venceu o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho para estimular a proibição das armas atômicas.

Beatrice Fihn, diretora-executiva da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares, disse que "nós podemos ameaçar matar indiscriminadamente centenas de milhares de civis em nome da segurança. Não é assim que se constrói a segurança".

Fihn disse que o grupo recebeu um telefonema minutos antes do anúncio oficial do Nobel da Paz. No entanto, ela disse que achou que era uma "pegadinha" e que ela não acreditou até ouvir o nome do grupo durante o anúncio em Oslo.

Neste ano, 318 personalidades e organizações foram propostas para receber o prêmio. Na lista deste ano estavam todos os "Capacetes Brancos" sírios, o médico congolês Denis Mukwege, o blogueiro saudita preso Raef Badaui, e o americano Edward Snowden, que revelou a amplitude da vigilância maciça das agências americana.

Como nos tempos de George W. Bush, Donald Trump, que troca há semanas ameaças com o líder norte-coreano, foi sugerido por um compatriota, cuja identidade não foi revelada, que deseja que sua "ideologia de paz pela força" seja reconhecida.

A identidade dos candidatos não é divulgada, mas aqueles que se apresentam ao comitê -legisladores e ministros de todos os países, ex-premiados, professores universitários- podem revelar o nome de seu candidato.

O prêmio consiste em uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de nove milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,1 milhão), será entregue em Oslo no dia 10 de dezembro, data do aniversário da morte de seu fundador, o inventor e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896).

No ano passado, o prêmio foi entregue ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos, por seus esforços na busca de um acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).