Ucrânia diz que Rússia impede saída de civis ao bombardear Kiev e Mariupol
A Ucrânia diz que a Rússia interrompeu, mais uma vez, o acordo de cessar-fogo para a retirada de civis de áreas de conflito. O governo de Volodymyr Zelensky acusa o Exército russo de bombardear as cidades de Kiev e Mariupol mesmo após a promessa de corredores humanitários na manhã de hoje.
Autoridades de Kiev e do Kremlin trocam acusações. Um representante do governo da Rússia que participa do diálogo com a Ucrânia culpou nacionalistas ucranianos de impedir a saída de civis. Em entrevista a um canal de TV russo, Vladimir Medinski afirmou que a abertura de corredores humanitários será novamente discutida durante a rodada de negociações, que acontece hoje.
"Os nacionalistas que assumiram posições nas cidades continuam mantendo civis nas localidades e os usam, direta e indiretamente, inclusive como escudos humanos, o que é claramente um crime de guerra", acrescentou Medinsk.
As Forças Armadas russas continuam a lançar mísseis e bombardeios em Kiev, Mariupol, Volnovakha, Sumy, Mykolaiv, Kharkiv e outros assentamentos, impossibilitando a saída segura de comboios humanitários, bem como a entrega de medicamentos e alimentos.
Comunicado do governo da Ucrânia
É a terceira tentativa de cessar-fogo para a retirada de civis de áreas de conflito. No fim de semana, autoridades locais e da Rússia fizeram dois acordos para a criação de corredores humanitários. Ambos falharam.
Nesta manhã, a Rússia liberou seis corredores humanitários para a retirada de moradores de Kiev, Mariupol, Kharkiv e Sumy . A maioria das rotas tem como destino a Rússia ou Belarus, além de duas cidades ucranianas. Autoridades da Ucrânia dizem que a proposta é "inaceitável".
A medida do governo russo exclui a Polônia e Hungria, os principais destinos para refugiados da Ucrânia. Mais de 1,5 milhão de pessoas deixaram o país desde o início da invasão russa, no dia 24 de fevereiro, informou a ONU (Organização das Nações Unidas).
Segundo o porta-voz da Rússia, Igor Konashenkovdiz, a Ucrânia recebeu as informações sobre os corredores humanitários com antecedência. Veja as rotas:
- De Kiev para Gomel, em Belarus;
- De Mariupol para Zaparozhye, na Ucrânia;
- De Mariupol para Rostov-on-Don, na Rússia;
- De Kharkiv para Belgorod, na Rússia;
- De Sumy para Belgorod,
- De Sumy para Poltava, na Ucrânia.
Por volta das 13h20 no horário local (8h20 em Brasília), o chefe da Administração Regional de Sumy, Dmytro Zhyvytskyi, alertou moradores de que ainda não há corredores humanitários na região.
No momento não há corredores humanitários da região de Sumy. Eles estão sendo preparados e serão principalmente para crianças, mulheres, idosos e pessoas que precisam de cuidados médicos.
Comunicado do chefe da Administração Regional de Sumy, Dmytro Zhyvytskyi
Zhyvytskyi diz que, assim que houver acordos e detalhes, as informações serão repassadas por autoridades de Sumy. "Não acredite em notícias falsas", ressaltou em referência aos anúncios do governo da Rússia.
O Ministério da Defesa ucraniano divulgou nota afirmando que a proposta de corredores humanitários direcionados à própria Rússia ou Belarus é uma tentativa de montar um "escudo vivo", além de comparar a ideia com o que foi feito pelos nazistas. "Tais ações não têm nada a ver com medidas humanitárias reais. Eles visam apenas desdobrar ainda mais o conflito sangrento que já matou milhares de pessoas. Para os cidadãos ucranianos, esse 'corredor' pode se tornar um verdadeiro corredor para o inferno. Lembremos que a prática de deportação forçada de pessoas dos territórios ocupados foi amplamente utilizada pela Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial."
Especialistas dizem que corredores são 'propaganda' de Putin
Para especialistas, os corredores humanitários anunciados hoje pela Rússia têm um "grau de propaganda".
Segundo o analista de segurança e defesa da emissora Sky News, Michael Clarke, o plano da Rússia para a retirada de civis da Ucrânia "não parece muito realista" porque foi desenhados para levar ucranianos em direção à Rússia e Belarus, uma aliada de Putin.
"A ideia de que os civis sob bombardeio russo devem ser evacuados para a Rússia ou para a Belarus claramente não está sendo aceita pelo lado ucraniano", afirmou a editora de segurança e defesa da Sky News, Deborah Haynes, que está na cidade de Lviv.
Ela acrescentou que o governo russo considera que imagens de refugiados fugindo para a Rússia "podem ser uma benção de propaganda para Vladimir Putin".
A medida de abertura de corredores humanitários foi tomada após um pedido do presidente francês Emmanuel Macron. Nas redes sociais, Macron diz que conversou com o russo Vladimir Putin e pediu que um cessar-fogo seja a prioridade.
Cessar-fogo fracassados em Mariupol
No fim de semana, autoridades locais e da Rússia fizeram duas tentativas para negociar o cessar-fogo no distrito de Mariupol, mas os acordos foram interrompidos após registros de ataques nas áreas que deveriam ser seguras para a passagem de civis.
Sem energia elétrica, alimentos, água, gás e transportes, Mariupol é um dos locais mais afetados pela ofensiva da Rússia. O prefeito diz que a cidade está submetida a um bloqueio por militares russos.
As cidades de Kiev, Kharkiv e Sumy também sofrem com bombardeios russos. Em comunicado na manhã de hoje, o ministro da Defesa da Ucrânia, Alexei Reznikov, afirmou que a Rússia prepara uma nova onda de ataques contra a capital Kiev, Kharkiv e Chernihiv.
Segundo ele, as tropas russas também tentam "sufocar" a cidade de Mariupol com uma crise humanitária.
Ontem, o dia foi marcado pela intensificação dos ataques em áreas cada vez mais próximas à capital Kiev.
Ucrânia diz que proposta da Rússia é 'inaceitável'
Membros do governo da Ucrânia criticaram a nova proposta da Rússia. Em pronunciamento, a ministra de Territórios Ocupados da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, afirmou que o envio de civis para a Rússia e Belarus é "absurdo, cínico e inaceitável".
Apelo a todo o mundo civilizado para pressionar a Rússia. Precisamos de corredores humanitários. Civis ucranianos e estrangeiros devem ser removidos.
Ministra de Territórios Ocupados da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, nas redes sociais
Um porta-voz do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, afirmou que a medida é "completamente imoral" e diz que a Rússia está tentando "usar o sofrimento das pessoas para criar uma imagem de televisão".
*Com informações de AFP
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