Rússia ataca Câmara de Kharkiv, avança pela Ucrânia e diz controlar Kherson
O sétimo dia da invasão da Rússia à Ucrânia começou sob fortes ataques russos, principalmente em Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana, no leste do país, com registro de mortes. A câmara municipal da cidade foi alvo recente de um bombardeio. Em Kiev, a capital ucraniana, a tensão aumenta.
O prefeito de Kherson, cidade ucraniana perto da península da Crimeia, confirmou, hoje, que a Rússia tomou o controle do município. Essa é a primeira grande cidade - cerca de 300 mil habitantes - que os russos dominam desde o início da guerra. "Não há exército ucraniano aqui", disse o prefeito em entrevista, segundo o New York Times. "A cidade está cercada."
Mais cedo, as forças do presidente russo, Vladimir Putin, já haviam dito ter tomado o controle da cidade de Kherson. Porém, autoridades ucranianas negaram.
É o primeiro centro de porte razoável que Putin terá tomado em sua campanha, iniciada na madrugada do dia 24. Com 300 mil habitantes antes da guerra, é o principal ponto ao norte da península da Crimeia, anexada sem conflito pelo presidente russo em 2014.
A estratégia militar russa tem sido fechar o cerco contra o Exército ucraniano nas regiões sul e leste do país, mais próximas de suas fronteiras, por onde pode encaminhar tropas e equipamentos posicionados na Crimeia e na região separatista do Donbass.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 835 mil pessoas já fugiram da Ucrânia em razão do conflito.
Novos ataques em Kharkiv
A Câmara Municipal de Kharkiv, no leste da Ucrânia, foi atingida por mísseis hoje. Segundo o serviço de emergências do país, outros prédios também foram atacados pela Rússia.
Mais cedo, o exército ucraniano informou que tropas aerotransportadas russas, com paraquedistas, desembarcaram na madrugada de hoje em Kharkiv.
"Combates estão ocorrendo entre invasores e ucranianos", informou o exército pelo Telegram. Soldados russos atacaram um centro médico militar na cidade. A sede da polícia também foi destruída, atingida por mísseis, segundo informações do governo ucraniano. Ao menos quatro policiais morreram, segundo autoridades ucranianas.
Kharkiv, a segunda maior cidade ucraniana com 1,4 milhão de habitantes e próxima à fronteira com a Rússia, sofreu bombardeios na véspera.
"Praticamente não restam áreas em Kharkiv que não foram atingidas por projéteis de artilharia", afirmou um assessor do ministério do Interior, Anton Gerashchenko.
Russos em Kherson
"As divisões russas das Forças Armadas tomaram o controle total do centro regional de Kherson", afirmou o porta-voz do ministério da Defesa, Igor Konashenkov. Ontem, o exército russo já estava instalando pontos de controle na entrada da cidade.
Em mensagem publicada em canal no Telegram, a Administração Regional de Kherson comentou sobre os "tiros e explosões" que foram registrados ao longo da madrugada, mas diz que a cidade foi cercada, não tomada. "Todos vocês sabem que a cidade está completamente cercada pelo inimigo."
A mensagem também diz que "os invasores também saquearam muitas farmácias e lojas". "Agora estamos trabalhando na informação, questões humanitárias, em particular, a restauração de água e eletricidade na cidade".
Prefeito de Kherson, Ihor Kolykhaev fez um apelo para que haja um "corredor verde" para a remoção dos feridos e dos mortos, trazendo remédios e alimentos para a cidade. "Sem tudo isso, a cidade perecerá", escreveu o prefeito em uma mensagem nas redes sociais. "Ajude Kherson a ter a oportunidade de salvar seu povo de um desastre humanitário iminente."
Além de reivindicar o controle de Kherson, o exército russo afirmou que, na terça-feira (1º), conseguiu estabelecer contato entre as tropas que avançam da anexada península da Crimeia e as milícias dos separatistas pró-Rússia da região de Donbass, uma informação que não foi possível confirmar, mas que representaria uma conquista estratégica para suas forças.
No meio dos dois territórios resiste a cidade portuária de Mariupol, que ficou sem energia elétrica após bombardeios que, segundo o prefeito, deixaram mais de 100 feridos.
Alerta
Pelo país, sirenes de alerta foram acionadas em várias cidades —inclusive a capital, Kiev, e também Kharkiv—, com moradores buscando refúgio em abrigos, segundo a mídia local.
De acordo com o jornal The Kyiv Independent, o Estado-Maior Geral das Forças Armadas da Ucrânia disse que as forças russas estão tentando avançar em todas as direções, mas encontram resistência dos militares ucranianos em todos os lugares e estão sofrendo perdas.
