Agência relata protestos contra líderes no Irã por queda de avião
A agência de notícias Fars do Irã, em um raro relato sobre distúrbios antigovernamentais, disse que manifestantes em Teerã entoaram cantos contra as principais autoridades do país hoje, depois que a Guarda Revolucionária admitiu ter abatido por engano o Boeing 737 da Ukraine International Airlines. Todos os 176 passageiros presentes no avião morreram.
O relato diz que os manifestantes também rasgaram fotos de Qassim Suleimani, o proeminente comandante da Força Quds da Guarda que foi morto em um ataque de drone pelos Estados Unidos.
A agência Fars, amplamente vista como próxima aos guardas, mostrou fotos do protesto e uma faixa rasgada de Suleimani. A organização disse que os manifestantes eram de 700 a mil pessoas.
Já o jornal The New York Times, por meio de vídeos publicados no Twitter, destaca que manifestações convocadas para lamentar a morte dos passageiros se transformaram em protesto contra o governo, incluindo o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, .
O jornal americano ainda registra gritos de "morte aos mentirosos" e "morte ao ditador".
Trump afirma que acompanha protestos
O presidente norte-americano, Donald Trump, não comentou sobre o fato de o Irã ter admitido responsabilidade na derrubada do avião ucrianiano, mas usou o Twitter para falar sobre os protestos que irromperam em Teerã.
"O governo do Irã deve admitir que grupos de direitos humanos monitorem e relatem fatos in loco sobre os protestos que o povo iraniano está realizando. Não pode haver outro massacre de manifestantes pacíficos nem a internet ser derrubada. O mundo está assistindo", disse Trump.
O mandatário disse que está ao lado do povo americano e que acompanha os protestos "de perto" e que "é inspirado pela coragem" dos manifestantes.
"Eu estive ao lado de vocês desde o começo da minha presidência, e a minha administração continuará ao seu lado", tuitou Trump.
Embaixador britânico é preso
O embaixador britânico no Irã, Robert Macaire, foi preso em Teerã de acordo com agências de notícias iranianas. Segundo a agência de notícias Tasnim, Macaire ficou sob a custódia de autoridades iranianas por várias horas antes de ser solto.
O diplomata de 53 anos teria sido acusado de incitar protestos na Universidade Amir Akabir onde milhares de pessoas se manifestavam após a derrubada do avião.
Admissão
Segundo Teerã, a catástrofe foi provocada por um "erro humano", mas sua origem foi o "aventureirismo" dos Estados Unidos. O Irã pediu desculpas pelo incidente. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky exigiu a punição dos culpados e indenizações iranianas pela tragédia.
A aeronave, no qual viajavam 176 pessoas, foi identificada como um "avião hostil" e "atingido" no momento em que a ameaça inimiga se encontrava "no mais alto nível", revelou um comunicado divulgado pela agência oficial de notícias Irna.
O presidente iraniano, Hassan Rohani, declarou que seu país "lamenta profundamente" o incidente, que chamou de "grande tragédia" e "erro imperdoável".
A investigação interna das Forças Armadas concluiu que, lamentavelmente, mísseis lançados por um erro humano causaram o horrível impacto no avião e a morte de 176 inocentes.
Hassan Rohani, presidente do Irã
A maioria das vítimas era iraniana e canadense, mas também havia britânicos, suecos e ucranianos a bordo. O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, exigiu transparência nas investigações e "justiça para as famílias e entes queridos das vítimas".
Já o general iraniano Amirali Hajizadeh disse que sua unidade assume "total responsabilidade" sobre o ataque ao avião ucraniano, que teria sido confundido com uma aeronave hostil ao país. Ele afirmou em pronunciamento transmitido pela televisão estatal que, ao saber do abate, desejou que ele próprio tivesse morrido. "Preferia estar morto a testemunhar um acidente semelhante."
O ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, também se manifestou sobre a catástrofe.
"É um dia triste", escreveu Zarif no Twitter, citando um "erro humano em tempos de crise causada pelo aventureirismo dos americanos. Nosso profundo arrependimento, desculpas e condolências ao nosso povo, às famílias de todas as vítimas e às outras nações afetadas".
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, pediu admissão de culpa total por parte do país, além do pagamento de indenizações.
Esta manhã não foi boa, mas trouxe a verdade. Esperamos do Irã garantias de prontidão para uma investigação completa e aberta, levando os autores à justiça, devolvendo os corpos dos mortos, pagamento de compensações, desculpas oficiais por canais diplomáticos.
Volodymyr Zelenskiy, presidente da Ucrânia
Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Holanda já haviam antecipado que a queda era resultado de um míssil iraniano, e vídeos neste sentido foram publicados nas redes sociais. O jornal The New York Times mostrou um vídeo explodindo durante o voo.
* Com informações da Reuters
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