A imprensa ucraniana informou novas explosões durante a noite na capital e em Bila Tserkva, 80 quilômetros ao sul. Além disso, o serviço de emergências informou sobre um bombardeio em áreas residenciais de Yitomir —área com 266.000 habitantes—, a oeste de Kiev, com dois mortos e três feridos.
Em Mykolaiv, no sul do país, autoridades locais determinaram toque de recolher em razão da tentativa russa de desembarcar tropas no entorno da cidade. Em Enerhodar, na mesma região do país, moradores bloquearam estradas para impedir o avanço de russos na área que abriga uma usina nuclear. Há também ataques a Lysychansk —onde uma torre de televisão foi atingida— e Severodonetsk, no leste do país.
Ministro do Interior ucraniano, Denys Monastyrsky disse que "o governo já criou um centro coordenador para o fornecimento de alimentos, água, medicamentos e combustível". "Estamos organizando a transferência de bens humanitários para as cidades mais necessitadas." A Ucrânia também diz ter começado um movimento ofensivo contra forças russas.
Kiev em atenção
Autoridades de Kiev divulgaram mensagens, nesta quarta (2), alertando que "o inimigo está reunindo forças mais perto da capital", citando ataques a uma igreja e combates em cidades próximas, como Bucha e Gostomel.
As autoridades dizem que estão se preparando e que defenderão Kiev, e pedem para que os cidadãos "não percam a resistência". Elas relembram que a cidade tem toque de recolher entre 20h e 7h, e que "a infraestrutura crítica da capital está funcionando". Em meio à tensão, o embaixador brasileiro deixou Kiev.
O exército ucraniano alertou para manobras das tropas invasoras para cercar e atacar as principais cidades do país, incluindo Kiev, para onde se dirige um enorme comboio de veículos e armamentos russos, segundo imagens de satélite.
A coluna de tanques e caminhões está paralisada há três dias por falta de combustível e de alimentos para as tropas, estimam vários estrategistas militares ocidentais.
Zhytomyr
Um ataque aéreo também foi relatado da cidade ucraniana de Zhytomyr. Mísseis de cruzeiro russos danificaram vários edifícios, incluindo um hospital, informou a agência de notícias Unian.
Segundo o Serviço de Emergência da Ucrânia, ao menos três pessoas morreram no ataque. Outras 16 ficaram feridas. O serviço indica que 12 pessoas foram resgatadas, incluindo 6 crianças, que foram encontradas nos porões de casas particulares em ruínas.
Segundo as autoridades, duas pessoas morreram e dez ficaram feridas. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostraram casas em chamas e equipes de resgate. Zhytomyr fica a cerca de 140 quilômetros a oeste de Kiev. A região da capital também tem registros de residências bombardeadas, segundo o serviço de emergência da Ucrânia.
Zelensky critica neutralidade
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, divulgou uma mensagem hoje pedindo para que os países que até agora permaneceram neutros no conflito para que tomem uma posição contra a Rússia. "Agora não se pode permanecer neutro", disse o presidente em vídeo.
"Nossos diplomatas e nossos amigos estão unindo o mundo pelo bem da Ucrânia e do mundo ainda mais. A Suíça neutra apoiou sanções da União Europeia. E contra oligarcas russos, funcionários, contra o Estado e as empresas. Mais uma vez: Suíça neutra! O que são então alguns outros países esperando?", comentou Zelensky. "Aqueles países com os quais Moscou contava há uma semana se juntaram à nossa coalizão antiguerra. Este é um resultado extraordinário."
O Brasil tem assumido uma posição de neutralidade, como já declarou o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), que é próximo do líder russo, Vladimir Putin. O México também não adotará sanções à Rússia.
Para o presidente ucraniano, a Rússia quer "apagar" seu país e sua história. "Eles têm a ordem de apagar nossa história, apagar nosso país, apagar todos nós."
Atenção em Belarus
Para Kiev, um novo perigo se aproxima do norte, em Belarus, aliada de Moscou, que ordenou a mobilização de tropas adicionais na fronteira com a Ucrânia.
Segundo o ministério da Defesa ucraniano, estas tropas poderia "respaldar no futuro os invasores russos".
Delegações de Ucrânia e Rússia tiveram um encontro em Belarus na última segunda-feira (28). Os russos falam em um novo encontro hoje, mas os ucranianos ainda não deram uma confirmação. Segundo o ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que ainda não se sabe quando as negociações irão acontecer.
"Estamos prontos para as negociações, estamos prontos para a diplomacia, mas de forma alguma estamos prontos para aceitar qualquer ultimato russo", disse Kuleba.
(Com RFI, DW, Reuters e AFP)
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.